O canto dos poetas
Artigo de Aramis Millarch originalmente publicado em 09 de março de 1977
Na tranqüilidade da Lagoa da Conceição, em Florianópolis - que trocou pela paradisíaca Antonina, onde residia há anos, o escritor Wilson Galvão do Rio Appa está revendo os originais de três novos livros, programados pela Editora Brasileira até o final de junho. Fazem parte da trilogia "Os Vivos e os Mortos" e os títulos dos volumes são os seguintes: "O povo do mar e dos ventos antigos", "O santo da ilha na guerra dos rumos" e "O grito do mundo na pássaro cego".
Homem de muitas histórias e experiências, entusiasta da vida ao ar livre e defensor da natureza há mais de 25 anos - numa época em que a ecologia não era tema de consumo - Wilson Rio Appa publicou em 1952 o seu primeiro livro, o estranho "Um menino contemplava o rio" e a partir de então, com maior ou menor regularidade, vem lançado novelas, livros para a juventude e peças teatrais. Já dirigiu muitos espetáculos mas hoje volta-se ao teatro popular, sem texto, tendo realizado por dois anos montagens de Paixão de Cristo na localidade de Alexandra, que a partir de 1976 transformou-se em atração turística para a abandonada povoação. Este ano Rio Appa está enfrentando problemas e talvez não venha a fazer a montagem.
"Estou sendo perseguido", lamenta o intelectual.
A poesia, apesar de seus coveiros, não morreu. E há muitos bardos jovens sacrificando suas mesadas para verem em letras de forma os seus versos. Como João Bosquo e Luis Edson Fachin que juntaram lirismo e seus trocados para editar um livro a quatro mãos: "Abaixo Assinado" (40 poemas, Cr$ 20,00), que estão vendendo pelo reembolso postal (Rua Benjamin Constante, 242, apartamento 56). Luis Edson, estudante de direito, anteriormente já financiou a edição de dois outros livros - "Você" e "Sinto, logo existo" e João Bosquo (não confundir com o compositor João Bosco) é estreante em livro. Se conseguirem vender "Abaixo Assinado" o suficiente para pagar o custo, vão investir na edição de uma revista chamada "Texto", destinada ao autor novo/ marginal em ficção, poemas, HQ, etc".
Mas não só os jovens fazem poesias. O velho advogado Manoel Thomaz Pereira, preocupado com os males que o fumo causa, acabou escrevendo algumas trovinhas, antecedida de um imaginário diálogo com o diabo tentando convencer um ex-fumante a voltar ao vício. O sr. Thomaz Pereira enviou-nos as suas trovas, onde diz coisas assim.
O tabaco é tentação
Plantado pelo Diabo
causa câncer no pulmão
quer no pobre ou nabababo
Dor de peito ou coração
dá-se a isso menoscabo;
mas é o tabaco em ação
- É o demo queimando o rabo...
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