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Aramis

O veterano Mano, os sambas-de-enredo, Nicéas e Affonso Maia

A boa notícia saiu na semana passada: a Continental, agora com novos diretores, decidiu editar o lp do grande Manaceia, um dos veteranos compositores de escolas-de-samba do Rio de Janeiro, há muito merecedor de ter seu próprio elepê-solo - é que um grupo de amigos estava disposto a financiar, caso não encontrasse uma fábrica para editá-lo. Afinal, se só ao entrarem na casa dos 60 anos, compositores da dimensão do Divina Cartola, Nelson Sargento, Guilherme de Brito e outros tiveram chance de fazerem seus elepês solos, justo que outros sexagenários compositores possam mostrar seu trabalho autêntico, puro. Alguns, felizmente, já vêm tendo chances maiores há algum tempo. É o caso de Mário Décio da Vila (Décio Antônio Carlos), 71 anos, baiano de Santo Amaro da Purificação, registrado em Juiz de Fora, MG, mas que foi para o Rio com um ano e seis meses e desde os 14 anos mora na Mangueira, identificando-se com o bairro, o samba, as melhores tradições, embora tenha participado de outras escolas de samba (Portela, Recreio de Ramos etc.). Historicamente, foi um dos primeiros autores de sambas-enredo (1945, "Conferência de São Francisco", parceria com Silas de Oliveira) e, ao fundar, em 1947, a Império Serrano, conseguiu ser campeão quatro vezes: em 1949, com "Tiradentes" (com Penteado / Estanislau Silva); 1951: "Batalha Naval do Riachuelo" (Penteado / Molequim); 1955: "Exaltação a Duque de Caxias" (C./Silas de Oliveira) em 1960, com "Medalhas e Brasões" (com Silas), samba, que por problemas diplomáticos com a embaixada do Paraguai teve a sua letra original alterada. Autor de dezenas de sambas alguns de sucesso fora do Carnaval, só em 1975, aos 66 anos, gravou na Tapecar, seu primeiro lp, que incluiu entre outros "Hora de chorar" e "Obsessão". Pai do cantor e compositor Jorginho do Império - que apareceu nas águas de Martinho da Vila, Mano Décio encontrou na CBS, onde Jorginho é contratado, condições de trabalho. E por esta gravadora, saiu no final do ano passado o terceiro lp-solo de Mano, com participação de ótimos instrumentistas, amigos e admiradores deste veterano. Neste período carnavalesco, onde até os sambas-de-enredo estão rareando, é importante ouvir este lp, pois aqui estão os grandes sambas com os quais a escola de Mano Décio desfilou na avenida ao longo destes anos: "70 Anos do Teatro Municipal", "Tiradentes", "Heróis da Liberdade", é claro que com parceiros, mas tendo nele a sua base principal. Outros bonitos sambas de Mano Décio também estão no disco: "Uma Verdade", "Vai Meu Samba Triste", "Pancada de Amor Não Dói", "Hora de Chorar", "Ensaio Geral", "Não Sei o Que Seus Olhos Tem", etc. Falando em Carnaval, impressionante como escasseia a cada ano os discos de músicas carnavalescas. Até alguns anos, as gravadoras tentavam ainda colocar na praça elepês reeditando velhos sucessos. Depois, saíam 4 ou 6 elepês com os sambas-de-enredo das escolas do grupo 1 e 2, do Rio e São Paulo, afora também produções com músicas das Grandes Sociedades. Este ano, até agora, a Top Tap só distribuiu um único lp, com os Sambas-de-Enredo das Escolas de Samba do Grupo I - embora também tenha, contratualmente, o compromisso de lançar o lp das escolas do grupo 2. No grupo I, concorreram este ano, a Beija Flor ("O Sol da Meia Noite / Uma Viagem ao País das Maravilhas", de Zé do Maranhão / Wilson Bombeiro / Aluísio); Unidos da Vila Isabel, com "Sonho de Um Sonho" (Martinho da Vila / Rudolfo Grauna); Acadêmicos do Salgueiro com "O Bailar dos Ventos, Relampejou Mas Não Choveu" (ala dos compositores); Unidos de São Carlos com "Deixa Falar" (Elinto Pires / Sidney da Conceição); Estação Primeira de Mangueira com "Coisas Nossas" (Carlos Roberto / Ney da Mangueira); Imperatriz Leopoldinense com "O Que Que A Bahia Tem" (Darcy do Nascimento / Dominguinhos do Estácio); Império Serrano com "Império das Ilusões" - Atlântida, Eldorado, "Sonho e Aventura" (Durval / Joaquim); União da Ilha do Governador com "Bonito Bom, Bonito e Barato" (Robertinho Devagar / Jorge Ferreira / Edinho Capeta) e, por último a famosa G.R.E.S. Portela com "Hoje Tem Marmelada" (David Correa / Norival Reis / Jorge Macedo). Por enquanto, são estes os sambas-de-enredo do Carnaval-80 que estão sendo divulgados - e vamos ver qual será o que conseguirá algum destaque. xxx Hoje estamos falando de samba e registre-se dois novos compositores-intérpretes. Do Rio Grande do Norte, vem Nicéas, que tem seu lp de estréia ("Peregrinação", Continental, 1-01-404-206) bastante promovido. Nicéas Drumond é um compositor habilidoso, que busca letras oportunistas, capazes de o tornarem, facilmente, popular junto a uma faixa pouco exigente em termos de qualidade, mas que gosta do "sambão jóia". Com "Bisturi", "Sentença", "Reserva de Lágrimas", "Cavalo de Tróia", e especialmente "Aluguel" (Eu vou morar no mato), poderá chegar as paradas e faturar bastante. Já Afonso Maia em "Gente Boa" (CID, 4072) limita-se exclusivamente a interpretação composições de Jayme Cochner, produtor deste elepê, gravado nos estúdios Haway, com arranjos do maestro Carioca: "Praça Onze Aonde Nasci", "Lá Vem Você", "Gente Boa", "Tu És Natureza", "Falso Amigo", "Lamento, Que Não Saiba Viver", são os títulos das músicas principais deste lp que traz mais um candidato a faixa onde já disputam cantores como Jorginho do Império, Chico da Silva, Agepê e outros candidatos as vagas de Martinho da Vila. Todos, na verdade, esforçados - mas muito distantes dos grandes mestres - da dimensão do Divino Cartola ao iluminado Paulinho da Viola.
Texto de Aramis Millarch, publicado originalmente em:
Estado do Paraná
Nenhum
Música
29
20/01/1980

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