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Os 60 anos da rádio e música do jovem Paulo

Rio de Janeiro - Paulo Tapajós é uma das personalidades mais estimadas da vida musical e cultural no Rio de Janeiro. Por mais de 40 anos atuou na - Rádio Nacional, nas mais diferentes funções. Voz privilegiadíssima, é o último modinheiro do Brasil e como produtor de programas do Projeto Minerva distribui seus amplos conhecimentos sobre a nossa MPB em audições que chegam a todo o país. De seu feliz casamento com uma grande companheira, Norma, teve três filhos - todos na vida musical: os compositores e produtores Maurício e Paulinho e a cantora Dorinha, que integrou o Quarteto em Cy em sua melhor fase. No início deste ano, um grupo de amigos de Paulo decidiu indicar o seu nome para figurar na próxima edição do "Guiness Book of Records" como o mais antigo profissional do rádio no mundo em atividade. Salvo exceção - e para isto cabe a equipe do Guinnes pesquisas - Paulo é o mais veterano: no dia 22 de abril de 1928, com seus irmãos Osvaldo (1915-1978) e Haroldo, hoje com 73 anos, Paulo, então com 15 anos, começou a trabalhar em rádio e nunca mais parou. Assim, tem nada menos que 60 anos e sete meses de atividades profissionais. Amigo e parceiro de Vinícius de Moraes em sua juventude (o poeta nasceu exatamente no dia 19 de outubro de 1913, um dia antes de Paulo), filho de um crítico de artes plásticas, criado num ambiente musical, há muito que Paulo vem sendo cobrado para escrever suas memórias. Não quer fazer - embora continue em atividade. Foi o segundo presidente da associação de pesquisadores da música popular brasileira, de cuja fundação participou em Curitiba, em 2 de março de 1975, e, pesquisador incansável acompanha eventos culturais ligados a música em todas as partes do Brasil. Como sua esposa, Norma, é gaúcha de Bagé, tem sido um dos grandes divulgadores do movimento nativista do Rio Grande do Sul. Embora tenha feito dezenas de gravações - inicialmente com seus irmãos Osvaldo e Haroldo, depois no Trio Surdina - que formou com Albertino Fortuna e Nuno Roland e também como modinheiro socialista, os discos de Paulo são raridade no mercado. Há 12 anos, na série "No tempo dos bons tempos", foi reeditado "Luar do Sertão", que havia feito na Sinter (etiqueta pertencente hoje ao acervo da Polygran). Marcos Pereira (1930-1980), ao encontrá-lo em Curitiba, durante o I Encontro de Pesquisadores da MPB, se entusiasmou e prometeu que iria produzir uma série de discos com ele revivendo a modinha brasileira. O projeto não saiu pois Marcos acabou suicidando-se. Modesto, embora ligadíssimo as gravadoras e aos veículos de divulgação, Paulo nunca se preocupou em reeditar seus discos - ou mesmo fazer novos álbuns - apesar de seus filhos Maurício e Paulinho serem excelentes produtores. Agora, um veterano radialista e publicitário, José Maria Campos Manzo, 61 anos, que há três anos vem se dedicando a relançar em fitas e discos dos anos de ouro da MPB na coleção "Assim era o Rádio", incluiu um disco de Paulo Tapajós, como décimo quinto volume na série "Os Ídolos do Rádio" - já com 15 volumes editados. Com apresentação e análise das músicas, escritas pelo próprio intérprete, o encarte que acompanha o disco já é um guia sobre a modinha no Brasil. Aproveitando exclusivamente registros de seu acervo fantástico, com gravações de programas da Rádio Nacional, Costa Manzo selecionou as músicas "Macushla", "Margarida vai a fonte", "O Pinhal", "Casa de Caboclo", "Melodia no meu bairro", "Oração", motivos poupulares ou composições de Heckel Tavares, Jaime Redondo e Caymmi, entre outros - para um disco marcante - que complementa o último pacote da Collector's, no qual estão também álbuns dedicados a Pixinguinha e Benedito Lacerda, Dircinha e Linda Batista, Aracy de Almeida e Francisco Carlos - o "El Broto" dos programas de auditório da Nacional, hoje um tranqüilo artista plástico. O lançamento do disco de Paulo Tapajós - nos quais estão como curiosidade, também suas interpretações de versões de sucessos americanos com "The Last Time I Saw Paris" e "All The Things You Are", Jerome Kern/Oscar Hammerstein II), não poderia deixar de merecer uma comemoração especial. E foi o que aconteceu na noite de segunda-feira, 28, na sede do C.R. Fluminense, do qual Paulo já foi diretor em várias gestões, torcedor (e ex-atleta) desde sua infância e sócio remido. Uma noite de alegria, com o encontro de centenas de amigos que foram levar incrível vitalidade. Na mesma noite, eram relançados dois dos raros livros escritos sobre a Rádio Nacional - que , nos anos 40 e 50 correspondia a força da Globo atualmente: "Memórias do Rádio" de Renato Murce e "Pelas Ondas da Rádio Nacional" de Luís Carlos Saroldi. Uma noite de emoção, canções e nostalgia saudável - que merecerá com que, em detalhes voltemos a aqui comentá-la nos próximos dias.
Texto de Aramis Millarch, publicado originalmente em:
Estado do Paraná
Almanaque
Tablóide
3
01/12/1988

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