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Aramis

O Continuismo de Macedo faz a guerra nos cinemas

Há alguns anos, quando a oposição venceu as eleições no Santa Mônica Clube de Campo e Sociedade Thalia, derrotando os grupos liderados por Leonel Amaral e José Vieira Sibut (1914-1979), respectivamente, que vinham se perpetuando no poder, o castrense Ismail Macedo, há 15 anos na presidência do Sindicato dos Exibidores dos Estados do Paraná e Santa Catarina, com seu tradicional humor, ironizou: - "Agora só resto eu da velha geração dos presidentes perpétuos!" Pelo visto, Ismail corre também o risco de perder a invencibilidade nas eleições. Afinal, a oposição nos meios cinematográficos é crescente e embora, por comodismo, os que discordam de seus métodos tenham, até hoje, evitado um confronto nas urnas, agora apareceu uma voz oposicionista mais vigorosa: Alfredo Prim, 48 anos, o atlético representante da Unibrás - União dos Exibidores Sul Brasil S/A, apresentou no último dia 26, um protesto formal junto ao sr. Alaor Dellatre, presidente da assembléia eleitoral do Sindicato das Empresas Exibidoras Cinematográficas dos Estados do Paraná e São Paulo. Com apoio de Isidoro Lassalvia, diretor da Distribuidora Arco Iris e também da Empresa Lageana de Cinema e Teatro, o documento requer a anulação das eleições realizadas recentemente, onde, mais uma vez, houve chapa única - naturalmente liderada por Ismail Macedo. Alegam Prim e Lassalvia que tanto Ismail como outros membros da chapa, não preenchem as condições de sindicalização e representatividade. Ismail, segundo Prim, não é exibidor, já que "a empresa de que participava, explorava o cinema de Antonina entretanto mantinha-o "arrendado" a terceiro que o explorava efetivamente em nome da empresa cinematográfica Capelista, e que a 4/12/1979 encerrou suas atividades". Em 1947, quando começou a trabalhar como contador da empresa Cinematográfica David Carneiro - então explorando apenas o cine Ópera, inaugurado seis anos antes, que Ismail se integrou a cinematografia paranaense. Ativo e habilidoso, expandiu o circuito com a inauguração do cine Arlequim, que em julho de 1955 (aberto com o filme "Sem Barreiras no Céu"), cresceu para os bairros - Guarani (Portão), Marajó (Seminário), Flórida (Marechal Floriano), e, em associações com outros empresários (nestas alturas, David Carneiro e seus filhos já haviam deixado a organização), inaugurou os cines São João (em setembro de 1960, com "A Volta ao Mundo em 80 Dias", de Michael Anderson) e Vitória (em 1963, com "Taras Bulba", de J. Lee Thompson). O São João foi construído em associação com herdeiros da família Bettega, proprietários da área, e o Vitória, com os herdeiros da família Johnscher. Até 1965, a Orcopa dominava metade dos cinemas de Curitiba - enquanto outros (Avenida, Rivoli, Marabá, e os hoje desaparecidos América e Ritz) pertenciam [à] Empresa Cinematográfica Sul, de Paulo Sá Pinto, e o pioneiro Homero Oliva tinha os hoje desaparecidos Palácio e Luz, e mais o Lido (inaugurado em 1959, com "Guerra e Paz"). Há 16 anos acontecia uma reviravolta nos negócios, com a sucessiva venda dos cinemas da Orcopa ao exibidor ponta-grossense Miguel Ajuz, que, numa operação estranhíssima, ficou de posse dos cinemas por apenas alguns dias, passando-os em seguida ao grupo Verde Martinez - que já havia adquirido as casas da Empresa Sul, Verde Martinez, passado alguns meses, acabou vendendo todos ou seus cinemas para Arnaldo Zonari (1917-1979), da Fama Filmes, que desde então tem a hegemonia da exibição em Curitiba. Ismail Macedo, desde 1965 deixou o controle dos cinemas de Curitiba, mas não se afastou da presidência do Sindicato. Com sua raposice política, tem participado de congressos de exibidores, influído em decisões nacionais e se mantido no domínio