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Aramis

Os jogos da Copa no Durival de Brito há 50 anos passados

Há 40 anos passados, a Suécia (primeira adversária do Brasil, derrotada domingo, em Turim, por 2 a 1, na Copa do Mundo) jogou em Curitiba. Isto é sabido pelos historiadores de futebol, mas não deixa de ser interessante a rememoração que Paulo de Avelar faz nas páginas 74 a 76 de seu livro "Quando eu era do Banco do Brasil". Paulo também trabalhava como locutor esportivo da Rádio Clube Paranaense e, sob o título de "Um acontecimento", recorda os fatos. "A guerra iniciada por Hitler, em 1939, interrompeu a disputa do campeonato mundial de futebol. Em 1950 ele foi reiniciado e sua realização foi no Brasil. Era o quarto certame que se realizava. Curitiba foi escolhida como sede de uma das chaves do torneio. Jogaram aqui Espanha, Estados Unidos, Portugal e Suécia. O curitibano vibrou. Iria assistir as competições de uma Copa do Mundo. O assunto monopolizou todos os cantos da cidade, inclusive o Banco do Brasil. Só se falava em Copa do Mundo. O estádio escolhido para o palco do espetáculo foi o Durival de Brito e Silva, o Clube Atlético Ferroviário, na época o maior da cidade. A Espanha foi a primeira delegação que chegou aqui. Seu treinador foi logo dando uma entrevista dizendo: - "Nosotros vamos a ganar la copa del Mundo... somos llamados de la Fúria...". O curitibano ficou meio cabreiro, e por isso, numa terça-feira, quando os espanhóis foram treinar, pela manhã, o campo do Ferroviário ficou completamente lotado. Todos queriam ver a Fúria. Ninguém viu nada. Eles fizeram física e treinaram chutes a gol. E chegou o dia do jogo contra os Estados Unidos. Era um domingo de julho, todo azul, e cheio de sol. O Durival de Brito se encheu de gente. Eu fui bem cedo para o estádio pois era locutor esportivo da PRB-2. Ia transmitir a partida para uma cadeia de emissoras brasileiras e tinha que fazer os contatos. Entraram em campo as equipes. A Espanha de camisas vermelhas e calções azuis. Os Estados Unidos de camisas brancas, com gola azul e calções vermelhos. Ninguém deu bola para os ianques. Ninguém acreditava que aqueles caras jogassem futebol. Sabiam que os americanos jogavam bem com uma bola ovalada e arremessada com as mãos. Controlar uma bola com as mãos é fácil. O difícil é fazê-lo com os pés. Ia ser mole para a chamada Fúria espanhola. Acontece que a seleção dos Estados Unidos tinha só dois norte-americanos: o goleiro e o centro médio. Este chamava-se Charles Colombo, jogava com a camisa 5 e fazia sozinho o meio do campo. Esse jogador ficou notadíssimo no Brasil, pois a despeito de atuar no meio do campo, jogava com grossas luvas negras, algo assim como luvas de boxe. Mais tarde soube que ele jogava com aquelas grossas luvas, porque era futebolista amador e médico operador dos melhores de uma clínica da América do Norte. Precisava defender suas mãos, pois elas eram o seu patrimônio. Só o goleiro e o centro médio eram norte-americanos. O resto da turma era inglês, escocês, francês, italiano, argentino. Tinha até um português chamado João Souza que deitou e rolou. Todos naturalizados norte-americanos e todos sabendo lidar com a bola. A Espanha esperava encontrar um monte de cabeças de bagre e se deu mal. Logo de cara o português João Souza marcou um gol de placa, depois de fintar toda a defesa da Fúria. Os norte-americanos ficaram em cima dos espanhóis. O zagueiro esquerdo, marcador do português João Souza estava no desespero porque não pegava na criança. Estava pisando na bola. A Espanha se desmontou e quase vira o jogo numa corrida de touros. No segundo tempo os norte-americanos abriram o bico. Não tinham o menor preparo físico. Estavam caindo pelas tabelas. Daí os espanhóis espantaram e ganharam por 3x1. Uma coisa ficou evidente. A Fúria não era de nada, tanto assim que nas quartas-de-final levou uma sonora coleada do Brasil com o Maracanã inteiro cantando a marcha carnavalesca "Touradas em Madrid". O outro jogo foi entre o Paraguai e Suécia. Parecia equilibradíssima e muito bem disputada. Terminou com o marcador de 2x2. Na Suécia não há miscigenação, por isso o seu time parecia formado por onze irmãos. Todos loiríssimos. Na ponta-esquerda jogou um garoto loiro, que oito anos depois, em 1958, atuou contra o Brasil na final de Estocolmo: Skoglund. Nesse jogo tomou parte um craque que se tornou ídolo no Rio de Janeiro e no Brasil, o goleiro reserva paraguaio Garcia, que por muito tempo defendeu a meta do Flamengo". Esse foi o acontecimento marcante do ano de 1950 em Curitiba".
Texto de Aramis Millarch, publicado originalmente em:
Estado do Paraná
Almanaque
Tablóide
3
13/06/1990

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