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Aramis

A raposa ganhou espaços e traz festival de inéditos

Nos anos dourados da cinelândia curitibana, os filmes da MGM eram exibidos exclusivamente no Cine Ópera - inaugurado em 1943, enquanto que o seu principal concorrente, o Avenida, bem mais antigo (foi aberto em 1º de maio de 1929, com "Moulin Rouge") tinha as produções da 20th Century Fox, alternadas com as da Universal (que, depois passavam para o antigo Ritz). O Cine Theatro Palácio, do pioneiro Henrique Oliva, tinha nas produções da Paramount a sua grande força para atrair os espectadores da tranqüila Curitiba de pouco mais de 100 mil habitantes - mas que lotavam as salas de exibição. O tempo passou, os velhos cinemas desapareceram e o público parece que também - apesar de hoje a cidade ter 15 vezes mais habitantes. Desapareceram as grandes produtoras com escritórios locais - embora as majors americanas continuem a dominar o mercado, mas com modestas representações regionais. Há muito que se inverteram as regras do jogo dos chamados "territórios cinematográficos" e não há exclusividades para uma mesma produtora numa determinada sala - muito pelo contrário, o que há é um salve-se quem puder. Por exemplo, mudanças na distribuição local se refletem nas programações. Os cinemas da CIC (Condor, Lido I - II), passaram a programar filmes da Columbia, a partir de "Madame Souzantzka", de John Schelessinger, que foi um dos maiores fracassos do ano (menos de 300 espectadores no Lido II). A Fox passou agora a ser cuidada territorialmente pelo experiente João Aracheski, ex-executivo da Fama Filmes - e com isto os muitos filmes que estavam na prateleira do estúdio da raposa (e que eram exibidos apenas no Plaza) passaram para a cadeia Fama/Vitória: "A Outra", de Woody Allen - até agora, para nós, o melhor filme de 1989 - foi exibido no Bristol até quarta-feira, que os substituiu pela comédia "As Coisas Mudam" (Things Change), de David Mamet, produção recentíssima (estreou em Nova Iorque em março último). "Tucker - Um Homem e Seu Sonho", a elogiadíssima cinebiografia que Francis Coppola dedicou ao idealista Preston Tucker, o homem que sonhou fabricar o mais perfeito automóvel (e que foi vítima dos poderosos donos da indústria automobilística em Detroit), finalmente chegou no Cine Astor. Um filme elogiado, fascinante, que se fosse precedido de pré-estréias reunindo a comunidade ligada ao setor automobilístico (associados do Veteran Car; editores de suplementos de automobilismo; concessionárias, etc.) poderia ganhar um marketing promocional que se refletiria na bilheteria. Estreando sem qualquer promoção, corre o risco de repetir o que vem acontecendo com os melhores filmes que têm sido queimados na cidade nas últimas semanas: rendas baixíssimas, sessões canceladas por falta de público e frustração geral. É da Fox também um inesquecível festival com 4 filmes inéditos que chega no Cinema I. Aparentemente, filmes já previstos pelos próprios exibidores como venenos de bilheteria mas que possuem atrações para quem sabe ver um pouco além. A semana se completa com relançamentos nacionais como "Kuarup", de Ruy Guerra (Ritz), "Bar Esperança", de Hugo Carvana (Groff), "Sonho sem Fim", de Lauro Escorel (Guarani) e a estréia do pornochic "Volúpia de Mulher", do coreano-paulista John Doo, com Helena Ramos à frente do elenco (Plaza). Outra reprise, esta especial, é do belíssimo "A Festa de Babette", Oscar de melhor filme estrangeiro-88, que apesar de já disponível em vídeo, merece ser (re)vista na tela ampla, já que se trata de um dos melhores filmes do ano. Totalmente dispensável é o programa do São João - "Batalha pelo Tesouro", enquanto no Palace Itália continua em exibição "Calígula - A História que não Foi Contada", de David Hills - superpornô que tenta dar continuidade ao "Calígula" que o italiano Tinto (Giovani) Brass, 55 anos, realizou entre 1978/80, por encomenda de Bob Guccione, editor da "Penthouse" - e que quando de seu lançamento internacional causou escândalos. As Coisas Mudam - Uma comédia divertida em torno da Máfia, dando ao veterano Dom Ameche (Domenic Felix Ameci, 79 anos) a criação de um personagem - Gino, um