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Aramis

Quando falam os saxofones...

Quando o belga Adolphe (Antoine Joseph) Sax (1814-1894), um fabricante de instrumentos musicais de sopro desenvolveu o que levaria o seu nome, em 1846, não imaginaria que estava trazendo para a música uma contribuição fundamental. Membro de uma família de instrumentos de sopro, de palheta simples, o saxofone, possuindo corpo de metal, seria como um cruzamento de clarineta com o oboé, tendo embocadura do tipo da clarineta e tubo cônico semelhante a do oboé. Inicialmente, a família era mais numerosa - 14 tipos diferentes, que se aperfeiçoariam nos que chegaram até nós - o sax alto, o tenor, o soprano - basicamente, mas havendo também o sax barítono e o sax baixo, este em si bemol, raramente usado. Mesmo estimulando a criação de peças que integraram em muitas orquestras clássicas, seria na chamada música popular e mais particularmente na americana, que o sax teria o seu maior dimensionamento de utilização. Impossível, hoje, estudar a música americana - das big bands aos grupos de metais, sem passar pelos saxofonistas que sabendo extrair todos os recursos oferecidos pelo instrumento alcançaram novas dimensões. Não só como instrumento de combinação nas seções de metais, ou solo, mas capaz de resistir em formações exclusivas, o sax oferece cada vez maiores possibilidades e um exemplo de como pode quem tem talento utilizá-lo está em dois dos melhores elepês colocados no Brasil. O primeiro é World Saxophone Quartet, formado por Julius Hemphill, Oliver Lake, David Murray e Hamlet Bluiett, que num trabalho avançadíssimo trabalham sobre um repertório próprio, repleto de idéias sonoras. Gravado em abril de 1987, "Dances and Balladas" (Nonesuch/WEA) foi, sem dúvida, a grande revelação em termos de formação instrumental no passado - e a repercussão favorável deste álbum já fez com que o grupo esteja agendado como futura presença no Free Jazz Festival. Admiradíssimo na fusão metais com harmônica vocal do grupo L.A. Voices, o Supersax é, ao contrário do World Saxophone Quartet, um grupo já conhecido no Brasil. "Stone Bird" (CBS, fevereiro/89) vem, de certa forma, complementar a emoção que "Bird", o magnífico filme de Clint Eastwood (trilha também editada pela CBS) reverenciou o gênio Charlie Parker. Leonard Feather, o mais notável enciclopedista do jazz, no texto de contracapa, fala de homenagem que Med Flory, líder e fundador do SuperSax (grupo criado na Califórnia, em 1972) procurou fazer ao Yardbird nesta esplêndida produção, gravada quando o filme de Eastwood ainda não havia sido lançado - e, apresentado em Cannes, ganhava um prêmio especial pelo trabalho técnico e dava a Forest Whitaker, intérprete do personagem-título, a Palma de melhor ator. Formado por cinco saxes - Med Flory, Lenney Morgan, Ray Reed, Jay Migliori e Jack Nimitz, mais uma seção rítmica com Lou Levy no piano; Monty di Budwig no baixo; Larance Marable e Jack Hanna na bateria, o pistão de Conte Candoli, o SuperSax nas nove faixas faz refluir a música de Parker - sejam as suas próprias composições ("Kim", que dedicou a sua filha; "K.C. Blues", "Confirmation", "Moose The Mooch", "Serapple From The Happle" e "Au Privave"), ou aquelas que tanto gostava de incluir em suas apresentações - como "If I Should Love Lose You" (L. Robin/R. Rainger), "Lover Man" (Ramirez/Sherman/Davis) e, especialmente, a conhecidíssima "Salt Peanuts" (Gillespie-Kenney Clark). "Dances And Ballads", com as novas músicas do World Saxophone Quartet e este tributo a Parker - "Stone Bird", prestado pelo Supersax, estão, entre os momentos musicais que, perpetuados na gravação (disponíveis também em CD) faz com que se confirme, cada vez mais, a grandeza dos grandes autores e a importância dos instrumentistas saberem registrá-los. Discos nota dez, com louvor.
Texto de Aramis Millarch, publicado originalmente em:
Estado do Paraná
Almanaque
Música
12
19/03/1989

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