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Aramis

"O Último Imperador" é o grande favorito do Oscar

É o favorito não restam dúvidas. Como aconteceu com "E o Vento Levou " em 1935, "Ben Hur" em 1959 ou "Ghandi" há quatro anos, é possível que ao final da festa do Oscar (segunda-feira, 11), "O Último Imperador" termine levando os principais Oscars desta 60ª edição da mais glamourosa festa do cinema mundial. Méritos não faltam para que o filme de Bernardo Bertolucci (lançamento dia 14, cine Bristol) seja o grande vencedor. Desde sua primeira exibição especial, no encerramento do IVº FestRio (novembro/87), antes mesmo de sua estréia comercial em Paris e Los Angeles, o entusiasmo que o cercou foi grande. Bertolucci confirma ser um dos grandes cineastas contemporâneos ao levar a tela a história do trágico imperador Pu Yi (1904-1967), cuja vida torna-se agora, 21 anos após a sua morte objeto de interesse do grande público - não só pelo lançamento do filme mas provocando também a edição, simultânea de três biografias. Pu Yi foi realmente um personagem trágico e fantástico, definido até como "um Peter Pan oriental, flutuando como uma rolha ao sabor do curso da história". Para outros, mais rígidos, um camaleão que procurou sempre estar numa boa situação - embora sofresse, em sua aparente riqueza e conforto na primeira metade de sua vida, uma prisão de luxo. Em mais de 50 anos testemunhou o fim da dinastia Ching e a instauração da primeira república de Sun Ya-Sen, os déspotas da década de 20 e os Kuomintang de Chiang Kai-Shek; a invasão japonesa, quando foi transformado em imperador-fantoche da Mandchúria ocupada; a II Guerra Mundial e a fundação da República Popular da China, uma década dos programas de reeducação de Mao e o início da Revolução Cultural. O homem antes do mito - Como o aristocrata Luchino Visconti (1906-1976), Bertolucci, italiano de Parma, 47 anos, é um cineasta requintado, marxista convicto que não teme as superproduções, para o desenvolvimento de grandes painéis históricos. Tanto é que há 12 anos, depois do êxito do polêmico "O Último Tango em Paris" (1972), fez um imenso afresco da vida italiana em "Novecento", no qual, cobrindo cinco décadas da vida política e social italiana, através da história de dois irmãos - um vindo da aristocracia rural, e um filho de lavradores, oferecia amplos pontos para reflexão dos espectadores. Assim, uma história de lances épicos, com milhares de extras, numa produção de mais de US$ 25 milhões, primeira, aliás rodada na China Comunista por uma equipe ocidental (só depois é que Spielberg conseguiu autorização para fazer em Xangai algumas seqüências de "O Império do Sol", como "O Último Imperador" corria o grande risco de se transformar apenas num espetáculo de puro entretenimento. Afinal, na história do cinema, com poucas exceções ("Spartacus", de Stanley Kubrick, por exemplo), a grandiloqüência, o entrecruzar de centenas de personagens etc, em filmes imponentes, belos, sucessos de público mas, no frigir dos ovos acabam, ocos em seu significado como obras de arte e questionamento humano. Bertolucci, com a sensibilidade de quem aprendeu a dirigir grandes espetáculos mas sem jamais se afastar do lado humano de seus personagens, - e para tanto basta lembrar "A Estratégia da Aranha"(69), "O Conformista" (10, uma das mais profundas análises do fascismo) e especialmente "L'Último Tango a Parigi", soube trabalhar no roteiro, em colaboração com seu cunhado, Mark People (sua esposa, Clara, é também diretora, realizadora do interessante "High Season", visto no último FestRio), de forma que a beleza das imagens do consagrado Vittorio Storaro ("Apocalypase Now", "Reds") e que com ele já havia trabalhado em "A Estratégia da Aranha" e "O Conformista", não ficasse apenas no deslumbramento visual. Ao contrário, a beleza plástica de "O Último Imperador" - páreo difícil para Allen Daviau (de "Império do Sol") e Philippe Rousselot ("Esperança e Glória" - também candidatos ao Oscar nesta categoria (a qual concorrem, ainda o veterano Haskell Wexler por "Matewan" e Michael Balhaus, de "Nos Bastidores da Notícia") - não chega ao formalismo que, muitas vezes, aliena a densidade de uma história antes a beleza formal (pecado que alguns críticos mais rigorosos vêem em "O Império do Sol", de Spielberg). Ao contrário, em "O Último Imperador" há uma contenção, um rigor nas imagens, que sem desprezar toda a beleza de cenários grandiosos, como a Cidade Proibida (pela primeira vez foi dada a uma equipe de cinema do Ocidente autorização para ali fazer filmagens), não se afasta do principal - a densidade dramática da história. Obviamente que um filme como "O Último Imperador" - pelos seus múltiplos aspectos, trazendo toda uma gama de informações em torno de fatos ocorridos em nosso século, mas até agora desconhecidos do grande público, comportam inúmeras interpretações, assim é compreensível que entre a visão nostálgica e lírica de "Esperança e Glória", do inglês John Boorman e a ótica sempre afetiva e humana de um menino inglês durante a guerra, num filme com título parecido (e portanto capaz de confundir os menos informados) como faz Spielberg em "O império do Sol", seja "O Último Imperador" o favorito para os Oscars de melhor filme e direção - duas das nove categorias que disputa. "Feitiço da Lua", de Norman Jewison, carinhosa e bem humorada crônica sobre uma família italiana no Brooklyn, poderá surpreender e levar os Oscars principais. E, se por um aborto da cabeça dos integrantes da Academia de Artes e Ciências Cinematográficas de Hollywood, o filme-canalha do ano, o abominável, desonesto e medíocre "Atração Fatal", de Alna Lynne, sair na segunda-feira com alguma premiação, estará, definitivamente, confirmada a senilidade do velho titio Oscar - que, numa prova já de arteriosclerose inclui "Fatal Atraction" entre os nominados - preterindo obras como "A Era do Rádio", de Woody Allen (indicado apenas para melhor roteiro original), "Nascido para Matar", de Stanley Kubrick "Os Mortos" último filme de John Huston (1906-1987) (que concorrem apenas a roteiro adaptado). Ao longo de sua história, o Oscar teve momentos de grandeza mas também por várias vezes pisou na bola. Hoje, como festa maior do cinema, especialmente em termos de marketing promocional dos filmes que conseguem sua nomination, a responsabilidade aumenta. Portanto, não é sem razão que há grande expectativa pelos resultados finais que serão anunciados na madrugada de segunda-feira. LEGENDA FOTO - John Done, ator visto até agora apenas como o vilão de "O Ano do Dragão", é o intérprete do imperador Pu Yi - ao lado de Joan Chen (a imperatriz Wan Jung).
Texto de Aramis Millarch, publicado originalmente em:
Estado do Paraná
Nenhum
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08/04/1988

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