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Aramis

Os bons encontros que Mário promove

O jornalista Mário de Aratanha, ex-integrante da equipe do "Jornal do Brasil", tem se revelado um produtor artístico de maior visão cultural. Após ter assessorado Walter Santos na Aulus - empresa responsável pela vinda ao Brasil de grandes nomes da música erudita e jazz - e coordenado as atividades do Ballet Stagium, Aratanha criou a sua própria empresa - a Kuarup. Trabalhando na produção de discos-brinde e empresariando shows com artistas do primeiro time - Turíbio Santos, Egberto Gismonti, Clara Sverner, Elomar Figueira de Mello etc. - acabaria, naturalmente, tendo uma etiqueta de alta qualidade. E assim, há quase 5 anos que a Kuarup vem tendo seu catálogo acrescido regularmente de excelentes produções - que naturalmente tem sido incluídas nas listas dos melhores de cada ano. A grande imaginação de Aratanha - e seu bom relacionamento com os artistas que com ele trabalham - possibilita encontros musicais excelentes. Assim é que após a "Parceria Malunga" - reunindo Elomar Figueira de Mello, o pianista Arthur Moreira Lima, o violonista Heraldo de Monte e o clarinetista Paulo Moura - houve a "Cantoria", desta vez com Elomar ao lado de Shangay, Vital Faria e Geraldino Azevedo - resultando num dos melhores discos de 1984, aqui já registrado há algumas semanas. Ainda no ano passado, a Kuarup promoveu no Rio e São Paulo outro memorável "Encontro". Desta vez unindo o violão de Turíbio Santos, o piano de Clara Sverner, o sax de Paulo Moura e a voz de Olívia Byngton. O resultado foi excelente. Tranquilamente o disco entrou em nossa lista dos 10 melhores e é indicação agora para o troféu Chiquinha Gonzaga, que premia as melhores produções independentes. É dispensável gastar espaço sobre a importância musical-cultural de cada um dos artistas reunidos neste "Encontro". Paulo Moura (São José do Rio Preto, SP, 15-07-1932), compositor, orquestrador, regente, arranjador, professor, multiinstrumentista, no Rio desde os 17 anos tem uma carreira das mais brilhantes: da Sinfônica Brasileira e gafieiras passando pelo jazz, toca bem em qualquer hora. Clara Sverner é uma das pianistas brasileiras de maior atuação nestes últimos anos. Em produções cuidadosas de Maurício Quadrio, na Odeon, reviveu a obra de Chiquinha Gonzaga (1847-1935) em dois volumes e, há três anos também reverenciou o centenário de nascimento de Eduardo Souto (1882-1942) com um belíssimo elepê. Num ousado casamento piano-clarinete gravou outro disco com Paulo Moura e com o pianista Assis Brasil fez um elepê com peças de Erik Satie (1866-1925). Entre os discos, muitos concertos e recitais. De Turíbio Santos basta dizer o seguinte: é o violinista número um do Brasil. De prestígio internacional - especialmente na França - tem se voltado cada vez mais às nossas raízes, revalorizando os choros (a ele se deve a redescoberta da obra de João Pernambuco), divulgando Villa-Lobos e fazendo um trabalho de imensa importância. Finalmente, Olívia Byngton é uma encantadora cantora. Há 12 anos estreava num disco revolucionário ("Corra o Risco", Continental), navegando com a criativa "Barca do Sol", grupo que nasceu em Curitiba no último Festival Internacional da Música (1971). Após outros discos - inclusive o frustrado "Música" (Sigla, 1984), Olívia teve justamente no "Encontro" com Turíbio oportunidade de mostrar toda a beleza de sua voz. Nas faixas "Viola Quebrada" (recolhida por Mário de Andrade/harmonização de Villa-Lobos), "Bachianas Brasileiras nº5" (Villa-Lobos/Ruth Correa), "Eu e a Brisa" (Johnny Alf), "Modinha" (Tom/Vinícius), "Je Te Veux" (Satie/Nelson Motta) e "Manhã de Carnaval" (Bonfá/Antônio Maria) - alternando-se em contrapontos aos violão, piano e sax (ou em quarteto mesmo) Olívia oferece momentos da maior emoção. Seu canto neste "Encontro" é profundo e faz com que concordemos com seus mais ardorosos fãs: sua voz é a mais limpa de todas as cantoras brasileiras. Mas este maravilhoso disco não fica apenas em Olívia. Há o piano de Clara em solos notáveis ("The Entertainer", "Ragtime"), em duo com Paulo Moura ("Genea", de Chiquinha Gonzaga e "Fantasia" de Ronaldo Miranda), e "Berceuse", de Vitor Assis Brasil). Turíbio, em solo, abre o disco a "Suíte Nordestina" Luiz Gonzaga/Humberto Teixeira"), enquanto em trio violão-sax-piano temos outro momento de imensa brasilidade: "O Trenzinho Caipira" (Villa-Lobos). Enfim, raras vezes, houve um encontro tão bem sucedido de talentos, nesta produção dirigida por Turíbio gravada ao vivo (na sala Cecília Meireles, RJ e Teatro de Cultura Artística, SP) e com um repertório equilibradíssimo: Registrado em processo digital, com excelente acabamento - um disco que permanecerá como um dos mais felizes momentos da melhor musicalidade.
Texto de Aramis Millarch, publicado originalmente em:
Estado do Paraná
Almanaque
Tablóide
27
10/03/1985

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