O otimismo de Mindlin, apesar deste Brasil-91
Artigo de Aramis Millarch originalmente publicado em 22 de outubro de 1991
Quem esperava ouvir do mais respeitado jornalista político do Brasil, Carlos Castello Branco, comentários e informações ao vivo sobre as coisas da política que fazem de sua coluna na segunda página do Jornal do Brasil - e reproduzida por mais de 30 outros diários do país - o espaço mais valorizado da imprensa opinativa brasileira, saiu do auditório Maria José de Andrade Vieira, na noite de segunda-feira, 21, um pouco decepcionado.
Em seu sotaque piauiense, Castelinho - como é chamado mesmo pelos que não têm intimidade para tanto - limitou-se a ler mais de 50 perguntas que o público (que lotou o auditório) encaminhou a José Mindlin, presidente da Metal Leve S/A e um dos empresários mais lúcidos [...] e administradas deste país - famoso tanto pela competência que administra seu grupo como por sua preocupação cultural, que o faz ser membro de várias instituições, além de vice-presidente da Federação e Centro das Indústrias do Estado de São Paulo.
Dentro do ciclo de palestras "Brasileiro: Cidadão?", iniciado em 12 de agosto com o antropólogo Roberto da Matta, a participação de Mindlin e Castello Branco valorizou este projeto que pretende oferecer uma visão panorâmica das questões relacionadas à política, poder e cidadania neste Brasil em crise.
Se Castello Branco falou pouco - limitando-se a transmitir as perguntas, auxiliado pelo jornalista José Neumane, coordenador dos debates - o senador catarinense Espiridião Amim - convidado para a mesa - aproveitou a deixa. Antes mesmo que começassem a chegar as perguntas ao palestrista, o ex-governador de Santa Catarina, com seu vozeirão de locutor esportivo, falou durante mais de dez minutos e terminando até por declamar a parte final do hino barriga-verde.
O empresário José Mindlin, 78 anos, com extrema objetividade fez colocações precisas em sua explanação inicial e, posteriormente, não deixou de responder nenhuma pergunta - muitas vezes mostrando bom humor. Por exemplo, falando sobre corrupção & corruptores, disse que nos anos 50, "quando havia corrupção" (risos da platéia), ele era obrigado a viajar três vezes por semana ao Rio de Janeiro para conseguir liberar guias de importação de matéria-prima para a Metal Leve.
- "Ficava horas á espera dentro de uma proposital demora que entendia como uma proposta surda para que eu propusesse um "amaciamento" a quem deveria cuidar rapidamente do assunto. Nunca me curvei a esta imposição e sempre esperei tranqüilamente. Só que ficava tanto tempo tomando chá-de-cadeira que li naquela época a obra completa de Honoré Balzac".
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Mesmo limitando sua participação na discreta passagem das questões a Mindlin, a presença de Castello Branco, 71 anos, 53 de jornalismo, foi motivo para que o público (em que estavam políticos e muitos empresários) acompanhasse, com interesse as explanações feitas por José Mindlin, que com sua segurança e tranqüilidade mostrou porque é uma das vozes mais respeitadas dentro do empresariado brasileiro. Otimista, "apesar de tudo", lamentando não ter 20 anos a menos, "para ver o Brasil do futuro", Mindlin revelou-se parlamentarista e não escondeu sua visão crítica em relação aos partidos brasileiros - que, para ele, hoje são "agências de propaganda" no marketing para venda de seus candidatos a cargos eletivos". O que levou a fazer uma afirmação que justifica reflexões:
- "Examinado-se os últimos 4 presidentes civis eleitos no Brasil - Jânio, Jango, Sarney e Collor - podemos observar que eles não necessitaram de partidos políticos para chegarem ao poder. Mas no poder necessitaram de apoio dos partidos".
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Na mesa dos trabalhos, como convidada especial, apenas uma mulher. A vereadora Nelly Almeida, catarinense de Itajaí, mas curitibana desde 1953 quando aqui veio morar.
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