pobre engraxate que seria usado por mafiosos em troca da realização de um sonho antigo (ganhar um barco para pesca) de mostrar que longe de seus tempos de canastrão de medíocres comédias da Fox (como as que estrelou com Carmen Miranda, revistas há duas semanas no Luz) chegou a velhice com muita garra: por sua atuação como Art Selwyn em "Cocoon" recebeu o Oscar de melhor ator-86. No ano passado, por este "Things Chance" recebeu os prêmios de melhor ator no Festival de Veneza, dos cinco maiores jornais da Europa e da associação dos jornalistas italianos. O diretor David Mamet é da novíssima geração, sendo este seu segundo longa-metragem. Uma comédia que justifica ser verificada. Cine Bristol. Festival Fox - A decisão da Fama em programar em forma de festival no Cinema I quatro filmes inéditos da Fox, mostra como há produções a espera de lançamento. Aberto com "Uma Alucinante Viagem" (The Couch Trip), 87, de Michael Ritchie, com Dan Aykroyd, Charles Grodin e Walter Mathau - sobre um louco que acaba se passando por um psiquiatra, a mostra prossegue hoje com um filme de título pouco atraente - "Este Advogado é uma Parada" (From the Hip, 87) e tem um tema interessante - o direito de um advogado (Judd Nelson, 26 anos, uma estreante) recuperar-se e defender um cliente (John Hurt) que sabe ser criminoso - e que mentiria no júri. O diretor Bob Clark, 48 anos, embora de filmografia irregular, tem um bom filme ("Tributo", 80) e alguns êxitos de bilheteria. "Este Advogado é uma Parada" será exibido somente hoje e amanhã. 3 Homens e um Bebê (Trois Hommes et un Conffin) - de Coline Serreau, foi o maior sucesso de bilheteria na França em 1985 e concorreu ao Oscar de melhor filme estrangeiro e ganhou o "Cesar" como melhor filme - além de ter representado a França no II FestRio. Seu êxito foi tão grande que rapidamente foi realizada uma versão americana, dirigida por Leonard Nimo (o Dr. Spock da série "Jornada nas Estrelas") - "Três Solteirões e um Bebê" (1987), que foi um dos maiores êxitos de bilheteria nos EUA e no Brasil. Por isto mesmo, a Fox desprezou a versão original - imensamente superior - e que só chega neste festival, para magras oito sessões (domingo a segunda-feira). Com Roland Giraud, Michel Boujenah, Andre Dussoullier, Dominique Lavanent e Philippine Leriy, "3 Homens e um Bebê" é uma comédia divertidíssima, suave, emotiva - ao contrário da grosseira adaptação americana. Encerrando o festival, outro filme que vale ser verificado, apesar do infeliz título em português: "O Rei da Paquera" (The Pick-Up Artist), 1987, de James Toback, 45 anos, que até agora ainda não conseguiu se firmar: seu primeiro filme foi "Fingers" ("Os Dois Mundos de Billie", por coincidência exibido na última terça-feira, pela Globo) e posteriormente realizou "Love and Money" (que tinha como ator o veterano diretor King Vidor), "Exposed" (com a belíssima Natássia Kinski e o bailarino Nureyev). Neste "O Rei da Paquera", com fotografia de Tordon Willis (cinegrafista favorito de Woody Allen), a atriz principal é a bela Molly Ringwald, atuando também o veterano Dennis Hoper e Harvey Keitel. O personagem título (no nome que o filme teve no Brasil), Jack Jericho, ficou para Robert Downey, filho de um cineasta classe B, e que anteriormente apareceu em "De Volta às Aulas". xxx Nos cines Condor ("Corra que a Polícia Vem Aí") e Lido I ("Indiana Jones e a Última Cruzada") as programações não mudam. No Lido II, "Lili Carabina, a Estrela do Crime", de Lui Faria, estreou (sem qualquer promoção no sábado passado) e, naturalmente, fracassou. Até quinta-feira, nem o atlético Egom Prim, o homem da CIC no Paraná, sabia qual o filme que ali estrearia amanhã. No Condor, neste sábado, às 22 horas, pré-estréia de "007 - Licença para Matar", a nova aventura de James Bond. LEGENDA FOTO - Roland Giraud, Michel Boujenah e Andre Dussoullier em "3 Homens e um Bebê": a comédia da francesa Coline Serreau, bem melhor do que a versão americana que fez sucesso de público. Em exibição somente no domingo e segunda-feira no Cinema I.
Texto de Aramis Millarch, publicado originalmente em:
Estado do Paraná
Almanaque
Cinema
8
25/08/1989

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