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Aramis

O som dos pampas (III) - KK, uma dupla que deu certo

Se há dezenas de talentos da música gaúcha ainda a espera de maior reconhecimento nacional - apesar de um regular trabalho em shows, festivais e mesmo discos produzidos no RS - a dupla Kleiton & Kledir (Ramil), gaúchos de Pelotas, ex-integrantes do grupo Almôndegas, hoje já estão entre os superstars. Ultrapassaram a barreira dos 100 mil discos vendidos e conseguiram popularidade - da comunicativa "Vira Virou" ou da ironia do "Gaúcho Bunda Mole" que foram buscar nos versos de um dos mais interessantes trovadores gaúchos, Gildo de Freitas - falecido em dezembro de 1983 e que está sendo biografado por Juarez Fonseca, editor de música da "Zero Hora", para lançamento em livro pela Tchê Edições, na série "Esses Gaúchos", idealizado pelo editor Ayrton Ortiz. É aliás Juarez Fonseca que explica bem a posição de Kleiton & Kledir na atual MPB: são pioneiros, porque entenderam cedo que um novo processo estava acontecendo. E se deram bem, porque souberam decodificar esse processo fazendo uma ponte entre o tradicional, o regional e o novo, o universal. No quarto disco da dupla ("Roda de Chimarrão", Barclay), eles vão fundo ao Rio Grande do Sul, sem deixar de lado suas vivências no Centro do País, sem deixar de lado a alma média do povo brasileiro, e sem deixar de lado, naturalmente, o mundo que naturalmente, não pára de entrar nos corações e mentes das grandes cidades e das menores "bibocas" interioranas - como acentua Fonseca no release que acompanhou o disco. De uma homenagem ao "Beijoqueiro", feita ao ritmo do cha-cha-cha, KK pulam para o ritmo meio funk de uma "Morena de São Paulo". Daí para a canção romântica em "Tesouro" e em "Fundo Mar", passando pelo alienígena "Can Can do Brasil", este País que "abre as pernas, feliz pro FMI" (e proibido por dona Solange de ter divulgação em rádio). E vem a lembrança das grandes enchentes do Sul, em "Por Água Baixo", e vem uma surpreendente - a primeira - marcha carnavalesca gravada pela dupla - "Pato Macho". "Deu Pra Minha Bolinha" mistura chote com rock, e em "Bailão" os irmãos Ramil falam da manifestação popular gaúcha que corresponde ao forró. Em "Roda de Chimarrão", a participação afetuosa do gaiteiro Renato Borghetti, que com seu primeiro elepê (Sigla/RBS) vendeu mais de 100 mil cópias (primeira vez que um instrumentista obtém disco de ouro no Brasil). "Só Peço a Deus" é uma versão de uma música de um novo compositor argentino, Leon Gieoo. Aliás, a identificação de KK com a Argentina e Uruguai é grande. Tanto é que fizeram no ano passado um elepê em espanhol - já lançado na Argentina, Venezuela e México e participaram das gravações do novo disco de Mercedes Sosa, cantando juntos "Vira Virou". Ainda em 1984. Kleiton e Kledir produziram aquele que foi, em nosso entender, um dos melhores discos do ano: o vanguardista "A paixão de V... Segundo Ele Próprio", com o mano mais moço, Victor Ramil, apresentando um trabalho extraordinariamente criativo. Victor, que anteriormente havia gravado um modesto disco na Polygram, tem uma linha inteligentíssima de criação e apesar de não encontrar ainda a popularidade dos dois irmãos bem sucedidos, merece ser observado com atenção. Kleiton e Kledir reúnem humor, ritmo, canções abertas - num trabalho de bom gosto e inteligência. Razões para merecerem o espaço nacional - que outros talentos gaúchos devem seguir em breve.
Texto de Aramis Millarch, publicado originalmente em:
Estado do Paraná
Almanaque
Tablóide
27
10/03/1985

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