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Aramis

O riso em discos

Em época de crise, nada melhor do que o riso para ajudar a sobrevivência. Assim, não é de se estranhar que enquanto espetáculos culturalmente importantes fiquem de casas vazias, Juca Chaves ou Chico Anísio consigam lotar os espaços onde se apresentam, com preços que vão de Cr$ 500,00 a Cr$ 1.500,00. E o riso não fica apenas nos palcos: na televisão e, ultimamente, também em gravações. Juca Chaves tem seus shows editados pela WEA, em envelopes lacrados, com proibição para venda a menores de 18 anos, atingindo expressivos índices de vendagem. Chico Anísio que também é compositor (inclusive de sucessos gravados por Dolores Duran, nos anos 50), também passou agora a ter seus shows lançados em discos e fita pela WEA, que está cobrindo todos os setores: do humor ao caipira, só não tendo ainda se decidido pelo erudito. Jô Soares, um dos humoristas mais conhecidos do Brasil, tem agora o seu show "Viva o Gordo, Abaixo o Regime" (240 mil espectadores somente no Rio de Janeiro) registrado em disco, que um novo selo, a K-Tel lança neste mês. Será o primeiro show de Jô em elepê, embora em 1963 tivesse gravado um compacto simples e, há alguns anos, pela Sigla, feito um lp com o seu personagem "Norminha". Com esta edição, aumenta a até hoje pequena discografia de espetáculos teatrais em discos. Aliás, há 20 anos, Zé Vasconcelos, com "Eu Sou O Espetáculo", mostrava as possibilidades do humor gravado chegar as paradas: aquele pioneiro lp vendeu mais de 50 mil cópias, um record para a época, estimulando a fazer novos lps na Odeon, por onde também saíram discos de Vitório e Marieta, uma dupla comica de sucesso no rádio. Zé Trindade, comediante do rádio, e cinema, televisão, hoje afastado da vida artística, também teve alguns discos bem colocados no mercado assim como Zé Praxedes, pela Continental. O tema "humor fonográfico" comporta um amplo estudo, pois afora os discos de shows ou comediantes, há toda uma gama de musicas de duplo sentido, que vem aumentando com a liberação da censura. Pena que a inspiração e o talento sejam, muitas vezes, suplantadapela apelação e mau gosto visando apenas a vendagem comercial. A CBS encontrou no humor caipira-ingênuo de "Jacinto, o Donzelo", um excelente ponto de vendas, estimulando, aliás, novos lançamentos nesta faixa. Assim temos o nordestino Messias Holanda, que em "Menina da Mala", apresenta uma seleção de músicas de duplo sentido, insinuantes a partir dos títulos: "Machuca meu bem", "Faz vergonha e ele", "Forró chiando"etc. Já Lilico, popularíssimo há mais de dez anos, já cantado em muitos sucessos ("Aquele abraço...", de Gil; "Fumacê", dos Golden Boys; "Eu não sou de realengo", de Benito Di Paula etc. reúne piadas diversas em "As Que O Bocage não contou", lp onde Lilico é apresentado como "o homem de um bumbo só" (CBS). As fotos da capa do disco, já insinuam o clima malandro desta produção de Abdias, do selo Uirapuru, responsável também pelo disco de Edson Duarte, "o homem da perna de pau". Mais para o canto do que para a narração, Edson inclui composições próprias ("Maria Helena", "O menino, o vizinho e a pipa"), e de outros autores, Cecéu ("De cigarro no bico"), Chico Xavier ("Núcleo pra todo lado", "São João no Ipiranga", "Me dá o rádio"), Isve Cavalcante ("Gente linguaruda"). Mas o humor não é privilégio dos nordestinos. O gaúcho Ivan Taborda, líder do trio Os Maragatos, cuja vendagem só no Oeste/Sudoeste do Paraná garante sua permanência na Chantecler, também utiliza muito bem o humor gauchesco. Com "Não aperta que machuca" chega ao volume nove da série de elepes que a Chantecler mantém em catálogo: "Baile do Seu Amaranto", "Alvorada de Campanha", "Campereadas", "Gauchadas do seu Amaranto", "Dando nó em pingo d'água" etc. Neste nono volume, como os anteriores bem promovido regionalmente, por Adalberto Heynz, temos fandangos de campanha, "os bailes de rancho onde mestre-sala sempre atento de rebenque em punho, cuidava do fandango para que não faltasse o respeito e de quando vez, num gesto gracioso, gritava: "não aperta que machuca, chê", como diz Taborda, na contracapa. Sem preconceitos elitistas, é importante ouvir o humor simples de gente do povo. E rir ainda é o melhor negócio. Ou, como naquela famosa charge, de um cidadão atravessado de punhais, dizendo: "só dói quando eu rio...". LEGENDA FOTO 1 - Jô Soares.
Texto de Aramis Millarch, publicado originalmente em:
Estado do Paraná
Nenhum
Tablóide
20
10/08/1980

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