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Aramis

Os "oscarizáveis" de 1990 e o vento que o tempo não leva

Dois dos cinco filmes que na noite de 25 de março estarão concorrendo ao Oscar já podem serem vistos pelos curitibanos: desde a semana passada, "Sociedade dos Poetas Mortos", de Peter Weir, está em exibição no Cine Bristol e, com boa bilheteria, deve permanecer no mínimo mais duas semanas. Além de concorrer ao Oscar de melhor filme - disputa ainda como melhor ator (Robin Willians), roteiro original (Tom Schulman) e direção. Já "Campo dos Sonhos" (Cine Plaza, desde ontem), concorre como melhor filme, roteiro captado [adaptado] (Phil Alden Robinson) e trilha sonora (James Norner). Portanto, dois filmes peso-pesados, em cartaz na cidade, nesta semana - que, como as próximas, deverá ter vários outros filmes nominados as diferentes categorias da premiação máxima da indústria cinematográfica. Alguns dos candidatos já foram vistos - como o excelente Danny Aiello que por "Faça a Coisa Certa" concorre ao prêmio de melhor ator e Dianne Wiest, candidata de melhor coadjuvante, por sua interpretação em "O Tiro Que Não Saiu Pela Culatra" (Parentohood) que, meio às moscas, ficou duas semanas no Lido. Spike Lee, diretor de "Faça a Coisa Certa", que também só permaneceu duas semanas em cartaz, foi indicado ao prêmio de melhor diretor - e muitos acham que houve injustiça: "Do The Right Thing" mereceria ter indicação também ao melhor filme, idêntico caso de "Sexo, mentiras e videotape", de Steven Sondenberg, que teve apenas a solitária indicação a roteiro original. A PONTE DO RIO KWAI (The Bridge of River Kwai), que o diretor inglês David Leanch realizou há 33 anos passados, foi um campeão de Oscars e grande sucesso de bilheteria: levou os troféus de melhor filme, direção, ator principal (Alec Guinne), fotografia (Jack Woldyard), montagem (Peter Taylor) e trilha sonora (Malcolm Arnold), com música-tema - "Coronel Bogey" tornando-se um clássico sucesso. Portanto, seria de se esperar que uma continuação daquele imenso sucesso produzido por San Spiegel para a Columbia - "Regresso ao Rio Kwai", rodado há dois anos pelo artesão Andrew V. McLaglen merecesse um lançamento especial, ainda mais neste período pré-Oscar - e no qual uma referência a "The Bridge of River Kwai" (exibido em 1985, no antigo Cine Avenida) poderia atrair várias faixas de público. Mas por motivos difíceis de entender, o programador da Vitoria Cinematográfica desperdiçou "Regresso ao Rio Kwai" no cine São João, que pelo gênero de filmes que normalmente apresenta, localização e, especialmente, freqüência, afasta os espectadores mais exigentes. Se exibido num cinema como o Astor (no qual está em cartaz uma comédia intitulada "Deu a louca nas Federais"), "Return form the River Kwai" poderia, cremos, fazer melhor carreira. Desta vez, a Vitoria imitou a Fucucu: programou erradamente o cinema. Filho do ator Victor McLaglen, afilhado de John Ford, Andrew McLaglen, 70 anos, nunca teve, obviamente, a classe de David Leanch (que, aos 82 anos, continua em atividade, concluindo agora uma nova superprodução) e portanto não se deve esperar deste "Regresso ao Rio Kwai" a mesma categoria do original, baseado no romance de Pierre Boulle. Também no elenco desta continuação - Timothy Bottons, Edward Fox, Denhol Elliot, Christopher Penna, Nick Tatem, Tatsua Nakadai etc - está longe da categoria do original - infelizmente, hoje praticamente na base os óbitos: William Holden, Jack Hawkins, Sessu Waykawa - afora Alec Guinne, estes, felizmente, ainda em vigor. Apesar de tudo, "Regresso ao Rio Kwai" é uma estréia a ser conferida para quem disponha de garra e vá até o Cine São João. CINQÜENTENÁRIO VENTO Falar em torno de "E o Vento Levou" é redundância. O mais famoso filme da história do cinema, símbolo da época de ouro de Hollywood, referência obrigatória em qualquer menção a sétima arte (por exemplo, as citações claras em "Cinema Paradiso", de Giuseppe Tornatore, que continua em cartaz no Cinema I), "Gone With The Wind" tem uma extensa bibliografia e se somar tudo que já foi escrito a seu respeito desde sua estréia, em Atlanta, há 51 anos, daria para cobrir a BR-116 entre São Paulo-Porto Alegre. Foram feitos cálculos atualizando-se valores e se constatou que esta produção do mago David Selznick continua a ser o filme de maior bilheteria. Mesmo à disposição em videodisco e videotape, com tentativas mil de ser copiado, o filme que reuniu um dos maiores grupos de talentos do cinema em todos os tempos continua imbatível. Portanto, a MGM - mesmo hoje em insensíveis mãos de burocratas de corporações