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Aramis

O jazz do <<old South>> com o sopro da emoção

Exatamente às 23h38min de quinta-feira, 22, Percy Humphrey (trumpete), Alan Jaffe (tuba) e Narvin Kimball (bajo) desceram do palco do grande auditório do Guaíra e, subindo o corredor central, ao som do clássico << When The Saints Go marchin`In >>, fizeram com que mais de 100 pessoas - desde um animado senhor de 70 anos, de óculos, calvo e gravata vermelha, até jovens em esportivos jeans, descem a volta pela platéia e subissem de novo ao palco, onde permaneciam o clarinetista Williem Humplhery, o trombonista Frank Demond, o baterista Alonzo Stewart, e o pianista << Sing >>, Miller - dando o ritmo aos momentos de intensa vibração jazzistica. E por 12 minutos, exatamente, os sete velhinhos do Preservation Hall Jazz Band, tendo ao lado jovens e pessoas de mais idade, fizeram musicalmente vibrar a platéia que, em pé acompanhava, com cadenciadas palmas, o ritmo quente do New Orleans Style. Infelizmente, apenas 40% das poltronas do auditório Bento Munhoz da Rocha Neto estavam ocupadas, mas entre as 21,30 horas e 24 horas, ali aconteceu um dos espetáculos musicais mais lindos desde a inauguração do teatro. Dos mais dolentes e tristes blues - solados e cantados ao piano por << Sing >> Miller, com ajustadas intervenções de Kimbal ao baixo e Williw Humphrey, na clarineta - aos solos mais animados, especialmente quando Franck Demond, um dos mais << jovens >> do grupo, barba ao estilo Mormon, grande vibração, fazia o seu trombone de vara encontrar as notas perfeitas - os curitibanos puderam ver um momento históricos do jazz. Um dos cincos grupos que, oficialmente, integram o << Preservation Hall >>, que o casal Allan-Sandra Jaffe, dirigem há 20 anos numa velha casa no número 726, da Saint Peper Street, bem na entrada do French Quartier, a poucos metros da Basin e Canal Street, em New Orleans, Louissiana - incluiu, desta vez, Curitiba em seu roteiro. Como em tantas ocasiões anteriores, que grandes nomes do jazz aqui estiveram - Bill Evans, Art Blakey, Charles Tolliver, Dizzy Gillespie etc. - o público foi reduzido: o << Borderaux >>, ao final, indicava prejuízos, mas se em termos financeiros isso entra na contabilidade, em termos culturais-informativos, a única apresentação do Preservation Hall Jazz Band significa um alto saldo, para quem soube ir assistir. Aos que já tiveram a oportunidade de, um dia, comparecerem no próprio Preservation Hall de New Orleans, foram momentos de volta àquele ambiente único no mundo. Aos que se interessam pelo jazz, em termos de informação, foi uma verdadeira aula do estilo tradicional, com << Sing >> Miller emocionado ao cantar a dolente << Memories >> ou o grupo, integradíssimo, improvisar ao longo de temas como << Basin Street >>, << Just A Little White To Stay Here >>, ou Williw Humphrey mostrar toda sua técnica ao apropriado tema << Clarinet marmalade >>. O repertório dos músicos que se apresentam no Preservation Hall - é feito na hora: partindo de um tema, dentro do estilo tradicional, oferecem sempre uma nova visão. Um jazz quente, forte e o vigoroso - sem a sofisticação do << Chicago Style >>, do naviorquismo da era do bebop, à frieza de << West Coast >>, o intelectualismo dos << New Waves >> ou o hermetismo do free jazz dos anos 60. O New Orleans Style tem o calor e a emoção do << old south >>, com sua tristeza negra, herança africana, mas também o explendor e a alegria do mesmo povo. Tudo isto fez dos momentos de quinta-feira, no Guaíra, inesquecível. Quem foi vi. Quem não viu, terá que ir a New Orleans para sentir o que perdeu.
Texto de Aramis Millarch, publicado originalmente em:
Estado do Paraná
Almanaque
Tablóide
1
24/05/1980

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