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Requião, o leitor de Dickens e Maquiavel

Roberto Requião deverá ver a questão cultural com maior profundidade. Afinal, sua formação intelectual é sólida, especialmente na área de estudos sociais e políticos e desde seus tempos de estudante sempre foi um devorador de livros que, normalmente, não seriam deglutidos com facilidade. Apesar de seus inimigos procurarem lhe dar a imagem de político rude, pouco sensível, na verdade, Roberto sempre esteve bem informado culturalmente e quem com ele convive há mais tempo reconhece esta faceta. Seja em sua vivência de líder estudantil - nos anos 60, ou depois, como empresário, sempre teve um círculo de amigos de boa formação intelectual. Antes de assumir totalmente seu lado político - a partir de sua primeira vitória como deputado estadual - era presença todas as noites nos encontros intelectuais espontâneos que aconteciam no coffe shop do Hotel Colonial, que tinha o publicitário Jamil Snege (também escritor e poeta) como um dos gurus - e a freqüência de um grupo interessado em literatura, cinema e, naturalmente política. A esposa de Requião, Maristela, também é uma pessoa razoavelmente informada, especialmente na área das artes plásticas. Embora em suas entrevistas omita o detalhe, seu primeiro emprego foi na Cocaco, a primeira galeria de arte de Curitiba, num velho casarão da Rua Ébano Pereira, endereço fundado por Loio Pérsio, Enio Marques e Manoel Furtado - mas na época (1961/63), já pertencente a Eugênio Petrius. A Cocaco era, então, um ponto de encontro de pintores e intelectuais, especialmente de uma nova geração de artistas - incluindo Juarez Machado (que em março de 1964 se mudaria para o Rio e hoje reside em Paris), que ali se encontrava todas as tardes. xxx Embora pensadores e ensaístas políticos, especialmente numa época - os de formação marxista-leninista, sempre estivessem entre seus atores favoritos, Roberto Requião também foi grande leitor de clássicos ingleses - de Shakespeare e Charles Dickens. Deste último, admirava não um livro em especial, mas o ardiloso personagem Mr. Pickwick. Entre os italianos, é claro que "O Príncipe", de Maquiavel, foi lido e relido uma centena de vezes - e por certo, até hoje deve estar em sua biblioteca de cabeceira. xxx Apesar de se especular em torno do retorno do advogado Carlos Frederico Marés de Souza - que por 7 anos foi o poderoso senhor da cultura municipal - à pasta da Cultura, com a vitória de Requião, poderá haver surpresas. Marés, cuja administração pode merecer discussões tinha, entretanto, méritos de buscar uma linha de ação cultural definida, além de sua integridade e coerência. Hoje, dentro da própria Fucucu, muitos são os que lembram, com saudade, o período em que ele, como pessoa gentil, educada e sobretudo competente, conduzia a cultura municipal. Não é sem razão, portanto, que três dos seus principais assessores na época - a arquiteta Jussara Valentim, o ex-dominicano César Botas e a geógrafa Yaskara Varella, ocupem hoje cargos expressivos na Secretaria Municipal de Cultura de São Paulo, que tem a felicidade de ter em seu comando uma professora e intelectual de real dimensão cultural - Marilena Chauí.
Texto de Aramis Millarch, publicado originalmente em:
Estado do Paraná
Almanaque
Tablóide
24
26/09/1990

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