O Zoológico de Marina
Artigo de Aramis Millarch originalmente publicado em 31 de janeiro de 1975
Jornalista de longo currículo, cronista admirável, gravadora de sensibilidade, a ítala-brasileira Marina Colasanti, que há alguns meses veio à cidade, para aqui autografar seu segundo livro de crônicas ("Nada na Manga", Nova Fronteira / JB, 1974), inicia auspiciosamente o ano editorial com um novo e original livro: "Zooilógico" (Imago, 145 páginas, janeiro/ 75).
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São 66 minicrônicas, quase poemas em prosa, escritos com toda a sensibilidade desta mulher inteligente, ex-editora do Caderno B, do "Jornal do Brasil", tradutora de romances de Giovanni Papini ("Gog"), Alberto Moravia ("Vidas Vazias"), Jerzy Kozinsky ("O Pássaro Pintado" e "Passos") e Yasunari Kawabata ("País das Neves"), que há oito anos publicava o seu primeiro livro de crônicas: "Eu Sozinha". Esposa do professor Affonso Romano Sant'Ana, diretor do Departamento de Letras e Artes da PUC-GB, Marina está também escrevendo agora um livro de tema bem diverso de sua obra anterior: receitas culinárias, ela que é uma extraordinária mestre-cuca. Em Curitiba, quando da última vez que por aqui esteve, Marina levou a receita do "Pesto à Dolce Ácqua", especialidade do artista Franco Giglio, grande amigo do casal.
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Com prefácio do psicanalista Helio Pellegrino, "Zooilógico" está entre os livros de leitura mais agradáveis aparecidos no Brasil. São minicrônicas, algumas surrealistas, outras poéticas - todas profundamente humanas.
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"Po chu-i ": "De manhã suspirava vendo meus cabelos que caíam. À noite suspirava vendo meus cabelos que caíam. Mas muito antes dos meus cabelos, acabaram meus suspiros".
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"Na estréia": "Na noite da estréia o leão tremia tanto de emoção que, num bater de dentes, acabou decepando a cabeça do domador"
"Na noite de estréia, ao serrar sua mulher em duas, o mágico percebeu que só gostava da parte de cima".
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"Na noite de estréia, depois que todos se foram e as luzes se apagaram, a bailarina deitou-se sobre o fio e adormeceu".
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