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Aramis

Pouca afinação no debate dos músicos

Não foi o primeiro e, decerto, não será o último encontro dos músicos, compositores e intérpretes da cidade. Mas foi dos mais produtivos já realizados nos últimos anos para a discussão de problemas da categoria, que só muito recentemente vem se interessando em organizar-se para defesa de seus direitos. Ao final da reunião, Fernando Brandt, 39 anos, letrista, um dos líderes nacionais pela luta dos direitos autorais e um dos organizadores do Encontro de Araxá comentava: - O ponta-pé inicial foi dado. Agora é esperar que a equipe local faça os gols! [Brandt], parceiro de Milton Nascimento em suas melhores composições, atualmente dirigindo a Rádio Inconfidência, em Belo Horizonte, veio a Curitiba a convite da mignon Glacy Gattardello, especialmente para participar de uma reunião com a classe musical. Ao seu lado, também oportunas participações, o advogado Hildebrando Pontes Neto, mineiro, especializado em Direito Autoral, e Fabio Gomes, secretário geral adjunto do Ministério da Cultura. Devido a problemas de última hora, Hermínio Bello de Carvalho, diretor do Departamento de Música Popular da Funarte, e o compositor Luiz Gonzaga Jr, não puderam vir. Não faz mal. Aqui estarão na próxima semana, participando de uma segunda rodada de debates como parte dos "Encontros de Cultura", que numa forma compacta Fundação Cultural volta a promover este ano. xxx Durante mais de três horas, o livro de queixas e reclamações foi demoradamente preenchido por instrumentistas, compositores e algus poucos intérpretes, reunidos na Sala Scabi, do Solar do Barão. Direitos autorais, a ação do Ecad, as poucas possibilidades do mercado restrito, falta de divulgação e oportunidade para os profissionais da terra, a participação oficial, entre outros pontos levantados.Osval Siqueira, 58 anos, maisresidente da Associação dos Músicos Profissionais do Estado do Paraná, resumiu um dos pontos críticos: a falta de interesse dos próprios profissionais em se organizar para a conquista de direitos. Há mais de 20 anos, Osval chegou a fundar um sindicato, que acabou com a carta cassada pela total ausência de interessados. Agora, tendo retornado a Curitiba há 5 nos, após morar alguns anos em Porto Alegre, Osval vem tentando reestruturar a categoria, através da associação, que já poderia ter se convertido novamente em sindicato, se houvesse maior participação dos interessados. Osval também dirigiu a seção regional da Ordem dos Músicos do Brasil, de cuja diretoria, hoje, é [fidalgal] inimigo, motivo pelo qual, aliás, nenhum representante da OMB se fez representar na reunião de terça-feira. Entre mortos e feridos nas discussões do Solar do Barão, ao menos um consenso: a necessidade da questão ser colocada em reivindicações objetivas, que poderiam ser alcançadas através de um encontro estadual de todos os interessados. Para tanto, uma comissão foi nomeada e agora vamos ver o que de prático acontece. xxx Na segunda-feira, no auditório da Secretaria da Cultura, os compositores e intérpretes da cidade terão outra reunião, que promete ser inflamada: estabelecer os critérios que deverão ser observados para a escolha dos artistas locais que abrirão os shows do Projeto Pixinguinha, a partir de agosto. Uma questão delicada: antes da apresentação de cada show com nomes nacionais, haverá 30 minutos para artistas do Estado no "Pixingão", no Rio de Janeiro. Há mais de 100 interessados, obviamente, em ocupar essa janela promocional, que poderá servir de catapulta a uma sonhada projeção fora de nossos limites municipais. Como avaliar aqueles que podem oferecer um melhor trabalho, em níveis de profissionalismo, competência técnica e comunicação? Uma das idéias é deixar que a própria categoria faça indicações. Mas aí surgirá um problema: o blá-blá [será] tão demorado que o Projeto Pixinguinha estará terminando e nossos artistas ainda não terão definido os nomes!
Texto de Aramis Millarch, publicado originalmente em:
Estado do Paraná
Nenhum
Tablóide
28/06/1985

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