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Ponty, o violino muito eletrificado no Guaíra

O cigano Django Reinhardt foi o primeiro e maior, não resta dúvida! Em pouco mais de duas décadas, vivendo errante como o sangue que trazia nas veias assim o caracterizava, Jean Baptiste Reinhardt (Liverchies, Bélgica, 23/1/1910 - Fontainebleau, França, 16/5/1953) foi não apenas um tremendo guitarrista e executante de banjo, mas, sobretudo, ficou como o primeiro jazz-man a valorizar o violino numa música que, até então, havia resistido a este instrumento - identificação à música clássica. Desenvolvendo uma nova técnica de execução do violino, inicialmente trabalhando com a banda de André Ekyan e, mais tarde, no lendário, quinteto que se apresentava no Hot Clube da França, ali se formaria o seu grande discípulo, Stephane Grappelly (Paris, 26/1/1908), que, ao contrário de Django, faria sua carreira basicamente no violino (embora também virtuoso nos teclados). Um terceiro europeu, francês como Grapelly - só que nascido 37 anos depois - Jean-Luc Ponty (Arranches, Normandia, 29/9/1942) faria com que o violino chegasse, como instrumento jazzístico na fusão com as correntes modernas do rock/pop. Com Grapelly, 80 anos, afastado de cansativas viagens internacionais, assistir a Ponty é sempre uma opção - o que teremos neste domingo (auditório Bento Munhoz da Rocha Neto, ingresso a Cz$ 2 mil na platéia e Cz$ 1.500,00 no 2o. balcão). Django, embora sem desprezar a amplificação elétrica - mas na época o instrumental ainda era limitado na ligação com a tomada - fazia do acústico o fundamental. Grapelly também sempre preferiu um som menos eletrificado. Ponty, pela sua própria juventude e formação profissional, trabalhando com dois dos mais inventivos monstros sagrados da música pop - Frank Zappa e Elton John, além de ter integrado, por algum tempo, a demolidora "The Mahavishnu Orchestra", buscou recursos eletroacústicos para o seu som. Apesar de hoje utilizar não só o violino elétrico Barcus-Berry mas também o Zeta, um violino elétrico especialmente desenvolvido para o seu trabalho, afirma: "- Eu componho puramente para a própria música. Não vejo a tecnologia como a coisa mais interessante do mundo. "É simplesmente uma ferramenta para ajudar-se a criar minha própria música". Na excursão que faz pelo Brasil - iniciada no dia 6, no Anhembi e que prosseguiu por Belo Horizonte, Goiânia, Brasília e Rio de Janeiro (após Curitiba, se apresenta dia 17 em Porto Alegre, voando depois para Buenos Aires), Ponty traz um quarteto ajustado as suas propostas: Baron Leron Browne (que o acompanha há 5 anos); Rayford Griffin na percussão (com ele desde 1980); o tecladista Walter Minko Jr. E o guitarrista e sintetizador Jaime Glazer, que com ele tem gravado e viajado desde os anos 70. Com treze álbuns gravados - a maioria editada no Brasil [pela WEA - Ponty acaba de lançar "The Gift of Time", que mereceu simpáticas apreciações da crítica internacional/ Por exemplo, o disc-review do "Santa Monica Outlook", na Califórnia, escreveu que "reflete um interesse de Ponty na orquestra, usando um Sunclavier, instrumento eletrônico que tem tecnologia de sintetizador. Ponty, está agora tocando um violino simultaneamente. O efeito é estonteante para se assistir - e a sensação é de muitos violinos em harmonia ou uma flauta dupla, todos tocados por Ponty". Em São Paulo, na estréia, Ponty recebeu diferentes críticas - mostrando 16 músicas do LP "The Gift of Time". O crítico Marcos Mirkoff, da "Folha de S. Paulo", fez restrições a perda da marca pessoal que a escrita de Ponty tinha há dez anos ("hoje ele dilui em água influência de vários grupos da música high-tech: sua "Elephants in Love" copia mal as complicadas tapeçarias sonoras do King Crimson; "Individual Choice" abre como se fosse Philip Glass". Mas, por certo, o resultado final entusiasma o público - especialmente aquele que prefere o som elétrico, rotulado de um jazz fussion representativo de novas correntes - pois nada é imitável, tudo muda. Pena que nem sempre para melhor. LEGENDA FOTO: Ponty, um violino elétrico no jazz, faz única apresentação no Guaíra, domingo.
Texto de Aramis Millarch, publicado originalmente em:
Estado do Paraná
Almanaque
Nenhum
12/05/1988

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