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Aramis

Pesquisas que destroem

Há algumas semanas abordamos o (grave) problema da destruição de enciclopédias, livros de referências e, principalmente revistas, existentes nas nossas - poucas e carentes - bibliotecas. Destruição estimulada pelos professores de 1º e 2º grau, que, no modismo das "pesquisas escolares" passam a atribuir melhores notas aos trabalhos com melhor apresentação visual - ignorando o conteúdo. Logicamente, para ilustra bem as "pesquisas", as crianças e jovens passam a utilizar todos os meios - e como é uma percentagem mínima que provem de famílias onde existam, regularmente, material possível de ser utilizado (sejam revistas de atualidades, ou enciclopédias cujas ilustrações possam ser xerocadas ou reproduzidas por custosos processos fotográficos), as mesmas passam a usar a "gilete criadora". Nas bibliotecas - principalmente na divisão infanto-juvenil, da unidade central, ou nas de bairros (mínimas, preocupação aliás do secretário Luís Roberto Soares, da Cultura e Desportos) passam a tentar driblar as responsáveis e conseguirem as ilustrações necessárias. O deputado José Domingos, no mesmo dia em que publicávamos o comentário, fez um requerimento destinado ao secretário da Educação, sr. Edson Machado, e ao prefeito Jaime Lerner - sugerindo medidas destas autoridades para bloquear tais táticas de ensino. Até o momento não sabemos o que, de prático, a Secretaria e a Prefeitura puderam fazer a respeito, mas o problema continua. Acabamos de receber uma carta, que, por conter numa linguagem clara e precisa, observações que endossamos totalmente - e que por isto abaixo transcrevemos - preservando a identidade de sua autora, pois, como ela própria acrescenta em P:S:, "é melhor uma covarde passar bem para o próximo período, do que uma corajosa se ver fora das boas graças de uma péssima professora, senhora já idosa, mas com muito poder e autoridade". Pelo idealismo e interesse no bem comum, a leitora que espontaneamente se associou à nossa preocupação merece, cremos, admiração - e, se há, realmente, intenção, de se resolver o problema, mereceria ser valorizada por quem de direito. De nossa parte, fazemos nossas as suas palavras... "Sob o título "Pesquisas que destróem", no Tablóide de 25-4-79, V.Sa. aborda o assunto dentro da mais pura realidade. Essa "brilhante idéia" de exigir trabalhos ilustrados é bem idosa. No meu "ginásio" se usava. No entanto, fiquei surpresa de ingressar (isso recentemente) para a Faculdade (de Educação e Federal, veja V.Sa.) e ver que professores catedráticos de grande experiência mesmo, concedem notas maiores aos trabalhos ilustrados. Chegam ao cúmulo de folheá-los apenas e na nossa presença dar notas mais altas aos trabalhos "mais bonitos", não importando se foram copiados ou não. Junto às gravuras, assumem importância cada vez maior os trabalhos com páginas plastificadas e encadernadas luxuosamente. No entanto, todos os professores negam que as notas sejam dadas em função disso. E para o aluno, que precisa das notas, o que resta fazer senão copiar, copiar e copiar? Recorta algumas gravuras, enfeita bem e lá vem o desejado "excelente". Que professores estarão se formando "pesquisando" dessa maneira? As modificações da Reforma não abrangeram a mente do professor. Ele continua e continuará sempre o mesmo. É uma transmissão de "vícios de educação". E a criatividade, a imaginação, onde ficam? Se existem, sucumbem com as injustiças. E grassar, não grassarão nunca sem estímulos. Como o disse tão bem V.Sa...."transformando-os (os jovens) em meros recortadores de revistas e livros". Com esta denúncia, observa-se, então que o problema não é apenas na área do ensino médio. Mesmo professores universitários também estão estimulando a destruição dos acervos das bibliotecas. Vamos aguardar que alguém mais se sensibiliza com este problema.
Texto de Aramis Millarch, publicado originalmente em:
Estado do Paraná
Nenhum
Tablóide
5
31/05/1979

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