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Aramis

O nosso centro no fim do século (I)

"Uma cidade com uma dezena de grandes, iluminadas e movimentadas galerias comerciais subterrâneas. Garagens de vários andares ao redor do Setor Histórico. Estacionamentos subterrâneos nas praças. A Avenida Marechal Deodoro iluminada feericamente. Milhares de pessoas atraídas ao centro e espalhando-se ao redor de imensos café-concertos na Rua XV de Novembro e nas proximidades da Praça Santos Andrade. Sonho? Ilusão? Ou apenas uma prospecção de como poderá ser o hoje esvaziado, triste e abandonado centro de Curitiba. Pode ser em alguns meses ou vários anos – dependendo da decisão do Executivo em implantar algumas das muitas propostas colocadas no projeto "Centro da Cidade"- concluído após meses de pesquisas e estudos. Mais do que um estudo que em sua versão reduzida ocupa 91 páginas com algumas ilustrações – mapas, plantas -, o projeto "Centro da Cidade" representa uma importante contribuição para que Curitiba não perca sua identidade, que o seu cuore urbano não sofra o mesmo mal que enfartou o núcleo de tantas metrópoles – como Rio de São Paulo – que esvaziadas residencialmente, transformadas em apenas centros comerciais, tornam-se paraísos de marginais à noite, sem estabelecimentos que atraiam a população. xxx Ex-presidente do Instituto de Pesquisas e Planejamento Urbano de Curitiba, acompanhando o desenvolvimento da cidade há mais de 20 anos, Rafael Dely é uma das pessoas mais identificadas com os problemas urbanos. Assim, há menos de dois anos, quando o presidente do IPPUC, Alcindino Pereiro, o convocou para estudar uma reciclagem do centro, aceitou com satisfação a missão. Iniciando o trabalho de forma solitária, aos poucos Rafael passou a contar com a contribuição de colaboradores – os arquitetos Luiz Popp, Maria do Rocio Quandt, Mauro José Magnabosco, Claudio Menna Barreto Gomes, Nereu Barão, Milena Maria Oliveira Leonel e do economista Fric Kerin. O resultado é um estudo objetivo e prático – que mesmo não sendo executado imediatamente, traz colocações necessárias a vários problemas que asfixiam o centro da cidade. Grande parte do estudo é dedicada a questão do problema do tráfego na área central. Embora o chamado "Centro" corresponda a um espaço físico de cerca de 2,1km², praticamente 0,5% da superfície total do município (423 km2), é a região responsável pela maior oferta de empregos; cerca de 70% dos existentes. Considerando-se a fragilidade da estrutura econômica dos municípios componentes da Região Metropolitana, é o nosso "Centro" que atende, com a função de trabalho, a milhares de famílias que residem fora do município. xxx Assim, os problemas relacionados ao tráfego de pedestres e, principalmente, veículos são pensados com bastante critério – propondo-se algumas mudanças de circulação capazes de trazer melhores resultados de curto e médio prazos. Obviamente, são idéias que merecerão muitas discussões – dentro de um democrático (e necessário) estímulo a participação dos setores interessados. Particularmente importante é a questão do estacionamento na área central – causa de esvaziamentos comerciais em algumas áreas e crônicas questões em outras – como a "invasão" do Largo da Ordem e adjacências por centenas de veículos, especialmente à noite – já que ali foi estimulada uma animada estrutura gastronômica-etílica, com restaurantes, bares, etc.. Somando-se os estacionamentos privativos (geralmente em edifícios de habitação e destinado a seus moradores – 7.377 vagas) e mais os estacionamentos do EstaR e os particulares existem hoje 17.500 vagas na região definida como centro. Ao lado da manutenção dos existentes – mas também evitando-se a proliferação de novos, dentro do anel de tráfego lento (conforme decreto municipal de 1976), o projeto "Centro" propõe, entretanto, uma ampliação para espaços destinados ao estacionamento de veículos. Assim, considerando a movimentação no Setor Histórico, a idéia é estimular que a iniciativa privada (ou, em último caso, o próprio poder público), amplie em altura duas áreas particulares na região. O estacionamento Heller e o terreno pertencente ao Iapas, ambos situados na Rua Claudino dos Santos – já utilizados como estacionamento, porém com pouca capacidade. O primeiro teria acesso e saída de veículos pela Rua 13 de Maio e o segundo pela Rua do Rosário. Como o maior movimento do setor histórico é sempre à noite não haverá, portanto, maiores conflitos com o tráfego diurno das duas ruas. Em ambos os casos, os pedestres sairiam diretamente no próprio setor histórico, o que constituiria solução prática e principalmente segura. A outra proposta é mais audaciosa: estacionamentos subterrâneos em vários pontos do centro. Mas sobre isso falaremos na coluna de amanhã.
Texto de Aramis Millarch, publicado originalmente em:
Estado do Paraná
Nenhum
Nenhum
03/01/1985

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