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Aramis

Piano, flauta & violões

A idéia de que a música instrumental não vende começa a mudar, tal o número de (estimulantes) discos de instrumentistas, conjuntos e mesmo orquestras que têm aparecido no mercado - tanto em produções independentes (cada vez em maior intensidade) como de gravadoras. O pianista compositor e arranjador Eduardo Assad, um dos mais procurados profissionais da área de arranjos, decidiu fazer o seu próprio lp - atuando no piano e acompanhado por uma orquestra e coral. "Chanson pour Anne" (RCA), com um repertório dos mais diversificados, é um disco de grande apelo comercial, com arranjos glamorosos - que justificam uma atenção a este artista brasileiro - bem mais criativo do que o multipromovido Richard Claydermann, hoje um dos pianistas de maior popularidade no Brasil. Eduard Assad escolheu um repertório que vai desde composições de Lennon/ MacCartney ("The Long And Winding Road/Yesterday") até fragmentos de "O Guarani" (Antônio Carlos Gomes) e "Rapsódia Húngara" (Liszt) - passando por composições da chamada "fase jovem" - "Detalhes" (Roberto-Erasmo Carlos), "Como Vai Você" (Antônio Marcos/Mário Marcos), sem deixar, naturalmente de incluir composições próprias como "Presente de Amigo" e "Heart's Sound". A música-título do disco não é estrangeira: é uma suave melodia de Benê Alves. Para quem curte violão - um dos instrumentos mais ricos em possibilidades sonoras, três expressivos lançamentos. "Al Viento" (Atlas/Ariola) traz Manolo Sanlúcar, instrumentista e compositor que, sinceramente, desconhecíamos até agora - e sobre o qual o departamento internacional da Ariola não forneceu maiores informações. Mas independente de dados sobre Manolo, a sua técnica ao violão, num trabalho em que baseou num pequeno grupo formado pelos flautistas Jaime Muelo e Pepe Oliver, percussionista / baterista Tito Muarte e mais uma guitarra (esta elétrica) - de Alberto de Almar, tem belos momentos - num repertório de sete temas próprios: "Esmeralda", "Al Viento", "Velero", "Mezquita", "Ana Maria", "Angústias" e "Liberinto". Flautista, compositor e musicólogo de formação erudita, boa experiência em vários grupos, o mineiro Kim Ribeiro, hoje radicado em Porto Alegre, vem desenvolvendo um interessantíssimo trabalho. Há dois anos fez um lp, mostrando tanto músicas populares como trabalhos de maior fôlego e posteriormente editou um livro teórico sobre música. No final de 1982, em novo trabalho independente, ampliou suas propostas com uma associação ao violonista Raimundo Nicioli, autor de quatro faixas: "Morena", "Mônica", "Amendoira" e "Madrigal". Kim é autor das demais faixas: "Tempo de Espera" (parceria com Regina Celi), "De Manhã", "Nuvem Passageira" e "Sábado À Noite", esta em parceria com Raimundo. Embora basicamente um disco de violão/flauta, há voz de Telma Costa ("Tempo de Espera"), intervenções de três outros flautistas - Mauro Senise, Estevão Teixeira e Franklin em vários momentos, bem como do violonista Bilinho Teixeira, do bandolim de Afonso, e do cavaco de João em "É de Manhã" - enquanto o excelente baixista Luizão se faz ouvir em "Morena". Produção cuidadosa, realizada nos estúdios da Hara, RJ, em outubro do ano passado, este disco independente ficou entre as melhores produções de 1982. Inaugurando o selo Carmo, aproveitando o seu mini-estúdio no Jardim Botânico, Egberto Gismonti produziu discos de [seus] atuais parceiros - André Gerassati e Carneiro, que o acompanharam, há alguns meses, no memorável concerto que fez no Auditório da Reitoria. Em dezembro, no aniversário do Paiol, Egberto e André voltaram a Curitiba, quando os primeiros exemplares de "Entre Duas Palavras" foram vendidos. Praticamente ainda inédito comercialmente - apesar de a Odeon ter prensado o disco e dar o apoio de distribuição - este lp-solo de Gerassati, integrante do Trio D'Alma (dois lps gravados), se firma como um dos discos de maior voltagem criativa que ouvimos nos últimos anos. Afinal, para entusiasmar um [gênio] como Gismonti (hoje o músico-compositor brasileiro de maior prestígio internacional), um instrumentista tem que trazer muita força. E isto André apresenta em seus temas. É bom lembrar que "Entre Duas Palavras" não é um disco comercial ou glamorizado, para se ouvir desatenciosamente. Ao contrário, é um trabalho requintado, que exige concentração para que se possa perceber toda a dimensão de André Gerassati, em longas faixas como "Imagem" e nos três movimentos que o seguem: ["]Lagoa Silenciosa", "Entre Duas Palavras" e "Cedral Corumbá". Egberto é reverenciado com uma nova gravação de "O Mágico". Basicamente um disco-solo, não faltam porém as perfeitas intervenções de Gismonti nos teclados, celo e violão (em "Mágico") e Marcos Bosco" (percussão) em "Imagem". Um disco refinadíssimo, de alto nível - e que vale qualquer sacrifício para ser obtido. Em Curitiba, tentem procurá-lo na Livraria Dário Veloso, da Fundação Cultural de Curitiba (Praça Garibaldi), que está abrindo um espaço para as produções independentes.
Texto de Aramis Millarch, publicado originalmente em:
Estado do Paraná
Nenhum
Música
29
26/06/1985

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