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Aramis

O pornoerotismo na linguagem popular

Mário Souto Maior, 60 anos, diretor do Centro de Estudos Folclóricos, do Instituto Joaquim Nabuco de Pesquisa Sociais, em tornou-se notícia, h's 3 anos, quando a Censura proibida que publicasse seu << Cicionário do Palavrão e Termos Afins >>, finalmente agora liberado, em lançamento da Editora Guararapes, do Recife - mas que ainda não chegou às livrarias do Sul. Pesquisador incansável da cultura popular, Mário Souto Maior tem, entretanto, uma obra extensa e importante. Uma das mais interessantes, exaustivamente registrada por nós, por ocasião de seu lançamento, foi << Nomes Próprios Pouco Comuns >> (Livraria São José, Rio de Janeiro, 1974), onde Souto Maior incluia, como << nome pouco comum >>, o daprofessora Porcia dos Guimarães Alves, que posteriormente, fazendo conferências no Recife, viria a se tornar sua grande amiga. Para uma segunda - e afuardada - edição deste livro, Mário deverá acrescentar vários nomes pouco comuns, recolhidos no Sul. Agora, Souto Maior, acaba de publicar um pequeno - mas interesantíssimo - livro: << Folcloerotismo >>. (Edições Pirata, Recife, 44 páginas). Mais uma vez volta-se a linguagem do povo nordestino, examinado, desta vez, o erotismo - em suas várias manifestações. Na primeira parte, Mauro estuda o << folclore e sociologia do sexo no Nordeste brasileiro: uma contribuição >>. Mas é em << pornoerotismo & adivinhas >>, onde oferece as contribuições mais saborosas, especialmente com as perguntas de duplos sentidos, que aparentemente oferecem respostas maliciosas, mas na verdade são ingênuas questões. Por exemplo, a pergunta << qual é o lugar onde a mulher tem o cabelo mais pixaim >>, tem como resposta correta: << na África >>. Ou então, a quadrinha recolhoda pelo escritor Veríssimo de Melo no seu estudo << Adivinhas >>: << o que é, o que é/Luis tem na frente/Miguel tem atrás/As solteiras têm no meio/As casadas não têm mais? >>. Resposta: << a letra << L >>. A última parte do estudo de Souto Maior é sobre << o sexo na literatura popular nordestina >>, onde inicia com uma apresiação das mais interessantes, que merece transcrição. << A literatura popular nordestina viveu seus grandes dias nas décadas de 20 a 40, quando existiam menos véiculos de comunicação social e os existentes não tinham tanta penetração como agora. O rádio dava seus primeiros passos, sem auxilio do transísto, a televisão ainda era um sonho e as revistas em quadrinhos começavam a engatinhar. O homem da zona rural nordestina formava um círculo em torno daqueles que tinham alguma leitura e, á luz dos candeeiros de querosene, nos galpões das fazendas, escutava folhetos contando as estripulias do padre Cícero, de Juareiro, as aventuras de Pedro Malazartes, do Amarelinho e de outros he'rois populares. O folheto era uma parte de lição do sertanejo com o mundo e uma maneira de pensa (<< pensar >>) e colocar opiniões sobre ele. Daí a vastidão de seus temas, que vão dos heróis aos costumes cotidianos, incluindo também a problemática sexual. E o mais curioso é que o fol heto não penetrava apenas nas casas pobres, mas também nas fazendas dos ricos, que o apreciavam muito. Atualmente, muitos fatores contribuem para que os folhetos sejam relegados a um segundo plano. O rádio transistorizado conquistou as mulheres com suas novelas. As revistas em quadrinhos e as escolas tiraram outra fatia considerável dos apreciadores da literatura popular. Os homens se deixaram apaixonar pelo futebol e pelas aventuras de Jerônimo, o herói do sertão. A televisão, contando com o auxilio das pregeituras do interior que colocaram aparelhos em praça pública, transformou Chacrinha, Silvio Santos e Flávio Cavalcanti em quase heróis, partindo do princípio chinês de que mais vale uma imagem do que 10 mil palavras, principalmente para quem não sabe ler. Outro fator foi a migração do homem rural que, acossado pelas estiagens prolongadas., partiu para outras terras. E mesmo quendo volta, traz outros hábitos nas grandes cidades e vem gostando de outras distrações. Os poetas populares não tiveram mais nenhum grande herói de quem cantassem os feitos. Os poderes públicos passaram a usar o folheto como um excelente meio de comunicação, como aconteceu com o governo federal na campanha de incentivo à agricultura ( >>Plante que o Governo Garante >>), quando editou folhetos de José Costa Leite intitulados << O Homem que Enricou Porque Plantava Algodão >> e << Um Pequeno Agricultor que Se Tornou Fazendeiro >>,cujas edições de 50 mil e 150 mil foram largamento distribuidas na Zona Rural. Os políticos também costumam usar a mesma arma no tempo das eleições, procurando se endeusar aos olhos do povo, apregoando suas vírtudes e promessas. Com a onda de erotismo que está invadindo o mundo os poetas populares aderiam ao movimento. E tanto é verdade que o sociólogo Carlos Alberto azevedo, em << O Erótico e o Massiânicona Literatura do Cordel >>, reformulou com muito acerto à classificação de literatura popular, criando outros ciclos, entre os quais o erótico ou da obscenidade, que eu prefiro chamar de ciclo pornoerótico >>. A seguir, Mário Souto Maior dá uma série de exemplos. Que, obviamente, não podem aqui ser transcritos. Mas a quem se interessar possa, seu livro pode ser solicitado as Edições Piratas. Rua Betânia, 10/102, Derby, Recife, PE, 50 000. xxx utor de tantos estudos dos mais interessantes (<< Cachaça, 70; << A Morte na Boca do Povo >>, 74: << Território da Danação >>, 75; << Nordeste: A Investida e Folclora >>, 79), Mário Souto Maior anuncia mais 3 importantes estudos para breve: << Painel Folclorico do Nordeste >>, << Sogras: Prós & Contras >> e << Comes & Bebes do Nordeste >>. FOTO LEGENDA- Mário Souto Maior
Texto de Aramis Millarch, publicado originalmente em:
Estado do Paraná
Almanaque
Tablóide
1
20/06/1980

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