O mundo de Bezerra
Artigo de Aramis Millarch originalmente publicado em 15 de julho de 1984
Pernambucano radicado no Rio, percussionista da orquestra da TV Globo, Bezerra de Silva é um intérprete que ainda será tema de estudos mais profundos pelo trabalho documental que realiza em seus discos. Sem ser um cantor de voz apurada, Bezerra vem registrando em uma dezena de elepê (o último "É esse aí que é o homem", RCA) sambas de autores desconhecidos que têm em comum a malandragem, a linguagem cifrada das gírias das favelas do Rio de Janeiro. Recolhendo música nos pontos mais distantes (e perigosos) Bezerra consegue uma grande empetia com as faixas mais humildes da população - especialmente aquele pessoal que trabalha de madrugada (motorista de táxi, plantonistas, policiais, etc.). As letras que Bezerra da Silva interpreta são crônicas bem-humorada sobre guerras de quadrilhas, pais-de-santo trambiqueiros, golpes de suadouro. Fala da lei do morro em que o alcagüete é punido ("Jornal da Pedra", "Judas Traidor", "Defunto Caguete") , tem certos personagens fixos (como "Mané", que aparece em três faixas) e só em um momento se permite a ser romântico - assim mesmo sobre o prisma da dor-de-cotovelo ("Tua Cabeça é Teu Mestre"). Como defende os autores anônimos, em duas faixas ("É Essa Ai Que É o Homem" e "O Rei da Cocada Preta") Bezerra aborda os direitos autorais dos legítimos
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