Login do usuário

Aramis

O velho olhos azuis está de volta!

Você já viu este filme. Ou leu esta manchete: Aos 73 (ou 75, há discussões a respeito) anos completados no último dia 12 de setembro, the old blue eyes está de volta. E tem mais: já se anuncia que na excursão mundial iniciada há meses e que até agora já passou pelas maiores metrópoles do mundo estará incluída, ainda neste trimestre, uma única apresentação no Maracanã, no Rio de Janeiro. Há uma razão sentimental para que The Voice deseje, pela primeira vez, voltar a pisar em solo brasileiro. Foi há exatamente dez anos - no dia 26 de janeiro de 1980, quando aqui esteve pela primeira vez (após anos de demoradas negociações), que entrou no Guinne's Book of Records: até agora, o maior número de espectadores para ver um artista popular foi o daquela tarde em que 175 mil pessoas pagaram para ouvir Frank Sinatra desfilar um repertório das músicas mais ouvidas e cultuadas em todo esse nosso mundo ocidental. Um recorde que agora o ex-beatle Paul MacCartney quer quebrar. Tanto é que após meses de negociações o governador Moreira Franco, do Rio de Janeiro, afinal autorizou seu show no Maracanã dentro de algumas semanas - e para o qual centenas de curitibanos já estão fazendo reservas. xxx A excursão mundial de Sinatra pretendia reeditar a época dourada da chamada Pat Rack - o clã que no virar dos anos 50 e início da década de 60 reunia os atores Joey Bishop e Peter Lawford (1923-1985) - então cunhado do presidente John F, Kennedy - e os cantores-atores Dean Martin e Sammy Davis Júnior. O grupo era unidíssimo. Fazia comédias deliciosas ("Onze Homens e um Segredo", "Robin Hood de Chicago", "Os Três Sargentos" etc.), nos quais o consumo de scotch nos bastidores não impedia que o resultado na tela deixasse de encantar o público. Estavam em boa forma, contribuindo para o folclore de sexo-bebidas-confusões que a imprensa divulgava, para fúria de Sinatra. O tempo passou e ao tentarem um revival daquela época, a partir de uma temporada aberta no Oakland Coliseum, em 10 de março de 1988, se verificou que a resistência não era mais a mesma. Embalados por generosas doses de Jack Daniels, Dino - o Dean Martin, 73 anos, foi a primeira baixa: internado às pressas, saiu do roteiro. Sinatra e Sammy convocaram Liza Minelli, 37, filha de uma grande amiga (e ex-amante) de Sinatra, Judy Garland (1922-1969), que segurou a peteca e o roteiro vem sendo desenvolvido com mais tranqüilidade, com menos Jack Daniels mas impulsionado, naturalmente, por milhões de dólares. Afinal, ver no mesmo palco Sinatra, Sammy Davis Jr., e Liza é uma oportunidade única - que justifica até US$ 400 o ingresso - preço que chegou a entrada em algumas cidades americanas e européias incluídas no roteiro. Anuncia-se, por outro lado, mais uma vez que Sinatra estaria voltando a filmar - ele que, previdentemente, ao sentir o peso da idade, espaçou cada vez mais suas atuações. Falou-se até que estaria gravando um novo disco, embora após a má vontade de grande parte da imprensa - sempre sua maior inimiga - em relação às suas últimas gravações (especialmente "L. A. Is My Lady"), um tentativa de dar a Los Angeles um hino não oficial tão comunicatrivo quanto foi "Chicago", no anos 60 e "New York, New York" na década de 70) tenham pesado muito na decisão de não expor sua voz já não tão vigorosa - mas ainda maravilhosamente afinada - à crítica, apesar do público lhe ser sempre fiel. Mais seguro é ouvir o melhor de Sinatra em dezenas de gravações que com a maravilha da tecnologia reapareceram nestes últimos oito anos em CDs, com registros de suas passagens pela RCA, EMI/Odeon, CBS e Reprise - sua própria etiqueta, que venderia à Warner Communications. Há um tesouro imenso em Sinatra - e seus fãs - e quantos milhões eles são em todo o mundo? - buscam agora substituir os velhos LPs, com chiados e arranhados, por perfeitos CDs - mais ou menos como fizeram nosso pais, ao trocarem os pioneiros 78 rpm nos quais ouviram pela primeira vez a voz de Sinatra - e que foram transpostos depois para os reluzentes LPs aparecidos no final dos anos 40. The Voice é tão notável que, cremos, na passagem para o ano 2000 com tecnologia