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Aramis

O canto do Paraná (III)

QUANDO o numeroso júri do festival "Todos os Cantos" (teatro Guaíra), hoje 21 horas, encerramento) reuniu-se para selecionar na noite de sexta-feira, seis das doze finalistas de hoje à noite (as outras seis foram escolhidas ontem) se não houve unanimidade, existiu ao menos um consenso. Realmente, as canções escolhidas para disputarem a finalíssima - e já com ingresso garantindo no elepê a ser gravado em janeiro, no Audisom, apresentam um nível d bom para cima. Como é impossível prever agora, ainda no sábado, antes do espetáculo da noite, os resultados finais - e cujo comentário ficará para terça-feira, ao menos algumas anotações sobre as seis músicas classificadas para a finalíssima. "De Igual para Igual", autoria e interpretada por Rubens Neves, é um bolero que embora numa estrutura convencional tem o esquema gostoso, romântico, balançante deste gênero injustamente marginalizado. Tendo participado de duas eliminatórias no Interior - classificando-se em Londrina, "De Igual para Igual" devolve a simplicidade a música e revela em Rubens Neves não apenas um bom autor, mas um intérprete seguro e afinado - embora com uma timidez interiorana. "Sertão Só", do trio Marcos Rocha, Carlos Alberto Oliva e Paulo Fernandes, classificado na etapa de Ponta Grossa, é uma composição de nível, letra trabalhada - e que revelou, até agora, a melhor intérprete do festival: a garota Gisele, com uma voz privilegiadíssima e um visual excelente. Além de saber colocar emoção ao cantar. "Caravana", de José Fábio Cacaco e José Feliciano Filho, de Londrina, tem também muito ritmo e foi valorizado pela vocalização de um grupo afinado - que hoje a noite deverá puxar uma boa torcida. Mas é "Amigo Violão", em nosso entender (pessoal, bem entendido), a composição que reúne, até agora, as melhores possibilidades de uma boa classificação privilegiada. Provando uma velha verdade - e que sempre defendemos, Carlos Ribeiro (Branco) e Celso Teixeira, com extraordinária simplicidade, mas uma poesia pura e brasileira, dedicam uma ode ao violão, acrescentando esta canção - independente da classificação que venha a obter hoje, na musicografia dedicada a este instrumento - onde se destacam obras-primas de Silvio Caldas e do grande Cartola ("Cordas de Aço"). Já na primeira estrofe está presente a pura poesia brasileira ("Oi, amigo violão, preciso lhe falar/Pois toda a minha dor, não tenho a quem contar/E só restou você, pra mim desabafar"). Enfim, uma música de alto nível, de emoção imensa e com um ritmo que transmite a todo o público de sensibilidade. "Campos e Quintais", de Celso Locker (Pirata) e Sérgio Maluf, também classificada na etapa de Ponta Grossa, tem uma letra onde mais uma vez, Maluf mostra sua competência em lidar com as palavras, sugerindo imagens pastorais ("Quero tudo aquilo que o Sol me dá/Um dia tranqüilo para caminhar/Relvas, ervas, verdes campos e quintais/Rosas, reses, rimas revelando a paz"). E finalmente a presença de um dos mais populares e estimados personagens do Carnaval curitibano, o cinqüentenário Chocolate (Mansuedem dos Santos Prudente), que há mais de 40 anos não deixa de sair no Carnaval da cidade. Poeta do povo, harmonias felizes. Chocolate retocou o samba-de-enredo que havia criado no ano passado, em homenagem a Leila Diniz (1941-1972) e com "Leila para sempre Diniz" é uma presença sentimental e alegre dentro do Festival. Das 12 músicas apresentadas na sexta-feira, outras também trouxeram valores, mas como é necessário existir uma seleção, ponderou, democraticamente, a votação do júri. Que pela expressão dos nomes que o compõe - letristas, compositores, cantores, instrumentistas, produtores fonográficos, jornalistas, etc. - tem uma visão eclética e que possibilitará, justiça na decisão final. Hoje, já com as 12 finalíssimas - e por certo uma torcida aguerrida de cada concorrente - teremos o resultado final. Que vençam as melhores e que o povo as cante!
Texto de Aramis Millarch, publicado originalmente em:
Estado do Paraná
Nenhum
Tablóide
9
14/12/1980

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