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Aramis

O charme e o bom humor de Roman Polanski

Rio de Janeiro - Inteligência, bom humor, charme. Três adjetivações para Roman Polanski, transmitidas nesta sua quinta vinda ao Brasil, para promover a estréia de "Busca Frenética" (lançamento nacional nesta quinta-feira em Curitiba, Cine Bristol) - que já rendeu 60 milhões de dólares - o suficiente para compensar o prejuízo que teve com "Os Piratas", realizado em 1986 e que fracassou tanto nas bilheterias - lá fora e aqui - que até agora só foi lançado no Brasil no eixo Rio-São Paulo (e em vídeo, mas também com pouca procura). Durante entrevista coletiva, na tarde de sexta-feira, na sala Vendôme (Hotel Meredien, Rio), quando duas jornalistas jovens insistiam em conversar, Polanski parou a resposta que estava dando e, dirigindo-se as faladeiras, na melhor maneira de um mestre-escola, disse: - "Se eu estiver atrapalhando a conversa, eu paro". Mais tarde, quando um cinéfilo (que não é jornalista), Téo de Alcântara Gomes Filho, 16 anos, insistiu em alongar a pergunta sobre as razões pelas quais a trilha de Ennio Morricone (recém-editada no Brasil pela WEA) inclui, cinco vezes, a mesma canção na voz de Grace Jones, Polanski fez um happening: mergulhou na cadeira, como se tivesse sido atingido por uma bala, transmitindo seu cansaço. Entretanto, acabou dando a explicação: a canção é uma referência à filha adolescente do personagem Richard Walker (Harrison Ford), "possivelmente com a mesma idade da personagem Michelle, interpretada por Emmanuelle Seigner, com quem se envolve na trama de "Frantic", uma "insight joke" - ou piada (citação, seria melhor dizendo) particular, assim como é a utilização da imagem da própria Emmanuelle na foto familiar, que Walker entrega aos policiais de Paris, quando sua esposa, Sondra (Betty Buckley) é raptada, logo no início do filme. Mais uma dica para quem for assistir "Busca Frenética": Polanski aparece de costas numa rapidíssima cena, como um motorista de táxi. Antes que alguém fosse lembrar que isto seria mais uma referência a Alfred Hitchcock - que ele admira e com cujos filmes especialmente "O Homem que Sabia Demais" (1956) são feitas comparações deste seu "thriller", explica: - "Na verdade, o que apareceu foi minha nuca. E porque o motorista de táxi contratado pela produção estava sempre parando no local errado. Para evitar que se perdesse mais tempo, eu mesmo peguei a direção - e assim só aparece minha nuca". Mas Polanski gosta de trabalhar como ator. Em "Chinatown" (1974) fez um papel marcante. Adora teatro - antes de voltar a filmar, com "Os Piratas" e na profunda depressão que passou por 7 anos - fez o jovem Mozart na peça "Amadeus" de Peter Schaeffer e, recentemente Gregório Samsa, o personagem que se transforma numa barata em "A Metamorfose", do tcheco Franz Kafka - na adaptação deste clássico conto para o teatro. - "O teatro é fascinante, vivo. Aos 14 anos eu já havia feito o papel central de uma peça ("O Filho do Regimento, de V. P. Katayev, a história de um menino camponês russo, que foi um grande sucesso). Muitas vezes me pergunto se não deveria ter direcionado minha carreira mais para o teatro". Cinema e projetos - Aos 53 anos, 13 longa-metragens - todos, de uma forma, projetos extremamente pessoais e importantes - e uma intensa vida, repleta de belíssimas mulheres que passaram por seus lençóis - entre outras, as atrizes Jacqueline Bisset, Jill St. John, Carol Lincey e Nastassja Kinski (que consagrou ao escolhê-la para fazer "Tess"), Polanski não admite perguntas sobre Sharon Tate, sua atriz em "A Dança dos