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Aramis

Os (bons) filmes de Araken e o mercado para os documentários

JORNALISTA há 20 anos, com passagem por redações famosas como os Diários Associados, Rio - em seus anos de maior glória, "Manchete", "Tribuna da Imprensa" - no Paraná com atuações em O ESTADO, TV Tibagi, além da revista "Panorama" - da qual continua a ser o representante no Rio de Janeiro, Arakem Távora, 39 anos, paranaense de Ribeirão Claro, penetra agora, com sucesso, no mundo cinema, tendo dirigido, em apenas dez meses, cinco curta-metragens: os quatro primeiros, sob o título de "O Mundo Mágico", focalizam os artistas plásticos Aldemir Martins, Djanira (o filme foi rodado em abril de 79, um mês antes de seu falecimento), Teruz e Augusto Rodrigues. O mais recente, "Memória de Paraty", narrado por Paulo Autran, é um registro da famosa cidade histórica do litoral fluminense. De passagem por Curitiba, em férias, Arakem exibiu os filmes da série "O Mundo Mágico", no auditório do Badep, para um grupo de artistas plásticos. Generosamente, Arakem deixará as cópias destes filmes depositadas no Museu da Imagem e do Som, que, junto com a Coordenadoria do Patrimônio Histórico e Artístico, dirigida por Fernando Velloso e Ênnio Marques Ferreira, promoverá suas exibições em escolas de nível médio e superior, além de entidades interessadas. xxx Agora, Arakem quer realizar um documentário sobre o artista plástico paranaense de maior prestígio nacional, Poty Lazarotto, 54 anos, com obras espalhadas em todo o País e hoje um dos raros autores de grandes murais. O roteiro já está pronto e apesar de Poty ser um homem avêsso à promoção, discreto, aceitou a idéia do filme, impressionando pela qualidade e seriedade do projeto de Arakem. A idéia é filmar Poty no dia-a-dia de seu ateliê, no Rio de Janeiro, e também em Curitiba, onde estão muitas de suas obras, e onde reside sua mãe, dona Júlia, e seu irmão, Joãozinho. Poty tem obras monumentais espalhadas em vários Estados, além de talhas, desenhos e gravuras espalhadas nas maiores coleções e museus de todo o País e também no exterior. Fez capas e ilustrou dezenas de livros e, com uma capacidade notável de trabalho, continua a produzir incessantemente. Um filme a seu respeito, exigirá, inclusive, uma capacidade de síntese, técnica aliás que Arakem vem dominando, haja visto a visão perfeita que deu em seus curtas sobre artistas da dimensão de Djanira (de quem se tornou grande amigo) e Augusto Rodrigues, Guido Viaro, outro artista paranaense que há muito já mereceria ter maior reconhecimento nacional, também está na agenda de temas que Arakem pretende levar ao cinema, bem como aspectos históricos das cidades de Paranaguá e Lapa. xxx A necessidade de realizar curtas-metragens focalizando personalidades de nossa vida cultural - do passado e do presente, cidades, monumentos, geografia etc., há muito que se faz sentir. O Paraná, nos últimos 25 anos, gastou milhões de cruzeiros em cine-jornais, "documentários" (sic) promocionais, mas não só são raros os negativos preservados, como não passa de meia dúzia os que resistem ao tempo e justificam sua apresentação e platéias mais exigentes. Com a lei que tornou obrigatória a exibição do curta-metragem em complemento aos filmes estrangeiros, nas cidades com mais de 100 mil habitantes, se abriu um imenso mercado para este gênero de filmes, tão importantes em seu sentido cultural-informativo, como funcionando de uma forma de preparar cineastas para longas-metragens. A luta pela implantação da lei do curta-metragem foi das mais árduas, devendo-se a Roberto Farias, nos 4 anos que permaneceu na presidência da Embrafilmes, esta vitória. Até hoje, há problemas: os exibidores impetraram mandados-de-segurança para não cumprir a lei e, perdendo na justiça, passaram a exibir curtas-metragens de péssimo