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Aramis

O gay curitibano na ótica de Iwersen

Assim como a reportagem da revista "Atenção" buscou tratar o assunto de forma adulta, o filme de Iwersen, até agora exibido apenas duas únicas vezes, mas já censurado com apenas um corte (a seqüência em que um médico aplica silicone em Danielle, para crescimento de seus seios) - tem um sentido de documento que o fará por certo ter grande repercussão todas as vezes que for exibido em público. Assim ao lado das filmagens de Danielle - ou José Gomes de Lima Júnior e de seu "caso", Sérgio - acompanhando-o em seu trabalho, como costureira, em sua residência, pelas ruas da cidade, Iwersen procurou depoimentos de pessoas discutindo o assunto - os preconceitos existentes, as causas, os aspectos psicológicos, religiosos e sociais - aparecem no filme o psiquiatra José Romildo Brabowski, sua filha, a psicóloga Marilda Grabowski, a colunista social Margarita Sansone, o padre Gustavo Pereira, capelão da Casa do Estudante Universitário e, da forma mais descontraída, o ator e publicitário Sale Wolokita, ex-superintendente da Fundação Teatro Guaíra. Ao lado de dois travestis, filmado no último baile de segunda-feira de Carnaval, neste ano, Wolokita dá um depoimento sincero e espontâneo, simpático aos que assumem sua posição. Iwersen ainda fez vária filmagens na boite "Rainbow"(Rua Marechal Floriano, 2107), de Celso Filho, ator dançarino, coreógrafo, pintor, 65 anos, que há dois anos e meio foi o primeiro a tentar instalar uma casa gay, a "Celso`s", na Trajano Reis - fechada finalmente há alguns meses. Anteriormente ao Celso`s, houve a experiência do "Marrakesh", na Rua Marechal Deodoro, num casarão que anteriormente havia sido sede da produtora Ribalta (filmes em 16mm), mas que durou pouco meses, em 1977. Agora, além do Rainbow - a cidade tem mais uma casa na mesma linha, a "Babilônia" ( Rua Brigadeiro Franco, esquina com Dr. Pedrosa), notícia permanente nas páginas políciais e que na descrição da revista "Atenção", "abriga quase que exclusivamente uma heterogênea freguesia feminina que vai de "sapatões" radicais a tímidas simpatizantes", e que ao contrário do "Rainbow", tem um clima mais pesado exigindo constante presença de polícias em sua dependências, "a maioria das vezes para acalmar os ânimos de uma outra mais exaltada cliente que depois do quinto uísque, não hesita em arregaçar as mangas da camisa e partir literalmente, para a porrada, diante da mais insignificante contrariedade". Iwersen, premiado em Salvador, há 5 anos, com o documentário "O Homem do Caranguejo", vem realizando uma obra regular em Super 8, camp no qual é hoje, sem dúvida, uma das maiores expressões no Paraná. Nestes últimos 5 anos, afora trabalhos publicitários e comerciais, produziu "Censura X Censura"(que, naturalmente, acabou sendo proibido pela própria), "Criança Esperança", "A Lenda dos Crustáceos" (1976), "A Santidade do Prazer", "Maria do Pilar", "A Lenda das Encantadas" (em 1977) e, no ano passado, o "Vampiro de Curitiba". Casado, 3 filhas, professor de cinema na Escola Técnica Federal do Paraná, onde organizou três festivais nacionais de Super 8, têm vários roteiros prontos para serem realizados e explicar a Danielle Carnaval e Cinzas" como "um filme que não pretendemos e nem quisemos realizar para chegar a conclusões, mas, sim, mostrar, documentalmente, como age, vive, e pensa, um, entre centenas de brasileiros que procuraram no homossexualismo a realização pessoal, profissional ou humana". Considerando uma das cidades mais conservadoras do Brasil, em comportamento sexual, Curitiba começa a surpreender, ao menos em termos de comunicação. O cineasta José Augusto Iwersen, 34 anos, do Studio 8, já completou o documentário "Danielle Carnaval Cinzas", 24 minutos, rodado entre fevereiro/março último, e que focaliza um dos travestis mais conhecidos da cidade, Danielle ( José Gomes de Lima Júnior, paranaense de Jaguapitã, 28 anos, único sexo masculino de uma família de 11 irmãos). José Augusto Iwersen, que há 17 anos fundou o cine clube Pró Arte, manteve por 4 anos o primeiro cinema de arte do Paraná - o Riviera e hoje se dedica exclusivamente à produção de filmes em super-8, tanto publicitários, como documentários procurou nos 24 minutos deste seu filme - que vai disputar o próximo festival do Grife, em agosto, em São Paulo, "focalizar o dia a dia na vida de um homossexual em Curitiba: procuramos enfocar aspectos de seu modo de vida, nos dias mais importantes do seu ano, ou seja, nos dias de carnaval, quando consegue extravasar sua condição, perante a sociedade".
Texto de Aramis Millarch, publicado originalmente em:
Estado do Paraná
Almanaque
Tablóide
1
21/06/1979

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