Vampiros", com quem se casou em 20 de janeiro de 1968 e que morreria, tragicamente, na noite de 8 de agosto de 1969 em sua casa, em Bel Air. Assassinada por um bando de fanáticos adoradores do diabo liderados por Charles Manson. Elegantemente, ninguém na entrevista tocou nestes assuntos de ordem particular. A pergunta mais delicada foi se ele pensava em voltar aos Estados Unidos, país do qual saiu em 1978, após ter sido acusado de abusar sexualmente de uma menor, durante uma festa na casa de seu amigo, o ator Jack Nicholson. - "Se eu resolver meus problemas de ordem jurídica, talvez vá aos Estados Unidos para solucionar certas questões pessoais mas em termos de ali realizar novos filmes, de forma alguma". Em alguns momentos da entrevista, Polanski se entusiasmava e estendia as respostas. Assim fez quando, já no início, o jornalista Ivo Stinchel, da Zero Hora (Porto Alegre) perguntou sobre "Busca Frenética". Polanski explicou a sua paixão por cinema, e a chance de rodar um filme, mais especialmente, um "thriller", em Paris - repetindo o que já havia dito em várias outras ocasiões - e conforme aqui registramos no domingo passado. Quando lhe indagamos sobre dois projetos nos quais esteve ligado - a refilmagem de "Hurricane" (Furação) e a realização de uma continuação de "Chinatown", foi atencioso. - "São dois exemplos de situações diferentes. Quando Dino de Laurentis me procurou para dirigir uma refilmagem de "Hurricane", assinei porque precisava de dinheiro. Eu não gostava da primeira versão dirigida por John Ford, que fez centenas de filmes, entre os quais muitas obras menores, e não acreditava no projeto". Polanski acabou não fazendo "Hurricane", que foi dirigido pelo sueco Jon Troll (o mesmo de "Os Imigrantes"), que apesar de ter trilha sonora de Nino Rotta, foi um desastre tão grande que nem chegou a ser exibido no Brasil. Em relação a "Chinatown", prosseguiu: - "Realmente, o roteirista Robert Towne tem o projeto de não fazer uma "Chinatown - II parte", mas um filme em que os personagens reaparecem 10 anos depois. Acho interessante, mas não há nada em relação a minha participação. A última notícia que tive a respeito é que o próprio Jack (Nicholson, ator de "Chinatown", grande amigo de Polanski, com quem veio ao Brasil pela primeira vez), é que tem este projeto de direção. Em relação à continuação feita sobre o seu filme mais famoso - "O Bebê de Rosemary", que se chamou "O que Aconteceu com o Bebê?" (exibido no Brasil pela Rede Bandeirantes), Polanski fala, com ironia, dizendo desconhecê-lo e detestá-lo. Nem sequer sabe quem o realizou. Harrison e Emmanuelle - Polanski também se entusiasma ao falar de Harrison Ford, o intérprete de "Busca Frenética": - "Ele é um ator maravilhoso. Encarna o personagem, vive-o com intensidade." Já em relação a Emmanuelle Seigner, 22 anos, sua atual companheira, é comedido nos elegios. Lembra que "Frantic" é seu primeiro filme importante, mas que ela tem carisma. Belíssima, Emmanuelle chegou só no final da entrevista: havia se demorado na redação de "Manchete", fazendo fotos para a edição que circula hoje. De vestido vermelho, permaneceu no fundo da sala e quando um jornalista insistiu que ela deveria falar sobre a sua personagem, a jovem (e meio hippie) Michele em "Busca Frenética", Polanski foi objetivo e até machista: - "Não. Ela prefere não falar". LEGENDA FOTO - Toda a sensualidade de Emmanuelle Seigner explode na dança com Harrison Ford em "Busca Frenética".
Texto de Aramis Millarch, publicado originalmente em:
Estado do Paraná
Almanaque
Tablóide
3
13/09/1988

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