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Aramis

O padre "comunista" que dá sorte nos casamentos

Em seus 80 anos, 30 dos quais em Curitiba, o padre Gustavo Pereira Filho já se acostumou com as mais diferentes designações. Desde o de "padre que dá sorte nos casamentos" - entre as centenas de casais que uniu (incluindo o candidato a governador José Richa e dona Arlete) poucos foram os que se separaram - a de padre comunista, que lhe valeram perseguições e acusações por parte de militares radicais, especialmente do coronel Haroldo Carvalhinho, no período 1964/70. Com uma juventude impressionante, sem uma única ruga que mostre sua idade, bem humorado, admitindo que sempre gostou de conviver em ambientes inteligentes e culturais, o padre Gustavo foi por mais de 20 anos capelão da Casa do Estudante Universitário, onde tinha seu apartamento - "Só deixei a CEU quando, por mudança de regulamento, foi autorizado que os moradores poderiam receber, a hora que quisessem, companhias femininas. Como padre, com voto de castidade, não ficaria bem ali permanecer". Hoje o padre Gustavo mora num confortável apartamento no edifício Virginia, na avenida Cândido de Abreu, próximo a sua "paróquia": por convite pessoal de universitários que conheceu há anos, e hoje ocupam cargos da maior preeminência no Estado, é o capelão do Palácio Iguaçu, da Assembléia e do Tribunal de Justiça. Explica: - "Não se trata de ser o capelão do poder, mas a coincidência de estar presente junto a amigos que, ocasionalmente, chegaram a postos elevados. O Richa convidou-me para substituir o cônego João Augusto, no Palácio, cargo em que fui mantido pelo Álvaro Dias". É difícil encontrar alguém que tenha estudado em Curitiba, nas universidades Federal e Católica, que não conheça, admire e respeite o padre Gustavo. Presente nas inflamadas assembléias do início dos anos 60, acompanhando as delegações da UPE nos últimos congressos - em Quitandinha ("no qual correu bala e o Requião era um dos mais atuantes líderes") e em Santo André, 1962, o padre Gustavo sempre esteve ligado às lideranças estudantis, nascendo amizade com inúmeros estudantes de esquerda, muitos comunistas. Orgulha-se de, direta ou indiretamente, ter influenciado na conversão de mais de 16 jovens materialistas, alguns hoje fervorosos fiéis em suas missas dominicais. Os anos de convivência universitária - além de capelão da CEU, foi também professor nos cursos de Direito e Medicina da Universidade Católica - lhe custaram muitas acusações. Por duas vezes chegou a ser transferido, mas os próprios estudantes saíram em favor de sua permanência. "Além do mais, Dom Manoel, sempre entendeu a natureza de meu trabalho, necessário de estar em contato com os estudantes, mesmo os acusados de esquerdistas e sempre me apoiou" reconhece o padre Gustavo, que guarda boas lembranças do falecido Arcebispo. Com D. Pedro Fedalto, suas relações sempre foram boas, "e os tempos são outros, sem pressões". Na sabedoria de seus 37 anos de jesuíta e com o vigor de 80 primaveras, o padre Gustavo faz parte de nossa memória viva universitária e religiosa. Motivo para que, antecipadamente, mereça os cumprimentos pela efeméride do 80º aniversário na próxima semana.
Texto de Aramis Millarch, publicado originalmente em:
Estado do Paraná
Almanaque
Tablóide
24
02/10/1990

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