Login do usuário

Aramis

Os Nossos Caipiras (III)

Na música sertaneja ou caipira, existe uma predominância natural da palavra sobre a linha melódica. Utilizando basicamente acordeão, apesar das potencialidades deste (instrumento( tão discriminado, inclusive, nas formações (musicais( urbanas, os artistas sertanejos amparam suas canções em letras geralmente longas, através das quais procuram "contar" uma história, estruturada em início, meio e fim. Os violeiros, pelo seu lado, também amparam suas músicas em poucas harmonias, repetindo uma mesma linha melódica ao lado de toda a canção - o que faz com que a palavra ganhe destaque neste gênero que, voltamos a insistir, merece ser apreciado do ponto de vista sociológico, por sua predominância no Interior, constituindo um amplo mercado - espalhado por todas as regiões mas principalmente no Centro-Oeste-Sudeste-Sul. Em sua tese de doutoramento sobre música sertaneja e indústria cultural, defendida no Departamento de Ciências Sociais da Faculdade de Filosofia, Ciências e Letras Humanas da Universidade de São Paulo - e agora publicada em livro ("Acorde na Aurora", Companhia Editora Nacional, 167 páginas), Waldenyr Caldas estuda o fenômeno principalmente no âmbito paulista, núcleo de sua ampla pesquisa. Em vários capítulos, detalha letras de alguns compositores sertanejos - como da dupla Leo Canhoto & Robertinho, estabelecendo ilações fixando a posição sócio-econômico-cultural dos autores, que refletem, nas letras, todo um comportamento e um universo (de( vivência. A mesma técnica de análise de Waldenyr Caldas, poderia ser estendida a artistas sertanejos de outras regiões, como do Paraná. Pois embora ainda sejamos consumidores de 80% de duplas sertanejas de outros Estados, que constituem, muitas vezes, a principal fonte de receita de algumas gravadoras, pouco a pouco os nossos artistas rurais vão, conseguindo romper a barreira e gravar os seus trabalhos. Nos referimos, sábado, a iniciativa de Ivan Graciano, filho da dupla Nhô Belarmino ' Nhá Gabriela (Salvador e Julia Graciano, 40 anos de carreira) em fundar uma etiqueta, associado a Percy Tamplin, proprietário da Sir - Laboratório de Som & Imagem, para explorar o mercado imenso que a música sertaneja tem. Mas muitos artistas do Paraná dos mais distantes municípios, já tem seus discos gravados. Por exemplo, o duo Os Maragatos, gaúchos radicados em Guarapuava, estão com meia dúzia de discos na Chantecler/Rosicler, onde Ivan Taborda e Benoni Bottega dividem seu trabalho entre os gêneros "vanerão" o a camperadas, termo empregado pela dupla para definir os contos humorísticos, bem gauchescos e populares, geralmente maliciosos (até onde a censura permite), que constitui faixas inteiras de suas gravações. Mas se Os Maragatos se mantém expontâneos e, de certa forma, autênticos em relação as suas origens, outras duplas, como Zé Alves e Guimarães, de Londrina, buscam um falso status, num libridismo urbano, a começar pelos trajes e sugestões mostrados na capa de seus lps: em "O Amanhã Logo Virá" (Premier/Fermata, maio/77), aparecem de camisas coloridas, óculos escuros, cabelos (beatlemaníacos( e dirigindo uma veloz lancha. Outros, ainda, buscam fugir totalmente as origens rurais, com resultados dos mais lamentáveis. É o caso de Walter Basso, de Marechal Cândido Rondon, líder de um grupo de danças da região que tenta uma linha romântica, urbana, feita sem qualquer base harmônica - mas (apesar( disso, seu lp "Quero Ser Seu Namorado" (Scala/Jaboti, junho/77), teve um êxito comercial - "Castelo de Sonhos", em parceria com o esperto representante fonográfico José Maria de Oliveira, já vendeu 50 mil cópias. Agora, outro artista rural de nosso Estado, Pedro Ramirez, conhecido através de alguns programas sertanejos, nas rádios da cidade, acaba de fazer um lp, com o pomposo título "História do Paraná" (Copacabana, 40757, agosto/77). As 12 faixas são de sua autoria e oferecem letras de extrema simplicidade. Ramirez - de quem desconhecemos maiores informações, parte inclusive de uma narração, na linha ufanista, na "História do Paraná", que chega a lembrar quase uma música-enredo, na tentativa de sintetizar, ao longo de seus versos, toda a evolução do Estado, falando em imigrantes, desenvolvimento econômico e força do trabalho. O mesmo tom ufanista reaparece em "Avante Paraná" e "Homenagem ao Coronel Vivida", enquanto que em outras faixas, Ramirez oscila entre o machismo (gauchesco( "Guadério Pialado", a "Índio Largado" e "Desafio de Gaúcho e Catarinense", ao romantismo, como em "Namoro Prá Ser Namoro", "Sonho de Saudade", "Mensagem a Moreninha" e a divertida "Decisão de Mulherento". Estão aí os nossos sertanejos, indiferentes a esquemas de mercadologia fonográfica, cantando em sua simplicidade e atingindo uma imensa faixa de consumidores fiéis, tão constantes que cresce, cada vez mais, o número de Lojas na cidade que se dedicam, exclusivamente, a venda de discos sertanejos.
Texto de Aramis Millarch, publicado originalmente em:
Estado do Paraná
Nenhum
Tablóide
4
23/08/1977
gostaria de receber material a respeiro ou indicações de onde conseguir
BOA NOITE , GOSTARIA DE QUE ME FORNCESSEM O CONTATO DE PIRACELMO E VENCEDOR ,POIS, GOSTARIA MUITO DE CONTRATÁ-LOS PARA UM SHOW NO RIO DE JANEIRO NUM RODEIO . AGRADEÇO MUITO RUI

Enviar novo comentário

O conteúdo deste campo é privado não será exibido publicamente.
CAPTCHA
Esta questão é para verificar se você é um humano e para prevenir dos spams automáticos.
Image CAPTCHA
Digite os caracteres que aparecem na imagem.
© 1996-2016. tabloide digital - 35 anos de jornalismo sob a ótica de Aramis Millarch - Todos os direitos reservados.
Desenvolvido por Altermedia.com.br