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Aramis

O nosso Jazz

Entre centenas de músicos brasileiros, Victor Assis Brasil, 35 anos - a serem completados a 28 de agosto próximo, tem uma classificação especial: é o único que assumiu a difícil, quase suicida até há alguns anos, posição de jazzista. Se dezenas de outros bons instrumentistas que apreciam o jazz tem alternado o trabalho, conseguindo assim maiores resultados financeiros e de comunicação, este carioca que aos 17 anos ganhou um saxofone de sua tia, vem, desde então, perseguindo um ideal: ser um jazzista brasileiro. Participação em festivais internacionais - das finais do de Berlim, 66, a uma tumultuada presença no de Monterey, no ano passado, gravações espalhadas por pequenas etiquetas, muitas sem qualquer divulgação ("Desenhos", 68; "Victor Assis Brasil toca Tom Jobim", 71, ambas produzidas pelo idealista Roberto Quartin); "Victor Assis Brasil ao Vivo" (74, gravado em espetáculo no Teatro da Galeria), "Esperanto" (de todos os seus lps, o mais raro), são registros tão esporádicos, quanto difíceis têm sido suas temporadas. Excelente pessoa humana, vivendo intensamente a cada momento, assumindo suas barras, Victor é não só saxofonista, mas também um pianista de alto nível e que desenvolveu estudos de instrumentação e composição em Berklee School of Music, em Boston e, da vivência internacional, acumulou uma experiência notável. No ano passado, Maurício Quadrio, produtor de projetos especiais da Odeon, deu chance a Victor e quinteto - Hélio Delmiro (guitarra), Fernando Martins (piano), Paulo Russo (baixo) e Ted Moore (bateria), realizar um elepê belíssimo, que alcançou uma vendagem tão expressiva, que motivou paralelamente ao seu lançamento no Exterior, que saísse agora, pela Odeon, o "Pedrinho", com Victor e quarteto, simultâneo ao lp-solo de Hélio Delmir, um dos mais extraordinários [guitarristas] brasileiros e que há muito também merecia ter seu próprio disco. "Pedrinho" composição de Victor dedicada ao seu mano caçula, é um de seus temas favoritos, que, nas várias vezes em que aqui esteve - em trabalhos solo (tocando com músicos locais, num "workshop" jazzístico que poderia ter continuidade se a Fundação Cultural mostrasse mais visão em seus programas musicais) ou com conjuntos próprios, sempre desenvolveu. Com Russo no baixo, Moore na bateria e Jotinha Moraes no piano e vibrafone, e Victor ficando apenas no sax, "Pedrinho" é um álbum importante pelo bom gosto do repertório, fino acabamento (belíssima capa de J.C.Mello/Tadeu Valério), esclarecedores textos de J.D.Raffaelli (um dos grandes estimuladores da carreira de Victor). Em relação aos discos anteriores, trata-se de um album mais "aberto": musicas conhecidas de Cole Porter ("It's All Right With Me", "Night And Day"), George/Ira Gershwin ("S'Wonderful"), Milton/Ronaldo Bastos ("Nada Será como Antes"), Dori Caymmi/Nelson Motta ("O Cantador") e apenas 2 temas próprios "Pedrinho" e "Penedo"), na extrema criatividade de Victor, fazem com que este seja não só o melhor disco de Victor, em sua fase atual, mas um dos que possibilitará maior abertura a um público que, felizmente, pouco a pouco, começa a descobrir toda a dimensão de seu extraordinário talento.
Texto de Aramis Millarch, publicado originalmente em:
Estado do Paraná
Nenhum
Música
27
27/04/1980

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