do órgão representativo da classe. Várias vezes se ensaiaram chapas de oposição mas, sempre, na última hora, acabaram sendo retiradas - para a sua tranqüilidade. xxx O mercado cinematográfico, tanto de exibição como de distribuição, é cheio de surpresas. Acordos são rompidos e velhos rivais se recompõem ao sabor dos lançamentos, não havendo nada de definitivo - dependendo sempre das perspectivas comerciais. Hoje, em Curitiba, a Fama Filmes, que tem o experiente João Aracheski Filho como executivo, possui os cines Astor, Vitória, Rivoli (que fecha em princípios de janeiro), Bristol (ex-Marabá, que está fechado há quase um ano e só reabrirá como "sala especial", para exibição de filmes pornográficos), Scala, Glória e São João - em reforma há 2 meses, com reabertura dia 9 de outubro, com "Estado de Sítio", França, 1973, de Costa Gravas. Associado a Paris Filmes, cujo diretor Alex Adamiu esteve na cidade no início da semana, a Fama tem os três cinemas do Shoping Center Pinhais, nos quais foram investidos perto de Cr$ 100 milhões. O grupo Paulo Sá Pinto (Unibrás, da qual Alfredo Prim é representante) tem o cine Plaza, enquanto a CIC é proprietária do Lido e Condor. Independentemente, pertencente [à] Fundação Cultural, o recém-inaugurado cine Groff, pode se dar ao luxo de lançar filmes de arte, de mínima rentabilidade - como "Nazarim", México, 58, de Luis Bunuel (na sessão de terça-feira à noite, 22 horas, 6 espectadores), já que o déficit é coberto pelo município. Lassalve, experiente exibidor, acredita entretanto que este minicinema pode, se for bem programado, ter uma boa renda mensal. xxx Na terça-feira, 29, o grupo de Isidoro Lassalve/Mário Pintado, que já possui mais de 180 cinemas no Paraná, Santa Catarina e Rio Grande do Sul, incorporou mais uma casa exibidora em sua rede: o Imperial, de Toledo, que pertencia ao sr. Lourival Mendes. Apesar de rendas pequenas em muitos casos, que tem levado a desativação de dezenas de casas exibidoras mensalmente, há ainda grupos organizados que procuram dar sustentação ao cinema - um entretenimento que desde o início dos anos 60 vem sofrendo, no Brasil, a concorrência da televisão que, nos Estados Unidos, uma década antes, esvaziou as casas exibidoras. xxx Surpresas sempre existem: "O Fotógrafo", produção paulista dirigida por Jean Garret, na qual o ponta-grossense Isidoro Lassalvia investiu Cr$ 1.500.000,00, fracassou nas bilheterias. Com um roteiro bem construído, introspectivo, belas atrizes e grande dignidade de realização, este filme não atingiu o público que consome as pornoproduções. Apesar de ser um dos produtores do filme, Lassalvia concordou que o mesmo saísse de cartaz do Condor, onde hoje estréia o apelativo "Mulher Objeto", de Sílvio de Abreu, com Helena Ramos e Nuno Leal Maia a frente do elenco. Kate Lyra - esposa do compositor Carlos Lyra, e uma das mais desejadas atrizes do cinema nacional, também aparece - só que, pudicamente, é uma das poucas a não participar das cenas de sexo explícito, no qual esta cara e pretensiosa produção de Anibal Massaini Neto, é pródiga. Massaini Neto, aliás, chega sábado a Curitiba, para catituar o filme que está tendo lançamento nacional nesta semana. xxx Falando em cinema, uma última dica: "Rogopag", filme em episódios, dirigidos por Rosselini, Godard Passoline e Orson Welles, em exibição a partir de hoje no Groff. Até hoje, este elogiado filme-de-arte teve uma única exibição, numa sessão da meia-noite do Astor, há 3 anos. Agora, a oportunidade de conhecer melhor este filme que teve um dos episódios ("La Ricota", de Pasquine), interditada pela censura italiana devido aos protestos do Vaticano.
Texto de Aramis Millarch, publicado originalmente em:
Estado do Paraná
Almanaque
Tablóide
6
01/10/1981

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