nível, produzidos por realizadores (sic) como Nilo Machado (o mais medíocre diretor de pornochanchadas do cinema nacional) ou Primo Carbonari. Em compensação, os excelentes filmes de curta-metragem distribuídos pela Embrafilmes são relegados e mesmo sabotados. Com base em estudos elaborados pela Embrafilmes, no final do ano passado, a partir de 1º de março, o Conselho Nacional de Cinema, agora presidido pelo cineasta Miguel Farias, introduzirá várias modificações, que tornarão mais rígidos os critérios de seleção, justamente para impedir que curta-metragens de péssima qualidade técnica e sem qualquer conteúdo cultural, jornalístico ou científico cheguem ao grande público, bem como excluir do mercado compulsório filmes com propósitos promocionais. Em princípio a intenção do Conselho Nacional de Cinema é de limitar em 280 o número de certificados a serem concedidos para filmes de curta-metragens, no período entre 1/3/1980 - 28/2/1981. Esse número de certificados - que corresponde ao volume de demanda por parte dos exibidores - seria dividido em quotas trimestrais de 70 filmes. Por outro lado, para o aprimoramento da qualidade dos filmes de curta-metragem e eliminação dos "picaretas", cada produtor terá direito a produzir um máximo de 3 filmes por ano (atualmente, o limite é de 5). Mais importantes será a exclusividade da Embrafilmes na distribuição dos curta-metragens, acabando assim que curtas como os de Nilo Machado e Primo Carbonari - que só contribuem para irritar o telespectador - sejam adquiridos por cadeias de exibição, em prejuízo aos cineastas e público. Atualmente, 5% da bilheteria do filme de longa-metragem estrangeiro é retirado para o curta-metragem. Dessa percentagem, 40% fica para o exibidor, 20% do restante cabe ao distribuidor, restando, efetivamente, para o produtor, o percentual de 2,4%, até que o curta-metragem atinja uma renda bruta correspondente a 570 salários-referência. Da parte que lhe cabe, o produtor arca com todas as despesas de produção, desde película, aluguel de equipamento, contratação de equipe, despesas de laboratórios de imagem e de [som], até as administrativas, taxas e impostos. xxx Os filmes de Arakem Távora, por sua qualidade, mostram as possibilidades de se fazer excelentes documentários. No Paraná, com um governador sensível ao cinema como é Ney Braga, está chegada a hora de que novos cineastas de talento, como José Augusto Iwersen, 34 anos - hoje o de maior expressão regional, mereçam auxílios para passarem da bitola do super 8 para 35 mm, fazendo filmes. Não se justifica que apenas medalhões que auto se promovem, canalizem todos os recursos, em detrimento de toda uma nova geração de talentosos cineastas, que tem, no campo do curta-metragem, uma excelente escola de aprendizagem. xxx Paralelamente as suas atividades no cinema, Arakem continua a produzir (desde 1977) para a TV Educativa, do Rio de Janeiro, um programa semanal de 50 minutos denominado "Os Mágicos", retransmitido por 13 emissoras brasileiras - mas que, infelizmente, no Paraná, não é visto. Nesse período, Arakem já realizou mais de 300 entrevistas com as maiores personalidades da cultura brasileira contemporânea - Jorge Amado, Gilberto Freyre, Dorival Caymmi, Raquel de Queiroz, Gianfrancesco Guarnieri, Aurélio Buarque de Holanda, Carybé, Antonio Houaiss, Clarice Lispector, Bruno Giorgi, Francis Hime, só para citar alguns exemplos. No ano passado, o governo do Rio Grande do Sul concedeu a Arakem o "Troféu Ana Terra", por considerar "Os Mágicos", o melhor programa de jornalismo cultural produzido na região Leste do Brasil. LEGENDA: Djanira, numa imagem do filme de Araken, poucas semanas antes de sua morte, em maio de 1979.
Texto de Aramis Millarch, publicado originalmente em:
Estado do Paraná
Nenhum
Tablóide
9
20/01/1980

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