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Aramis

Os ilustres senhores cônsules honorários

O Consulado Geral da República Federal da Alemanha, funciona em Curitiba, regularmente, desde 1955. Nestes 33 anos, dezenas de diplomatas se sucederam não só na chefia da representação como também nos principais cargos executivos. Antes da chegada da consulesa Irene Grunder, quem ocupou aquela função, por quase 4 anos, foi o discreto Hasso Von Haltzharn, que ao contrário de seus antecessores - especialmente o cônsul geral Schwartz - sempre mostrou aversão à vida social mais intensa, preferindo apenas manter frios contatos oficiais. xxx A história do Consulado da Alemanha no Paraná confunde-se, neste século, com a própria presença dos imigrantes entre nós. Até a declaração de II Guerra Mundial, vários diplomatas ocuparam aqui funções estratégicas - e nos tensos anos que anteciparam o rompimento formal do Brasil com os países do Eixo, aconteceram situações de tensão, com acusações, inclusive, de espionagem por parte de setores mais exacerbados contra o governo nazista - especialmente enquanto o então ditador Getúlio Vargas não se decidia a romper com a Alemanha e aliar o Brasil junto às potências que combatiam Hitler e Mussolini na Europa. Na primeira fase das relações diplomáticas entre o Brasil e a Alemanha, nas décadas de 10 a 30, houve também cônsules honorários, entre personalidades representativas da comunidade alemã - que, especialmente em Curitiba, sempre teve grande prestígio econômico e social. Há cerca de dois anos, aqui mesmo em "O Estado do Paraná", publicamos uma relação de todos os homens que passaram, como diplomatas de carreira e cônsules honorários, por esta representação. xxx Com o próximo fechamento do Consulado da RFA, a maior representação diplomática, oficial, no Paraná, passa a ser a da República Popular da Polônia. Uma representação bastante fechada que, a não ser em alguns períodos (quando, por exemplo, foi chefiada por Piotr Glowacki no início dos anos 60), não mantém maiores contatos com a imprensa e mesmo setores culturais. Ou quando os faz, peca pela falta de melhor informação sobre como agilizar suas promoções - haja visto o fracasso que foram dois festivais do cinema polonês aqui promovidos. Existem mais sete outros países que mantém consulados oficiais no Paraná: Itália, Japão, Portugal, Panamá, Suíça, Argentina (com representações também em Foz do Iguaçu e Guaíra) e Paraguai (também com representações em Paranaguá e Foz do Iguaçu). xxx Entretanto, a maior parte do corpo consular é formado por representantes honoríficos. São, na maioria das vezes, pessoas bem sucedidas em seus negócios, com afinidades econômicas e, especialmente, sociais, que após um processo junto a Embaixadas, obtém o status de Cônsul. A própria República Federal da Alemanha tem dois cônsules honorários: o simpático Johanns Dorn (que reside em Curitiba) em Paranaguá, e o sr. Hans Arthur von Trevenfels em Rolândia. Obviamente, que agora, com o fechamento do Consulado Geral, em Curitiba, a concessão do título de cônsul honorário para a nossa Capital, vai aguçar as vaidades de muitas pessoas - ligadas direta ou indiretamente a Alemanha. xxx Normalmente, a pessoa que consegue o título de cônsul honorário de um País o conserva até o fim de sua vida - como o industrial José Luiz Guerra Rêgo, o simpático representante do México. Mas há alguns que acabam desistindo, como o hoteleiro Newton Parodi, que vendo a crítica situação do país que aqui representava - Honduras - acabou preferindo deixar a função. Para muitos, ser cônsul honorário significa uma ascensão social, e, procuram capitalizar o destaque que obtém nesta função - aparecendo especialmente nas colunas sociais. O atual presidente da Sociedade Consular é o sociólogo Ozeil Moura Santos, paranaense que aqui representa o Senegal - e que graças ao seu dinamismo vem procurando intensificar as relações comerciais do Paraná com aquele país. Há casos de cônsules honorários que nunca sequer visitaram o país que aqui representam (ou representaram). Foi o caso do bilionário industrial Umberto Scarpa, que por anos foi o cônsul de El Salvador, mas que mesmo antes da guerra civil naquele país, nunca se animou a visitá-lo. Hoje, em Curitiba, existem cônsules honorários da Áustria, Bélgica, Chile, Espanha, França, Grécia, Holanda, México, Peru, El Salvador, Senegal, Uruguai e Síria este o mais recente, o rico comerciante Abdo Abagge, e que desde sua posse tem sido notícia quase diária nas colunas sociais. Os cônsules honorários não têm qualquer ajuda financeira dos países que aqui representam. O que justifica, nestes tempos bicudos, que raros sejam os diplomatas honoríficos que se dispõem à comemorar as datas nacionais de "seus" países, com recepções etílicas - ao contrário do que acontece em Brasília, onde quase diariamente há uma festa diplomática. Afinal, oferecer recepções significa um pesado investimento - e mesmo sendo os cônsules honorários pessoas de gordíssimas contas bancárias há muito que as recepções acontecem (quando acontecem) em círculos fechados, restritas apenas à comunidade específica.
Texto de Aramis Millarch, publicado originalmente em:
Estado do Paraná
Almanaque
Tablóide
3
23/02/1988

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