multinacionais - não deixaria passar a efeméride do 50º aniversário de estréia de "E O Vento Levou" e, utilizando todos os recursos técnicos possíveis, para melhoria das cópias, houve um relançamento musical - que só agora chega no tela do Lido II. Não deixa de ser até curioso que o filme que sempre lotou os maiores cinemas do mundo (em Curitiba, sua estréia foi no Avenida, mas depois teve inúmeras reprises no Ópera e outras salas) seja confinado agora a uma das menores salas da cidade. Mil histórias cercam este filme que teve três diretores (San Wood e George Cukor, demitidos no meio das filmagens) e concluído por Victor Fleming lhes valeu o Oscar. Sidney Howard recebeu o Oscar de melhor roteiro adaptado embora pelo menos 20 escritores (entre os quais nomes do primeiríssimo time) tenham colaborado para adaptar à linguagem cinematográfica o mastodôntico romance da sulista Margaret Mitchell. Além de Oscar de melhor filme, valeu ainda pelas premiações dos ingleses: Vívian Leight e Wattie McDaniel (primeira negra a receber um Oscar) como melhores atrizes (principal e coadjuvante, respectivamente), fotografia (Ernest Haller/Ray Rennhan), direção de arte (Lyle Wheeler), montagem (Hal C. Kern/James E. Wecom) etc. Trilha sonora de Max Steiner perdeu para "O Mágico de Oz", que o Fleming realizou no mesmo ano de 1939 - safra de magníficos filmes. Do elenco de "E o Vento Levou", também uma sucessão de cruzes: exceto Olivia de Haviland, 74 anos, praticamente todo o elenco hoje chama-se saudade: Vivian Leight (Scarlett O'Hara), Clark Gable (Whett Buttler), Wattie McDaniel, Thomas Mitchel, Leslie Wodward, Victor Jog (Wilkinson) etc. OUTRAS OPÇÕES Nada faz com que se tenha muitas esperanças em torno da comédia "Deu a louca nas Federais", de Dan Goldberg, com duas desconhecidas atrizes, Rebecca De Mornay e Mary Gross - numa média que, a julgar pela sinopse, parece ser uma tentativa de fazer uma "Loucademia de Polícia" mais requintada. As duas conseguem ingressar no FBI, o tradicional reduto machista (e conspirador) da segurança americana e entre piadas e gags, o estreante diretor Dan Goldberg (discípulo de Ivan Reitman, que produziu esta fita, e com quem colaborou em "Twis", "Os Caça-Fantasmas II", "Trocando as Bolas" etc), fez um filme passatempo. Prejudicado pelo atraso de lançamentos - deveria ter sido exibido em outubro do ano passado, logo após ter sido premiado nos festivais de cinema de Natal e Curitiba, "Luz Cheia", do estreante Alain Fresnot, substituiu ao profundo "Sonho de Valsa", de Ana Carolina - que ficou apenas uma semana no Ritz. Com esplêndidas atuações de Lima Barreto [Duarte] e Otávio Augusto, baseado livremente na peça "O Sr. Puntilla e o seu Criado Watt", de Bretch, esta comédia social, realizada por um montador dos mais competentes - mereceria ter sido cercado de melhor promoção. Oportunismo não falta na programação da Fucucu: como "A Sociedade dos Poetas Mortos" teve a indicação ao Oscar, Geraldão programou a reprise de "Picnic na Montanha Misteriosa", um dos pioneiros filmes que o australiano Peter Weir realizou ainda em seu país. Weir, 46 anos, estreou com "The Cars That At Parios", que nunca saiu da Austrália, mas o seu segundo longa, "Picnic at Hanging Rock", (1974), após se tornar conhecido (por "O Ano em que Vivemos Perigosamente", 83 e, especialmente, "A Testemunha", 85), ganhou distribuição. Denso, hermético e simbólico - com algumas semelhanças com "Passagem para a Índia", de David Leanch (inclusive um cenário parecido), "Picnic na Montanha Misteriosa" seria uma reprise muito mais apropriada ao Groff ou Luz do que ao distante Guarani, que pela própria localização tem que ter uma programação mais popular. Aliás, no Luz, retorna - pela enésima vez - "O Beijo da Mulher Aranha", de Hector Babenco e no Groff, "Ao Sul do seu Corpo", que Paulo César Sarraceni fez baseado em conto de Paulo Emílio Salles Gomes - ambos já disponíveis em vídeo. Enquanto se tem estas reprises nos cinemas do circuito oficial, uma mostra que traz filmes produzidos pelo National Board Film of Canada será confinada a incômoda (e até perigosa) Cinemateca. Dias melhores virão com a prometida nova sede da Cinemateca, mas de nada adiantará o Bradesco queimar NCz$ 10 milhões nesta obra, se não houver um melhor aproveitamento em termos de programação. Vamos aguardar para conferir. LEGENDA FOTO - Duas caras novas - Rebecca De Mornay e Mary Gross - na comédia "Deu a Louca nas Federais". Em exibição no Astor.
Texto de Aramis Millarch, publicado originalmente em:
Estado do Paraná
Almanaque
Cinema
8
16/03/1990

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