A rigor, a área de vídeo do Salão Curitiba Arte V, deveria aceitar apenas trabalhos ligados ao setor de artes plásticas. Mas como se tratou de uma primeira experiência - e sem tempo útil para divulgá-la nacionalmente - a comissão julgadora observou, com atenção, todos os VTs inscritos. A vitória do vídeo "Miguel Bakun", de Heloísa Passos, 22 anos, foi por unanimidade. Sensível e com um roteiro bem desenvolvido, Heloísa capturou o essencial da vida e obra do trágico pintor, com imagens de muita beleza. Apesar de uma trilha sonora às vezes alienada (o uso de temas de jazz de Gerry Mulligan, no início, por exemplo), o VT de Heloísa tem méritos, que o credenciam a disputar a próxima Jornada de Cinema da Bahia, que tem um setor especial para documentários. Isto se Heloísa não terminar a tempo seu segundo projeto, "Maria Bueno" - interrompido pelo fato de ter se integrado na equipe de produção de "Longas Sombras no Final da Tarde", de Fernando Severo, e, agora, em "A Loira Fantasma", de Fernanda Morini - dois curtas, 35mm, em fase de produção (e que vieram movimentar o arraial cinematográfico da cidade). xxx Realizado há mais de um ano, como uma peça especial para a individual da exposição de Andréa Lass, 31 anos, "Vibrações", de Carlos Henrique Túlio, 26 anos, mereceu uma das menções honrosas no Curitiba Arte V. Dentro das propostas de vídeo-arte, em termos de utilização de imagens sobre criação plástica, esta sucessão de imagens desenvolvidas a partir de serigrafias em acrílico e acetatos transparentes foi uma proposta curiosa. Pena que por falta de informação musical, seu realizador, ao invés de usar como trilha sonora o choro de Jacob do Bandolim (Jacob Pick Bittencourt, 1918-1969), com o nome de "Vibrações", tenha preferido um hermético tema jazzístico de Miles Davis. Concebido despretenciosamente, "Vibrações" é uma experiência curiosa de Túlio, que teve suas primeiras ligações no cinema ao integrar a equipe de Jaime Brustolim, que fez o desenho "Brasileiro". Atualmente, também integrando a equipe de Fernanda Morini, na rodagem de "A Loira Fantasma", Túlio pensa em fazer um novo vídeo-arte, desta vez em torno da obra da gravurista Uaiara Bartira. xxx "Josephine", uma espécie de superprodução em vídeo local, mesmo fugindo da proposta do salão - já que é uma ficção unindo suspense e humor - valeu uma menção honrosa pelos esforços de seus realizadores. Outros trabalhos inscritos trouxeram trabalhos de jovens que começam a mergulhar nos encantos do vídeo. É o caso de Giácomo Claussi, 19 anos, que em parceria com Luís Odilon Merlim, 21, estudantes de teatro, realizou "Music in Street of Flowers", longo (35') documentário sobre artistas populares que se apresentam na Rua das Flores. Justificando o título em inglês "como uma forma de fazer um cartão sonoro de nossa cidade para ser mostrado no Exterior", Giácomo orgulha-se de um trabalho anterior "Qual é o Problema?", ficção, 40 minutos, ter sido levado a uma mostra no Japão. Talvez por este estímulo, fez também uma versão de "Música na Rua das Flores" com título em japonês ("Hana Notorino Shirade"), para tentar mostrar naquele país. Com bom apoio técnico - e associado ao jovem bilionário Eduardo Bergerson, 19 anos, um dos poucos curitibanos que possui uma moderna ilha de edição - Giácomo está realizando um novo vídeo-ficção, "Como Conviver com Fantasmas?". Os 90 minutos rodados serão reduzidos apenas para cinco - com vistas a ter um resultado enxuto, em boas condições para disputar o próximo Vídeo-Brasil, mostra da qual já participou em 1988 com "Qual é o Problema?".

Texto de Aramis Millarch, publicado originalmente em:

Veiculo: Estado do Paraná

Caderno ou Suplemento: Almanaque

Coluna ou Seção: Tablóide

Página: 3

Data: 20/05/1989

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