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Aramis

O revolucionário Schoenberg e Bach nas teclas de Martins

Com a música erudita ocorre, de certa forma, o mesmo que acontece com a economia brasileira: há um processo de empobrecimento da classe média que se reflete na recessão que atinge a todos, mas uma camada especial acumula cada vez maiores lucros. Por isso, Pierre Cardim se dá ao luxo de, acintosamente, inaugurar o Maxim's, no Rio de Janeiro, com pratos a Cr$ 100 mil. A fonografia, que também sentiu diretamente a dureza do ano que se encerrou, teve que adotar novo marketing de lançamentos, escolhendo comercialmente os títulos a serem editados. Por exemplo, a Copacabana, fábrica 100% nacional que requereu concordata em 1983, apesar de ser detentora de valiosas etiquetas de música erudita internacionais, há dois anos suspendeu qualquer lançamento da área, carregando sua produção na produçãorural/-rurbana, ou de artistas estilo Gretchen. A RCA, com todo seu poderio multinacional, que nos EUA e Europa faz lançamentos de primeira ordem - a famosa série Red Seal - raramente se aventura a edições de música clássica, jazz ou mesmo trilhas sonoras. Em compensação, outras gravadoras acreditam na fidelidade do público de alto poder aquisitivo, exigente e que consome música clássica. E assim a Polygram, Odeon, WEA e Barclay (ex-Ariola), para citar quatro exemplos tem, corajosamente, feito excelentes lançamentos, que chegam a um público alvo bem definido. São gravações primorosas, quase todas no caso da Polygam pelo processo digital, já que o consumidor deste produto é, com razão, possuidor de aparelhagem de altíssimo nível técnico, acostumado com a qualidade de presenagem dos discos importados (que custam hoje acima dos Cr$ 18 mil). A divulgação dos discos clássicos restrimgem-se a raras colunas especializadas na imprensa e menos de uma dezena de emissoras espalhadas pelo Brasil, que mantém programação especializada. Mas o comprador sabe o que quer e as lojas que comercializam basicamente os clássicos, sabem que o retorno é certo - mesmo para lançamentos mais caros, como as operas integrais, a exemplo das caixas que a Polygram tem editado como "Tristão e Isolda", de Richard Wagner (1813-1883), com o Coro da Rádio de Leipzig, sob regência de Gerhard Richter e a Orquestra do Estado de Dresde, dirigida por Carlos Kleiber, trazendo os solistas René Kollo, Kurt Moll, Margaret Price, Dietrich Fischer-Dieskau, Werner Gotz, Brigitte Fassbaender, Anton Dermota, Wolfgang Hellmich e Hberhard Buchner. Um lançamento, considerado pelos expertos em ópera, como um dos melhores do ano. A quem aprecia o canto lírico, outro lançamento de primeira categoria é que taz a soprano Anja Silja, acompanhada pela Orquestra Filarmônica de Viena, sob regência de Christoph von Dohnanyi, interpretando peças de Arnold Schoenberg (1874-1951). Trata-se de um disco para conhecedores exigentes, que se interessam pela obra do compositor austríaco, que tendo inicialmente assimilado a arte dos grandes românticos alemães (Brahms e Wagner), suprimiu as funções tonais clássicas, passou pelo atonalismo (fase intermediária de sua evolução, 1898/1923), para criar o método de composição baseada no uso dos doze sons da escala cromática (dodecafonismo), que confere à música atonal um princípio estruturador e no qual enhum som é mais importante que o outro. Deixando uma obra imensa - da qual a mais conhecida é "Pierro Lunaire" - Schonberg revolucionou a história musical do século XX. A naturalidade com que os compositores contemporâneos usam todas as notas de escala cromática não teria sido possível sem as inovações trazidas pela técnica serial. Neste lançamento que a Polygram/ London faz agora no Brasil, Anja Silja interpreta "Erwartung opus 17", em quatro movimentos e seis canções - num trabalho realmente da maior importância aos mais exigentes públicos. O CRAVO DE BACH POR MARTINS - Ao lado de Arthur Moreira Lima, seu amigo e com quem tem dividido muitos concertos, João Carlos Martins (SP, 25/6/1940), é um dos recitalistas mais preocupados em levar a música dos grandes mestres ao máximo de ouvintes. Assim tem participado de projetos de popularização musical, gravado intensamente desde que voltou ao piano, após ter se afastado por anos dos teclados e ocupado, no governo Paulo Malluf, a Secretaria da Cultura de São Paulo. Enquanto Arthur Moreira Lima vem gravando a obra de Chopim, numa produção independente - já com 12 elepes em três caixas - Martins vem registrando a integra da obra de Bach, através da Sound Stream e Capitol usando o moderno sistema digital, em Los Angeles, na Igreja da Pomona College no Centro Universitário de Claremont, para amplo aproveitando das condições do local inteiramente construído em madeira, formando uma das acústicas mais perfeitas atualmente. A série de "O Cravo Bem Temperado", de John Sebastian Bach, está sendo lançada na Europa e América do Norte, produzida no Brasil pela Barclat e distribuída pela Polygram. Três novos discos desta obra prima de Bach acabam de ser colocados nas lojas, justamente os volumes 2 de "O Cravo Bem Temperado", que incluí os prelúdios e fugas de 1 a 27. Ensina o musicólogo José Eduardo Martins, que entre as obras didáticas compostas por Bach, os dois volumes do "Cravo Bem Temperado", contendo cada um vinte e quatro Prelúdios e Fugas, são as mais importantes. Os Prelúdios representam uma evolução técnico-tecladista em relação às obras também didáticas, como Invenções a duas e três vozes. As fugas desenvolvem a total independência digital do intérprete.
Texto de Aramis Millarch, publicado originalmente em:
Estado do Paraná
Nenhum
Música
08/01/1984

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