ainda mais fascinante - sua voz estará perpetuada, como veio pelo 78 rpm, passando pelos elepês e chegando hoje aos CDs que, no Brasil, já atingem meia dúzia de títulos (nos Estados Unidos, há mais de sessenta CDs com diferentes fases de sua carreira) que a CBS, Odeon e WEA (Reprise) te colocado nas lojas. Para quem não dispõe de cacife para substituir a discoteca sinatreana por CDs - como fez o bilionário Caetano Rodrigues, de Curitiba - a opção está ainda em aproveitar reedições de fases diversas como a CBS, período em que Sinatra teve uma de suas mais brilhantes fases (antes de passar para a Capitol), vem fazendo no Brasil. Após o álbum duplo "Frank Sinatra Hello Young Lovers" que foi colocado nas lojas em fevereiro de 1988, com 25 registros entre 1943/51 - extraordinariamente bem produzido (capa dupla, fotos de época, textos explicativos de cada faixa), tivemos uma outra reedição mais modesta: em capa simples, foram reunidos os elepês "Aventures of the Heart" e "The Broadway Kick", apresentadas na coleção "Retrato de Artista" que Maurício Quadrio, diretor de projetos especiais da CBS desenvolve em colaboração com Henrique Sverner, da cadeia Breno Rossi - que teve exclusividade de vendas por 180 dias. Agora, mais uma pescaria nos anos jovens de Sinatra na CBS resultou em "Rarities", produzido por James Isaacs e Joe McEwen. Infelizmente, sem os cuidados de "Hello Young Lovers" - ou seja, ausência de textos informativos detalhados de cada faixa, há, entretanto, ao menos um texto de contracapa de Jonathan Schwartz, um vienense apaixonado por Sinatra e que explica, embora de forma muito sucinta, as origens broadwaynianas da canções incluídas nesta antologia. Pesquisamos e completamos aqui as informações. São hits que apareceram em musicais da Broadway entre os anos 40/50 e que tiveram em Sinatra interpretações marcantes. É o caso de "Why Souldn't I?" que Cole Porter (1891-1964) compôs para "Jubilee". "Two Hearts Are Better Than One", de Johny Mercer (1909-1979) e Jerome Kern (1885-1945) se ouviu pela primeira vez em "Centennial Summer", enquanto a conhecidíssima "The Girl Taht I Marry" foi composta por Irving Berlin (1888-1899) para o musical "Annie Get Your Gun", biografia da famosa pistoleira (no sentido real) do Oeste americano Annie Oakley (1860-1926). O mesmo Berlin é o autor de "I Dance With You", da trilha de "Easter Parade". Da dupla J. Burke/Jimmy Van Hussen, temos "When are Sometime?" do musical "A Connecticut Yakee in King Arthur's Court" e "Acidents Will Happen" de "Mr. Music". Mas sucessos avulsos, que estão entre o melhor do que se fez na música americana também aparecem, como o clássico "Stella By Starlight" que Ned Washington (1901-1976) e Victor Young (1900-1956) compuseram para um filme que se perdeu na fumaça do tempo ("The Unvited") mas que está, 50 anos depois, como um clássico eterno - embora identificada a interpretação que Ray Charles lhe deu. Assim como "Nature Boy" (E. Habez), considerada o hino dos gays americanos dos anos 40, tenha ficado para sempre identificada com Nat King Cole (Nathaniel Coles, 1917-1969) - de quem a EMI/Odeon acaba de lançar um pacote de cinco elepês com os grandes momentos de sua carreira). Sinatra também dá sua leitura - e que leitura - destes dois standards, fazendo que "Rarities" justifique o título: um álbum maravilhoso para se tornar raridade - por enquanto ao alcance de quem se disponha a gastar NCz$ 240,00 e adquiri-lo em sua versão convencional - ou aguardar o CD que deve chegar custando mais de NCz$ 600,00. LEGENDA FOTO - Uma foto histórica: Nat King Cole e o jovem Sinatra nos estúdios da KFWB em abril de 1947, de pé, Al Jarvis e o baterista Buddy Rich.
Texto de Aramis Millarch, publicado originalmente em:
Estado do Paraná
Nenhum
Música
13
03/02/1990

Enviar novo comentário

O conteúdo deste campo é privado não será exibido publicamente.
CAPTCHA
Esta questão é para verificar se você é um humano e para prevenir dos spams automáticos.
Image CAPTCHA
Digite os caracteres que aparecem na imagem.
© 1996-2016. tabloide digital - 35 anos de jornalismo sob a ótica de Aramis Millarch - Todos os direitos reservados.
Desenvolvido por Altermedia.com.br