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O mineiro Délcio penetra no mundo dos homoeróticos

"O debate", bravo semanário que a 23 anos vem sendo editado em Irati pelo jornalista e poeta José Maria Orreda, dedicou um pequeno editorial na edição de 3 de dezembro último ao "Gay Power". O texto levanta as preocupações da comunidade iratiense com o crescimento do homossexualismo naquela cidade, onde "os grupos de 'donzelos' andam pela noite caçando o bicho homem, principalmente jovens inexperientes e marginalizados pela família ou sociedade. Pois na época que vivemos onde o charme e o luxo são indispensáveis; as estravagâncias e o prazer inevitáveis, tudo pode ocorrer. E se os jovens não tiverem uma educação forte (não confundir com pancada) um apóio total dos pais e uma grande intimidade com estes, caso contrário os jovens procurarão idéias e ideais pré-fabricados incutidos pelo cinema, tv e "amigos". O fato de uma cidade de hábitos conservadores, moralista, como Irati, preocupar-se com o crescimento do homossexualismo, não é fenômeno isolado - apenas reflexo de novos padrões de comportamento que modificaram os relacionamentos sexuais. Partindo desta realidade nacional, um dos mais ativos jornalista mineiro Délcio Monteiro de Lima acaba de publicar "Os Homoeróticos/ Os gays e lésbicas na sociedade brasileira" (Livraria Francisco Alves Editora, 200 páginas). Atuante na imprensa e televisão, correspondende da revista "Visão" em Minas Gerais, Délcio a oito anos passados já havia produzido um estudo pioneiro dos costumes sexuais brasileiros, com base em pesquisa feita no Rio de Janeiro, São Paulo, Belo Horizonte, Porto Alegre, Recife, Salvador e Brasília - resultando numa espécie de "Relatório Kinsey" tupiniquim, já em terceira edição. Em 1978, em "Brasil: O Retrato sem Retoque", investigou a realidade brasileira nos aspectos político, social, econômico e cultural, abrangendo todos os segmentos da vida nacional. Em 1980, em "Os Senhores da Direita" (Editora Antares) procurou identificar caracterizar os grupos e movimentos que compõem a direita brasileira, fazendo inclusive citações de ex-integralistas, atuantes no Paraná - embora com naturais omissões, considerando a dificuldade de obter informações mais precisas. xxx Hoje, com o homossexualismo crescendo em proporções impressionantes, não mais apenas nas grandes capitais, mas nas comunidades menores - como o editorial de "O Debate", de Irati, comprova - Délcio Monteiro de Lima se propôs em "Os Homoeróticos" a uma inovação na estratégia de abordagem de problemas que aflinge o homem moderno: transpõe um tema exaustivamente explorado nos seus aspectos biológicos e psicológicos para a facinante dimensão social da Antropolia. Délcio preferiu desprezar tudo que já se pretendeu a atribuir a homossexualidade para mostrar com objetividade o homossexual. Não busca, portanto, definir, classificar, interpretar, nem infocar a homossexualidade de nenhum ângulo cientifíco ou explica-lá do ponto de vista genético, endocrinológico ou comportamental. A proposta de Délcio, casado, heterossexual convicto, é a contemporaneidade da questão: afinal são 13 milhões de homens e mulheres, no Brasil, engajados na prática da sexualidades não convencionais que vivem entre nós. O Gay Power hoje não é mais um movimento de libertação das minorias (?) sexuais nos Estados Unidos e Europa, mas chegou corajosamente ao Brasil a partir dos anos 70. Jornais e até revistas gays passaram a circular após a liberação da censura, sem contar revistas pornográficas, dedicadas aos gays. Também os estabelecimentos - discotheques, restaurantes, bares etc. multiplicaram-se. Em Curitiba, do pioneirismo do artista Celso Filho (por sinal, montando uma revista teatral das mais satirícas, "Eva / Adão"), em seu primeiro bar na Rua Trajano Reis, até sofisticadas discotheques que funcionam atualmente, com grande lucratividade muita coisa modificou-se no comportamnto sexual. Assim, embora Délcio Monteiro de Lima não tenha incluído pesquisa em Curitiba para seu "Os Homoeróticos", formula neste livro uma série de colocações interessantes, analisando a questão homossexual não apenas no Brasil, mas também internacionalmente - e fazendo situações históricas. Délcio inicia contando o que aconteceu na 34a reunião anual da Sociedade Brasileira para o Progresso da Ciência, em Campinas, quando o professor Luiz Motti, paulista de nascimento e baiano adotivo, aparência máscula, barbudo, três furos e três brincos na orelha, pescoço envolto em ricos colares, falando para mais de 3 mil cientistas, apresentou uma curiosa pesquisa feita por 8 alunos do curso de Ciências Sociais da Unicamp, por ele supervisionadas, enfocando o problema do exibicionismo (sexual) em Campinas. Segundo o estudo, abrangendo um universo feminino de 7 aos 50 anos de idade, em cada grupo de 100 mulheres escolhidas aleatoriamente, entre as diversas categorias sociais da cidade, apenas 3 nunca tinham sido alvo de algumas das múltiplas formas de exibicionismo dos machos da terra. Os campineiros - ao contrário do que diz ao folclore - adoram mostrar os órgãos genitais as mulheres (de preferência para as adolescentes). xxx Em sua linguagem jornalística, baseando-se em pesquisas, relatórios, informes, etc., Délcio traz dados claros e precisos - que obviamente não podem ser sintetizados num simples review do seu livro. Entretanto, um dado não pode deixar de ser citado - e que mostra a extensão do universo estudado: partindo de parâmetros que Alfred Charles Kinsey (1894 1956) utilizou a 31 anos para estudar os padrões da sexualidade nos Estados Unidos e somando sua experiência pessoal a 9 anos, ao estabelecer as tabulações do "Comportamento Sexual do Brasileiro", Délcio conclui, "por baixo, sobre os 120 milhões de habitantes apurados no Censo de 1980, teriamos uma população de 13 milhões de gays e lésbicas". O próprio Délcio admite: a primeira vista os números absolutos podem assustar. A um exame mais ponderado, todavia, verifica-se a ausência de motivo para espanto. O Brasil possui uma dimensão territorial de 8.500.000 quilometros quadrados, portanto um espaçamento geográfico que virtualmente dilui e torna imperceptível a presença deste contingente homossexual como agrupamento humano diferenciado. É um aspecto importante. Na Alemanha, é o contrário. Sua reduzida área territorial, inferior a maioria dos pequenos Estados brasileiros, e uma taxa de homossexualidade da ordem de 42%, a maior do mundo, em uma população de 62 milhões (metade da nossa), com o dobro, praticamente de homossexuais em comparação ao nosso País. Apesar disto, recentemente a revista "Newsweek", atribuiu São Paulo como "meca do homossexualismo na América Latina, com um milhão de gays e lésbicas". E já há quem afirme proporcionalmente ao crescimento do homossexualismo em Curitiba - tanto assumido (travesti nas ruas, frequentadores de casas gays, etc.), como camuflado - estão dando a Capital paranaense uma elevação nos índices desta tabela pouco conveniente as tradições machista da terra. Por tudo isto, Délcio Monteiro de Lima forneceu a leitura uma obra atual e, inclusive, está a disposição para vir participar de debates a respeito. De preferência, na televisão.
Texto de Aramis Millarch, publicado originalmente em:
Estado do Paraná
Nenhum
Tablóide
11/01/1984
Comprei um livro desse autor sociologo, os demonios descem do norte, procurei por mais informações dele, mas as unicas que encontrei foi nesse site. Agradeço pela publicação da matéria.

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