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Aramis

Para leitura do sr. Schulmann

Um livro que por certo deveria ser colocado na cabeceira do poderoso Maurício Schulmann, presidente do Banco Nacional de Habitação - e por tabela para todos os bem remunerados executivos da instituição - acaba de ser colocado nas livrarias: "Passa-se Uma casa" de Licia do Prado Valladares (Biblioteca de Ciências Sociais, 140 páginas, Zahar Editores). Com o subtítulo de "Análise do Programa de Remoção de Favelas do Rio de Janeiro", a profunda pesquisa, desenvolvida há 4 anos passados mas, por certo, com informações que se aplicam ainda hoje - e não só no Rio, mas em outras grandes cidades - foi defendida como tese de doutoramento na Universidade de Toulouse-le Mirail, em 1974. Redigida, assim, em francês - "Opération de Relogement et Réponse Sociale: le Cas de Résidents des Favelas à Rio de Janeiro", foi, em sua tradução para o português, coordenada por Regina Machado, paranaense de Jacarezinho, formada em Filosofia Pura pela Universidade Federal do Paraná, há 13 anos fora de Curitiba - com cursos e andanças por Salzburgo, Paris e Nigéria. *** Muito mais do que uma análise dos aspectos existenciais dos problemas da moradia no Rio de Janeiro, "Passa-se uma Casa" transcede o problema da habitação das massas populares cariocas para retratar alguns aspectos cruciais da vida da favelado e as condições da sua luta pela sobrevivência. Licia do Prado Valadares, mergulhando num tema novo, praticamente ainda sem uma bibliografia de nível universitário, não se deixou iludir pelo pitoresco do barraco ou pelo charme da lavadeira: sua perspectiva de analise é distanciadamente épica e nunca demagogicamente dramática. Embora seu livro procure e consiga analisar as vicissitudes das populações "removidas" ou "ameaçadas pela "erradicação" sob uma perspectiva concreta e totalizadora, a autora não teve a pretensão de esgotar o assunto. Como em todo trabalho intelectual inteligente e rigoroso, à sua perspectiva foi seletiva, concentrando-se na análise das formas de manipulação a que é submetido o favelado antes e durante o processo de remoção, assim como nas defesas dessas populações e na sua capacidade de criar formas próprias e originais de contramipulação. *** Baseando-se num universo específico - no caso o Rio de Janeiro _ Lídia Valladares oferece com sua tese-livro, a oportunidade de reflexão sobre um problema que atinge hoje todo o País, em especial nas comunidades maiores: os programas de desfavelamentos, a política econômica do Banco Nacional de Habitação, o drama dos que acabam sendo obrigados a se desfazerem das casas que adquirem em programas difíceis de suportar. Com esta tese, abrindo um campo de interpretações Licia do Prado Valladares propõe material para que muitos homens que atuam na área passem a refletir melhor - e fornece a quem deseja ver criticamente o papel do BNH e Cohabs, elementos bastante esclarecedores. O APOIO QUE DUQUE MERECE O jornalista e economista Hélio Duque, editor de coluna especializada em O ESTADO e presidente da Companhia de desenvolvimento de Londrina, só decidiu disputar uma cadeira na Câmara Federal frente a insistência de vários diretores municipais do MDB do Norte, preocupados em encontrar candidatos de alto nível, capazes de valorizar a representação oposicionista em Brasília. E a Solidariedade que Duque encontra não fica restrita apenas à legenda, mais a própria expressão das lideranças produtivas, trabalhadoras e intelectuais que há muito acompanham - e admiram - o seu trabalho. "Daí vem o grande estimulo dessa nova caminhada", explica. *** Além de ter escrito "A Guerra do Café Solúvel" (1970), primeiro trabalho a respeito deste tema, Hélio Duque já tem editado dois outros livros: "As Contradições do Desenvolvimento Brasileiro" (1972) e "A Luta Pela Modernização da Economia Cafeeira" (1976). Os dois primeiros saíram pela Editora Leitura S/A, do Rio e o último pela Editora Alfa-omega, de São Paulo. Duque é também professor da Universidade Estadual de Londrina, no curso de Economia, há 9 anos e, em 1974, defendeu tese de doutorando na área econômica, na UNESP, sobre "A Industrialização do Café na Economia Brasileira", sendo aprovado com a nota máxima. E em 1975, na primeira fase de desenvolvimento da CPI das Multinacionais assessorou o deputado Alencar Furtado, em Brasília. Em todos os eventos que tem participado, Hélio Duque tem oferecido bem fundamentados estudos: no II Simpósio Nacional da Soja, compareceu com um estudo sobre "A Industrialização e o consumo de soja no mercado Interno" e no II Encontro Nacional de Distrito Industriais, em Portos Alegre, defendeu a agroindústria e a criação de uma Lei de Uso dos Solos no Estado do Paraná.
Texto de Aramis Millarch, publicado originalmente em:
Estado do Paraná
Almanaque
Tablóide
1
05/03/1978

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