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Aramis

Reedições & nostalgia

Reedições de discos colocados há pouco no mercado não se constituem em norma geral das gravadoras que, prudentemente, esperam às vezes décadas para retomarem itens de seus catálogos. A não ser quando os pedidos dos lojistas justificam tal iniciativa ou eventos colocam em evidência artistas que haviam tido seus álbuns mal colocados quando do lançamento. E a WEA, relança - inclusive em termos de divulgação - três interessantes álbuns instrumentais. O saxofonista Sadao Watanabe com seu emotivo "Elis", gravado no ano passado no Rio de Janeiro, com bons instrumentistas brasileiros como Cesar Camargo Mariano (teclados), Nico Assumpção (baixo), Papeti (percussão) e Toquinho, seu parceiro em "Made in Coração". Com ótimos temas feitos através de sua ligação brasileira, via Toquinho (com quem já dividiu três álbuns, um deles somente editado no Japão), Watanabe mostra seu som limpo, criativo e suave em faixas como "Manhattan Paulista", e especialmente na faixa título, homenagem a Elis Regina. xxx Destaque no V Free Jazz Festival e autor da nervosa trilha sonora de "A Faca de Dois Gumes", Victor Biglione (Buenos Aires, 20/2/58), desde os 5 anos vivendo no Brasil, merece ter relançados os dois belos álbuns instrumentais que havia feito para o selo Musician/WEA: "Baleia Azul" e "Victor Biglione". Guitarrista de grandes idéias, formado nos anos 70/80, período em que trabalhou com cantoras como Zezé Motta e Gal Costa, ex-A Cor do Som (82/84, participando dos álbuns "Magia Tropical" e "As Quatro Fases do Amor"), em 86 fez o seu primeiro álbum solo, no qual, em 8 faixas, todas de sua autoria, sintetizava boas influências. No ano seguinte, "Baleia Azul", com mais 6 temas próprios e uma da dupla Kaper & Webster ("Invitation"), confirmava seu talento. Agora, estes dois bons trabalhos estão novamente nas lojas, após Vitinho ter brilhado no Free Jazz. xxx Veterano arranjador e instrumentista, vindo desde os tempos da Musidisc, Ed Lincoln faz, um álbum instrumental, reunindo composições de várias fases - como "Gaivotas", "O Ganso", "É o Cid" (parceria com Sílvio Cesar) e "Palladium" - esta parceria no início dos anos 60 e após alguns sucessos da época acabou esquecido. Um disco instrumental suave, quadrado talvez para os padrões deste final de década, mas que traz Ed Lincoln com um repertório até certo ponto nostálgico, valorizando um amplo coral e mais o trompete de Paulinho e a percussão de Barney. Edição da Polygram. xxx Outro disco com sabor de nostalgia ("Sou uma Criança"), gravado ao vivo num show de Erasmo Carlos, 48 anos, com sucessos de seu eterno parceiro Roberto Carlos ("Eu sou Terrível", "Mesmo que Seja Eu", "Festa de Arromba", "Filho Único", "Gatinha Manhosa", "Sentado à Beira do Caminho") ao lado de versões como "Lobo Mau" (com a participação dos Miquinhos), "Você me Acende"; sucessos da época da jovem Guarda como "Negro Gato" (Getulio Cortes), "Pode Vir Quente que Estou Fervendo" (Carlos Imperial/Eduardo Araújo, participação de Paula Toller). Uma curiosidade: "O Caderninho", do excelente guitarrista e compositor Almir "Alemão" Stockler, pecado que cometeu nos tempos em que era um dos Vandecos. Há também a participação especial do ex-RPM Paulo Ricardo em "Eu sou Terrível" e Leo Jaime em "Sou uma Criança, não Entendo Nada" (Erasmo-Giarochi). No mínimo uma gravação curiosa, registrando o show que o Tremendão fez no Golden Room do Copacabana Palace em maio último. Edição da Odeon. xxx Ray Connif, 73 anos, não se deixa abater. Anualmente comparece com um novo disco, geralmente com sucessos do último semestre. Agora, o veterano trombonista, regente e arranjador - que já fez mais de 150 LPs, sempre na CBS - decidiu dedicar todo um álbum ao compositor Manuel Alejandro, pouco conhecido no Brasil, mas com um repertório bolerístico dos mais agradáveis a quem busca som ambiente. Temas como "Cisne Cuello Negro", "Los Amantes", "Lo Mejor de tu Vida", nos vocais, cordas e metais açucarados que Ray Connif sabe preparar como ninguém adquirem um sabor de música para se ouvir e amar - como diria um disc-jockey da rádio Ouro Verde há 30 anos passados.
Texto de Aramis Millarch, publicado originalmente em:
Estado do Paraná
Almanaque
Música
24
15/10/1989

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