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Aramis

O som dos pampas (II) - Galileu e Coelho com suas canções de amor

GALILEU ARRUDA (Passo Fundo, RS, 1953) - é o exemplo da força de vontade, dedicação e entusiasmo somado a um grande talento. Em 1982, durante as várias eliminatórias do MPB-Shell, de cujo júri fizemos parte, tivemos ocasião de conhecer Galileu Garcia, então morando no Rio de Janeiro e buscando seu espaço num terreno movediço e difícil. Em inesquecíveis almoços-jantares na casa de uma das pessoas que mais força dava a Galileu, a incrível e eclética Isolda D'Ambrósio (cuja importância na MPB em trabalho dos bastidores, um dia será reconhecido em prosa e verso), conhecemos a música de Galileu. Canções românticas e suaves, nas quais não deixava, entretanto, de colocar suas raízes gaúchas. Só em 1983, Galileu conseguiu fazer seu elepê - na etiqueta Trilhas, ligada - infelizmente - a Continental, gravadora de passado nobre mas que há dois anos vive uma imensa crise ao ponto de estar sem qualquer promoção. Com isto dezenas de jovens artistas que ali tiveram a infelicidade de fazerem gravações foram prejudicados, pois os discos não mereceram qualquer trabalho de divulgação. Assim mesmo, Galileu, vem trabalhando este seu disco, procurando motivar programadores e, de volta a Porto Alegre, participando ativamente da intensa vida musical que existe no Rio Grande do Sul. Assim, quem encontrar o seu disco em alguma loja deve adquiri-lo. Trata-se, no mínimo, de um dos mais bonitos trabalhos de um compositor-intérprete da maior sensibilidade, que percorre diferentes temas - e mesmo esvoaçando sempre do lado romântico não deixa de trair sua origens nativistas. Gravado entre maio/agosto de 1983, no estúdio Eger, em Porto Alegre, Galileu teve uma carinhosa participação de músicos-amigos, integrados ao seu trabalho. Suas canções falam de saudade, amor, emoções e espaços - como na lírica "Frutas", citando as praias gaúchas. "Azulão" - com uma letra bastante simbólica - não desmerece a este pássaro que, há mais de 50 anos, inspirou uma antológica - e única parceria dos poetas Manuel Bandeira/Jaime Ovalle. Diz, por exemplo, Galileu em seu "Azulão". Eu ando assim revoando/Mais parecendo azulão Nariz a um palmo da lua/Sombra gigante no chão Poeta lírico, Galileu Garcia é um artista de uma imensa voltagem e ternura. Pessoa humana fantástica, buscando seu espaço na música brasileira, tem muita emoção para passar - seja num tema tão gaúcho quanto "Fogo Apagou" (no qual se destaca o solo do acordeonista Albino Manique) seja num poema-canção quase concreto como "Salina", com uma letra-poesia síntese da maior empatia. Enfim, um entre tantos valores gaúchos que merece ser ouvido com atenção: E que, esperamos, tenha o reconhecimento que merece. NELSON COELHO DE CASTRO foi escolhido "Personalidade Musical de 1983" pelo rigoroso e atuante jornalista Juarez Fonseca, editor de música de "Zero Hora" e que está concluindo dois livros importantes - um sobre o fervilhar da música gaúcha nos últimos 10 anos e outros, para a Tchê Edições, sobre o trovador Gildo de Freitas, falecido em dezembro de 1983. Realmente, Nelson Coelho mereceu a distinção dada por Juarez. Em 1983 ele venceu o I Musicanto, em Santa Rosa, com a belíssima "No Sangue da Terra nada Guarani" interpretada pela suave e afinada Berê (excelente cantora gaúcha, hoje radicada no Rio de Janeiro), fez a música-tema "Armadilha" do lírico filme "Verdes Anos" (produção de um grupo de jovens de Porto Alegre, premiado no Festival de Gramado, em 1984) e, com ajuda de mais de 100 amigos, conseguiu lançar um elepê independente ("Juntos"). Um disco tão bem produzido e com uma carga de emoções musicais tão imensa que, merecidamente, foi relançado pela Barclay em dezembro do ano passado - antecipando o novo elepê de Nelson, este já produzido com todos os recursos. Nelson Coelho de Castro tem muitas ligações com Curitiba. Aqui passou parte de sua adolescência, morando na Vila dos Bancários e foi em lanchonetes na Avenida Iguaçu, em meados dos anos 70, que começou a fazer suas primeiras canções. Hoje, novamente morando em Porto Alegre, é um dos artistas mais requisitados, podendo sobreviver (bem) exclusivamente de sua música. Vencedor do I Musicanto, era um dos concorrentes favoritos da segunda edição deste festival de música nativista, em outubro último mas, surpreendentemente, mesmo apresentando uma das mais belas músicas da mostra, acabou sendo, injustamente desclassificado. Coisas de festival que a própria razão desconhece...
Texto de Aramis Millarch, publicado originalmente em:
Estado do Paraná
Almanaque
Tablóide
23
03/03/1985

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