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Aramis

Que não se perca o Halley pela falta de informações

O Cometa Halley já tem uma bibliografia que se amplia cada vez mais. A Francisco Alves, que já havia aproveitado a ocasião para lançar o básico "Introdução aos Cometas" do astrônomo Ronaldo Rogério de Freitas Mourão e, na rabeira, também trazer mais um dos 300 livros do cientista e ficcionista Isaac Asimov ("A Medida do Universo"), publica agora "O Livro Oficial do Cometa Halley" de Brian Harpur, fundador da Sociedade do Cometa Halley, em 1975, professor da Universidade de Londres e autor de um best-seller, "The Impossible Victory". Associado a Laurence Anslow, membro da Sociedade Astronômica Real, da Inglaterra, produziu uma versão para jovens, com tudo o que um adolescente precisa saber para aproveitar ao máximo a visita do Halley. Fatos a respeito de visitas anteriores, vida dos astrônomos mais famosos, dicas de como registrar a sua visita etc. Já, o "Livro Oficial" para adultos é fartamente ilustrado, com 8 páginas a cores, com 40 fotos em preto e branco e inúmeros diagramas. xxx A cada mês a Brasiliense lança novos títulos de suas coleções Primeiros Passos, Encanto Radical, Tudo é História, QualÉ etc. Em pocket books, preços acessíveis, a editora de Caio Graco vem contribuindo para a informação do brasileiro, trazendo textos objetivos e didáticos sobre os mais diferentes temas, problemas e, naturalmente, personalidades dos vários campos - artes, história, política etc. Ainda agora temos como volume 166 da "Primeiros Passos", o objetivo "O Que é Tradução", no qual Geir Campos, 62 anos, poeta e tradutor, fala sobre o que é tradução, chegando até a dar macetes sobre esta difícil e importante profissão, que tem hoje no curitibano Paulo Leminski (aliás, contratado com exclusividade da Brasiliense) - um dos profissionais mais requisitados (ainda agora, está sendo lançada sua caprichada tradução para "A Morte de Malone", comemorativa aos 80 anos do escritor irlandês Samuel Beckett). xxx Na mesma coleção Primeiros Passos, Jair Ferreira dos Santos, paranaense de Cornélio Procópio, 40 anos, poeta, ficcionista e ensaísta, explica "o que é Pós-Moderno", estabelecendo interessantes relações sobre as novas correntes da arte, mostrando por exemplo que ligação existe entre o microcomputador e uma sex-shop ou por que a massa comunista tem no rosto um misto de fascinação e melancolia? Interessante também a questão do fim das vanguardas nas artes, o niilismo da boca dos filósofos - enfim, questões culturais, muito discutidas em mesas de bares por uma nova geração - que tem ao menos em volume como estes, algumas informações mínimas. xxx Falando em arte, a multipersonalidade de Flávio de Carvalho (1899-1973), arquiteto, artista plástico, criador de modismos e, especialmente um dos mais assumidos agitadores culturais de sua geração, não poderia faltar na coleção "Encanto Radical". E para traduzir um pouco da vida e obra de Flávio de Carvalho, o mineiro Antônio Carlos Robert Moraes, 32 anos, sociólogo, ex-professor da Unicamp hoje na USP, fã de Bob Marley, produziu um texto de 82 páginas ao qual chamou de "O Performático Precoce". Segundo sua visão, Flávio de Carvalho foi um homem marcado pela versatilidade: desde a elaboração de excêntricos projetos arquitetônicos, passando pela engenharia, pintura, escultura, literatura, teatro, jornalismo, deixou por todos os lugares sua marca inconfundível de bombardeador futurista. Enfim, foi um agitador cultural que não mediu esforços para chamar a atenção da cidade (no caso São Paulo, onde viveu a maior parte de sua vida) e das gentes para um novo tempo. Assim em performances incomuns, marchou convicto contra o conservadorismo da igreja e o moralismo burguês. xxx Através da coleção Cantadas Literárias, a Brasiliense tem alternado textos e poesias de novos autores com trabalhos clássicos. E como nos últimos três anos "Carmen" de Prosper Mérimée (paris, 1803 - Cannes, 1870), publicada em 1845, teve nada menos que oito novas versões cinematográficas - da dilacerante transposição modernista de Jean-Luc Godard à respeitosa versão operística de Francesco Rossi (com a música de Bizet), ou a suavidade do filme-ballet de Carlos Saura, nada melhor do que conhecer o texto original. Assim, o volume 42 da Cantadas Literárias mostra o texto de Mérimée sobre esta mulher fatal, ávida de riqueza, cuja beleza enfeitiça e aniquila. xxx Novos poetas sempre devem ser saudados com boa vontade, quando trazem uma lírica inteligente, criativa e, naturalmente, emocionante. Wilson Rocha, nascido na Bolívia (1921), mas que editou na Bahia seus primeiros livros, é autor de "A Forma do Silêncio - Poesia Reunida" (José Olympio Editora, 142 páginas, Cz$ 35,00). Um poeta respeitável, Mauro Mota, assim se referiu a Wilson Rocha: "Emociona ver a nossa poesia liberta de prevaricações e desvios madrigalescos na voz de Wilson Rocha, uma voz impregnada dos grandes mistérios da vida e da morte e que, por isso mesmo, surgiu para ressonâncias perenes". Falando em poesia, um registro necessário: em "A Elegia Erótica Romana - o Amor, a Poesia e o Ocidente" (Editora Brasiliense, 1985), Paul Vayne, investigando minuciosamente a alegria erótica latina, fez não só uma leitura desse gênero literário, mas também um ensaio sobre a significação do amor e da poesia no Ocidente. Um dos mais importantes historiadores da atualidade, Vayne, em suas análises finas, freqüentemente bem-humoradas e com conclusões inesperadas, destruindo muitas crenças fossilizadas pela tradição literária, revela que o sofrimento do poeta, longe de ser uma confissão sincera, era um procedimento literário como outro qualquer. E mais: Paul Vayne acaba por revelar que, na Antigüidade, o amor não tinha o mesmo significado que hoje tem para nós - se, por um lado, o objetivo era o prazer, por outro, temia-se a paixão como se temem as doenças.
Texto de Aramis Millarch, publicado originalmente em:
Estado do Paraná
Almanaque
Leitura
2
13/04/1986

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