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Aramis

O Festival da Canção (III)

Ao interessado em música popular, a realização de um evento como I Festival Universitário da Canção (hoje 20 horas, auditório do Colégio Estadual do Paraná, encerramento) é uma oportunidade de se avaliar as influências - positivas ou nefastas em termos musicais, sobre a juventude. É perfeitamente natural que os novos compositores e interpretes, geralmente numa faixa etária entre 17/25 anos, assimilem influências dos seus ídolos - procurando-as retransmitir em sua música. Alguns com maior criatividade, outros com menor voltagem - simples e mal digerido pastiches, o resultado é saudável, pois, como já dizia Carlinhos Lyra (que, a propósito, dia 13 estréia no Paiol) e Vinícius de Moraes, 15 anos passados, "mais que nunca é preciso cantar...". *** Se Roberto Berro, ativo representante territorial da Phonogram ou Jorge Luís Cavaco de Moraes, o novo supervisor da WEA Discos, no Paraná - ambos presentes no Festival, o primeiro no juri, o segundo na platéia, enviarem as fitas deste evento aos diretores artísticos de suas gravadoras, é possível que alguns dos concorrentes mereçam uma audição atenciosa. Por exemplo, uma jovem chamada Celina Santana, cantando o samba "Até A Lua Se Esconder", na sexta-feira à noite, revelou muita originalidade como interprete. Valorizando sua pequena voz com criatividade, Celina retorna a linha das grandes estilistas da canção - como Dalva de Oliveira (1917-1973), Isaurinha Garcia e, principalmente, Carmem Miranda )1909-1955), que inclusive é citada na letra de sua música ("Saudosa Carmem Miranda/deixou para nós/o seu lindo gingado/Pois foi dançando o sambão/que ela foi encantar/lá no outro mercado"). Numa época em que poucos jovens voltam-se a importância dos belos vocais, é positivo ver surgir uma garota como Celina Santana, com muita bossa e originalidade, de raízes brasileiras. *** Brasileiríssimo também é Aldino Beal, concorrendo com duas músicas - "Traição" e "Aviso Número Um ", onde aproveitou com inteligência e seriedade, os elementos nordestinos, numa parceria com Anselmo Bahia Capanema. É o grupo que defendeu estas duas canções no Festival, tem um nome que é um achado em termos de imagem: simplismente "Grupo Escolar". Falando em apresentação, surpreendente o octeto vocal feminino, formado por ex-alunos do Colégio Madalena Sofia (onde, por sinal, já foram realizados dois positivos festivais do Música popular), defendendo a otimista canção de Maria Yvete Fontoura, "Um Canto de Paz", uma das finalistas favoritas do encerramento de hoje é noite. Carlinhos Faria, que já gravou um compacto, defendeu com graça o samba "Piratas Boêmios", de claras influências de João Bosco-Aldir Blanc ("- Mestre Sala dos Mares"), enquanto que Renato Popsill, mesmo que sem intenção, lembra Chico Buarque de Hollanda pela temática de suas músicas e interpretação. Mas afinal boas influências não fazem mal a ninguém... muito pelo contrário. *** Em termos de letras, Arnaldo Cezar Machado, com "Essa Menina" surpreendeu pela coragem de sua temática, com frase fortes e de um realismo social, ausente na maioria das canções participantes, por óbvio motivos. Também uma boa letra é de Mary Elizabeth Nogueira ("Lamento"), que encerrando a primeira noite do Festival, teve a ampará-la um excelente grupo instrumental - o conjunto Classe A, no qual se destaca, o pistão suave de Osval Siqueira, um homem de muitas estórias na MPB. Houve também supérfluos e irritantes rocks, medíocres latinidades e sambas apelativos - mas com estes preferimos não perder tempo e espaço. Preferimos, isso sim, a visão brasileira , verde amarela, da simplicidade de canções como a toda "Vida Atoa" de Lisemar Valverde Pereira.
Texto de Aramis Millarch, publicado originalmente em:
Estado do Paraná
Almanaque
Tablóide
1
01/05/1977

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