Os poetas da noite, dos bares, do mundo
Artigo de Aramis Millarch originalmente publicado em 24 de fevereiro de 1986
Um modismo que no Rio de Janeiro ganhou cobertura nacional e muita badalação vem acontecendo em Curitiba há mais de um ano: declamações em bar. Alberto Cardoso, 55 anos, morretense das margens do Nhundiaquara, que depois de ter vivido por muitos anos no "exterior", devido suas atividades de militar da Aeronáutica, faz hoje aquilo que gosta: é dono de um bar em que a poesia conta mais do que dinheiro. Inicialmente na Praça Espanha - e há 11 meses na Visconde de Nácar - Cardoso abriga poetas de todas as idades em seu etílico ambiente e enquanto seus filhos cuidam da copa e atendimento, ele prefere dizer seus versos - ou de seus amigos muito queridos. Por exemplo, difícil a noite em que não declama o longo e profundo "Urbe Urge", de Reinoldo Atem, 36 anos, piauiense de Teresina mas desde 1953 em Curitiba.
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No Bar do Cardoso os candidatos a um lugar no Nirvana literário mostram versos e contos, Paulo Leminski surge em horas tardias sempre acompanhado de amigos e gente bonita como Bia de Luna, poeta e publicitária com nome de bolero e olhos de estrela, anuncia para breve o lançamento de seu segundo livro, "Morfeu Gargalhada 2". Um violão que Cardoso guarda estrategicamente, sempre encontra bons executantes e as horas passam rápidas. Com música, poesia e bebida honesta.
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João Manuel Simões - por sinal, um dos poetas que ainda não freqüenta o Bar do Cardoso - satisfeito da vida: seu "Sonetos Escolhidos", lançado pela Civilização Brasileira, já ganhou elogios em jornais de São Paulo, Porto Alegre, Recife, Rio e Belo Horizonte. Simões, incansável editorialmente, já tem no prelo novo livro: "Reflexões sobre a Liberdade", com introdução de Hélio de Freitas Puglielli. Sobre "Sonetos Escolhidos", Camponizzi Filho, do "Diário de Minas", escreveu que o "livro nos permite uma visão global da poesia desse paranaense ilustre que, fiel à sua província, ultrapassa todas as distâncias e se mantém como nome dos mais autênticos da lírica brasileira de hoje".
Homem de muitas andanças pelo mundo, sensível aos fatos & coisas, Ivan Lelis publicou, a custa de muito sacrifício, "Diário de Um Só" (Gráfica Agal, Piraquara) que trouxe a Curitiba para autografar por nada menos que duas semanas em que diariamente compareceu na Abreu Papelaria, no Shopping Muller.
Mineiro de Caratinga (a mesma cidade de Ziraldo), 35 anos, Ivan já fez teatro, escreveu peças como "A Angústia e Mescla Rara de Penúltimo Mendigo" e, em 1981, editou seu primeiro livro - "Eu Por Amor", seguido, há 2 anos passados, por "A Angústia".
Sua poesia é densa e triste, refletindo os anseios do mundo - como ele próprio explica. Busca também o lado social, o que lhe custou, há alguns anos, problemas com a censura.
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Falando em poesia, a Criar lançou há algum tempo a antologia Feiticeiro Inventor, organizada por Hamilton Faria, que convocou entre outros colegas de geração, Alice Ruiz, Antonio Thadeu Wojciechowski, José Carlos Correa Leite, Reinoldo Atem, Marcos Prado, Raimundo Caruso e Roberto Prado. Também presentes poetas mais conhecido como Leopoldo Scherner e Paulo Leminski, além de Sérgio Rubens Sossella, juiz de Direito, crítico literário e que desde sua adolescência vem publicando muitos textos.
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O catarinense Alcides Buss publica seu quarto livro de poesias ("O Homem Sem o Homem", Editora Noa Noa, 72 páginas), apresentado por Raimundo Caruso, - jornalista, poeta, há anos radicado em Florianópolis. E que afirma que com este "O Homem Sem o Homem", Buss "inaugura um ciclo em que a arte desperta para o caráter criminoso da desumanização, não mais do homem isolado, mas de populações e países inteiros".
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