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Aramis

O palácio, o centro & a morte (II)

Por uma questão de coerência com tudo que pensa em favor da cidade, como ponto de encontro da população, o arquiteto Jaime Lerner, há 30 dias novamente voltando a ocupar a Prefeitura de Curitiba, tem todo o empenho em encontrar uma fórmula para impedir que as picaretas - ou uma rápida implosão - façam ruir, em poucas horas (ou questões de segundos), o prédio que há 52 anos foi construído por iniciativa do empresário Ferez Mehry e que, bem ou mal (em termos estéticos) representa um dos poucos pontos capazes de evitar o total esvaziamento da Avenida Luiz Xavier - que, durante algumas décadas foi o centro elegante, social e sofisticado da capital paranaense. A preservação do Palácio Avenida - ao menos como ponto de resistência de uma filosofia urbanística, dentro dos conceitos de planejamento que o prefeito Lerner procurou desenvolver em Curitiba nesta década, depende, única e exclusivamente, do banqueiro Edson Vieira, que como presidente do poderoso grupo Bamerindus pode sensibilizar-se - ou não - pelas diferentes opções oferecidas para um rentável aproveitamento do imóvel adquirido por apenas Cr$ 13.500.000,00 - e que hoje, 5 anos após a transação imobiliária, deve valer ao redor de Cr$ 80 milhões - tornando, portanto, impossível seu tombamento pelo Estado ou Prefeitura - e mesmo difícil a aquisição por outros grupos particulares. Curiosamente, no final de 1973, os herdeiros de Ferez Mehry (1874-1946) chegaram a oferecer aos inquelinos do Palácio Avenida - 30 ocupantes de excelentes apartamentos e os proprietários dos ótimos pontos comerciais em seu térreo, a venda do imóvel - que seria possível ser adquirido se houvesse uma união de interesses dos inquilinos. Infelizmente, não houve a preocupação e coube ao grupo Bamerindus fazer o vantajoso negócio, consolidado no dia 22 de fevereiro de 1974, há 5 anos passando em utilizar o imóvel apenas como sede para sua companhia de seguros - cuja lucratividade deve compensar a imobilização desta soma por meia década e mais a construção de um novo prédio. Na administração do engenheiro Saul Raiz, o esvaziamento da Avenida Luiz Xavier e Rua XV de Novembro como ponto de encontro da população - com a substituição de um comércio ameno e agradável por impessoais corporações que visam única e exclusivamente o lucro - não chegou a sensibilizar áreas expressivas da administração, exceto os arquitetos Rafael Delly - que na próxima quarta-feira assume a presidência da Cohac-CT, o ex-presidente do IPPUC, arquiteto Lubomir Fincinski e o engenheiro Sérgio Souza, diretor do Departamento do Patrimônio da Prefeitura. Felizmente, o retorno - inesperado - as mais do que oportuno de Jaime Lerner à chefia do Executivo Municipal - representa uma última esperança - para, utilizando todos os recursos possível - e inclusive com apoio do governo do Estado, e, em última instância, do próprio ministro da Fazenda, tentar demover a cúpula do Bamerindus da destruição de um prédio que, em uma zona central, pode ter múltiplas opções de aproveitamento - do que servir, simplesmente à frieza de uma loja de seguros. Entretanto, para apoiar uma ação oficial haveria necessidade de uma participação da própria comunidade - possível de ser motivada através de camoanhas espontâneas e bem intencionadas, como a que o Clube de Criação de Curitiba desenvolveu no final do ano passado, após o incêndio da confeitaria Schaffer (madrugada de 20/21 de novembro/78) para sua reconstrução. Na época, o presidente do Clube de Criação, o publicitário Sérgio Mercer, dirigia a Umuarama, house-agency do próprio grupo Bamerindus, e por óbvias razões, não poderia encampar uma campanha pela preservação do Palácio Avenida. Mas agorá, com Mercer alçado à presidência da Fundação Cultural de Curitiba, em substituição a Ênio Marques Ferreira, a situação inverte-se: como homem que ama a cidade (apenas de ser paranaense de Tibagi, que tem cantando em prosa e verso), Mercer pode, com sua habilidade diplomata que só encontra paralelo no advogado Nireu Teixeira, chefe-de-gabinete do prefeito Lerner, ser uma ponte de união, entendimento e compreensão. Assim, a conjunção de vários fatores favoráveis - tal como numa carta astrológica - torna possível que ao invés de picaretas destruírem o Palácio Avenida, a partir da desocupação dos últimos imóveis, seja encontrado uma fórmula conciliatória, capaz de garantir ao grupo Bamerindus uma justa compensação, mas que também não retire do ponto mais central da cidade um prédio que abriga espaços indispensável para preservação de sua vida comunitária, como ponto de encontro da população - a grande tônica de toda filosofia de planejamento urbano que deu a Jaime Lerner um prestígio internacional - e que contou muito para ser o escolhido, entre tantos, para retornar a Prefeitura de Curitiba. As múltiplas fórmulas de aproveitamento rentável do Palácio Avenida devem ser cuidadosamente analisadas. E entre muitas sugestões, o seu aproveitamento como um centro de convenções reúne vários fatores favoráveis, principalmente analisando-se que as experiências desastrosas desenvolvidas em outras capitais - onde imobilizaram-se milhões de cruzeiros em conjuntos disformes, distantes, e que vêm acumulando prejuízos - mesmo em metrópoles como São Paulo, onde o Anhembi, com toda ativação de congressos, shows, eventos etc, apresenta ainda um saldo negativo de Cr$ 110 milhões, em dividas no Exterior. Em Foz do Iguaçu, os hoteleiros preocupam-se em estimular o governo a investir mais de Cr$ 500 milhões num faraônico centro internacional de convenções - inclusive argumentando como fórmula capaz de absorver a futura mão-de-obra que estará ociosa após a conclusão das obras de Itaipu. A nova diretoria da Paranatur estuda projetos, cronogramas, planos de viabilidade econômica a respeito. Em Curitiba, várias correntes se dividem a respeito da conveniência ou não de se imobilizar milhões de cruzeiros do orçamento oficial, em tal tipo de empreendimentos. Em Florianópolis, se não tivesse havido a intervenção pessoal do então governador Konder Reis - que além de mandar arquivar o projeto imediatamente pediu que sua atitude não se tornasse pública - já estaria começada, na Capital, a construção de um centro de convenções, orçada em 1978, em Cr$ 100 milhões. No Nordeste, os vários centros de convenções mostram-se "elefantes brancos"- embora, em Natal, também se tenha iniciado um faraônico projeto com orçamento inicial de Cr$ 17 milhões mas que não sairá por menos de Cr$ 70 milhões. Em Minas Gerais, a Hidrominas, com sensatez, soube utilizar antigos e amplos hotéis das estancias hidrominerais de Araxá e Poços de Caldas, em centros de convenções, integrados ao balneário às termas e outras atrações - assim, como o antigo Cassino do Hotel Palace de Poços de Caldas foi adaptado para receber congressistas. Exemplos que devem ser ponderados antes do governo comprometer-se em projetos ariscados - e podendo, unindo-se à iniciativa privada, evitar a destruição do Palácio Avenida e dar a cidade um racional centro de convenções.
Texto de Aramis Millarch, publicado originalmente em:
Estado do Paraná
Almanaque
Tablóide
1
20/04/1979

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