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Aramis

O cotidiano na arte de Affonso Romano

Affonso Romano de Sant'Anna é um poeta que decidiu romper, há muito, com os limites estreitos do poema. Professor da Pontifícia Universidade Católica do Rio de Janeiro, ali realizou - e lá se vão 16 anos - a I Expoesia, ovo-de-colombo que deu certo e multiplicou-se por todo o país: o poeta ganhando novos espaços, em painéis, muros, paredes. Foi trazendo a Expoesia, montada no Centro de Criatividade, então recém inaugurado na primeira administração do arquiteto Jaime Lerner, que Affonso veio pela primeira vez a Curitiba. Aqui residia um de seus grandes amigos dos tempos de Belo Horizonte, o pintor Franco Giglio. Posteriormente, Affonso retornaria outras vezes a Curitiba para falar sobre poesia, participar de eventos culturais e lançar seus livros. Algumas vezes em companhia de sua esposa, Marina Colassanti, jornalista, cronista, escritora - uma mulher tão admirável quanto ele, inquieta e criativa, jamais parando de produzir novos e belos textos, seja na instantaneidade da revista "Nova" (da qual é uma das editoras), seja em livros mais profundos - sem esquecer a literatura infantil, da qual é premiada autora. Mas Affonso Romano de Sant'Anna não ficou apenas na poesia. Ao contrário, se fez com que um de seus mais políticos poemas - "Que país é este?", em sua indignação e lucidez, se transformasse em bandeira revolucionária ao ocupar a primeira página do Caderno B, do "Jornal do Brasil", na revista "Isto É" ( por algum tempo) e , em tantas outras publicações, Affonso chegou a milhões de leitores - muitos dos quais, normalmente, jamais abririam um de seus livros de poesia ou ensaios críticos. Assim como ao fazer um poema no dia da morte de Tancredo Neves, apresentado pela Rede Globo de Televisão, emocionou o país e mostrou que a poesia pode conjugar-se com o vídeo - num casamento que deu bons resultados e tem continuidade com novos trabalhos. xxx Reunindo crônicas recentes, Affonso Romano de Sant'Anna tem novo livro na praça: "A Mulher Madura"( Rocco, 176 páginas, Cz$ 70,00). A crônica sobre "A Mulher Madura", que dá título ao livro, foi reproduzida aos milhares pelo país e traduzida em várias línguas. A da mulher nordestina que teve o rosto marcado a ferro pelo marido ciumento acionou as feminista em socorro da vítima, que precisava ser operada. Ao escrever sobre a morte anunciada do cientista Augusto Ruschi, Affonso tocou de tal modo o presidente José Sarney - seu leitor habitual que o Governo propiciou todos os meios para que se realizasse a "pajelança" com a qual os caciques Raoni e Sapaim emocionaram todo os país, dominando as manchetes dos jornais por mais de uma semana. Apenas alguns exemplos de como Affonso Romano de Sant'Anna, 49 anos, desde 1984 substituindo Carlos Drummond de Andrade no "Jornal do Brasil", vem marcando sua crônicas memoráveis sobre os mais variados assuntos, cativando os leitores e conseguindo, sobretudo, despertar um grande poder de mobilização da opinião pública. Autor eclético, com uma obra numerosa - que inclui, aliás, o interessantíssimo "Música popular e moderna poesia brasileira" (lançado em nova edição pela Vozes), Affonso consegue, como poucos, promover em suas crônicas um encontro enriquecedor e instigante entre vida concreta e arte literária, entre compreensão intelectual e intuição afetiva. Por isso o leitor identifica-se tanto com suas crônicas, pois nela encontra um documento poético do cotidiano. Transformando os fatos, reelaborando as notícias e suas personagens, trabalhando com idéias e emoções, Affonso Romano Sant'Anna lança sempre uma luz diferente e um olhar atento sobre os assuntos mais polêmicos ou singelos. LEGENDA FOTO - Affonso Romano: a crônica com poesia.
Texto de Aramis Millarch, publicado originalmente em:
Estado do Paraná
Almanaque
Tablóide
2
28/09/1986

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