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Aramis

A revolta dos Muckers

Aos poucos vão saindo das universidades brasileiras, como teses de mestrado e doutoramento em cursos nas áreas de ciências sociais, pesquisas e interpretações que esclarecem fatos, desconhecidos e esquecidos da história brasileira. Um exemplo disso é dado pela Professora Janaína Amado, baiana de Salvador, hoje radicada em Goiânia em "Conflito Social no Brasil - A Revolta dos Mucker" (Coleção Ensaio e memória, Editora Símbolo, 304 páginas, Cr$ 95,00). Talvez o mais esquecido - e desconhecido - dos conflitos messiânicos brasileiros, até agora centrado em canudos, na figura do padre Cícero e, em nossa região, no Contestado (também ainda a espera de novos estudos), o trabalho da professora Janaína Amado transcende a simples área de interesse específico para chegar a todos que desejam compreender os fenômenos sociais, especialmente ligado à colonização alemã no Sul. Apresentado como tese de Doutoramento ao Departamento de História da Universidade de São Paulo, o trabalho foi aprovado por uma banca da qual fazia parte a professora Altiva Pilatti Balhana, do departamento de História da Universidade Federal do Paraná. xxx A revolta "mucker" ocorreu entre 1868/1874 em São Leopoldo, a primeira colônia alemã fundada no Rio Grande do Sul, prolongando-se alguns incidentes até 1898. A palavra "mucker era usada como sinônimo de "beato", "fanático" e "santarrão". Assim, os adversários designavam, na época, pejorativamente, os rebeldes. A revolta envolveu imigrantes alemães que se reuniram em torno do curandeiro João Carlos Maurer e de sua mulher Jacobina, inicialmente para obter esclarecimentos e, mais tarde, com fins religiosos: acreditavam-se eleitos por Deus para fundar na Terra uma nove era, e começaram a trabalhar concretamente neste sentido. Perseguidos pelas autoridades locais, foram presos mas libertados por falta de provas condenatórias. Em 1873 registraram-se em São Leopoldo numerosos incidentes, como assassinatos e atentados, sendo os "mucker" considerados seus autores. O clima tornou-se extremamente tenso, com acusações de parte a parte. Em junho de 1874, os adeptos de jacobina promoveram um ataque em massa contra os principais adversários. Foram deslocadas tropas do Exército e da Guarda Nacional para a região, Os rebeldes resistiram a três ataques matando o comandante das tropas legalistas. A 2 de agosto de 1874 a maior parte dos "mucker" foi morta; os restantes foram condenados a penas altas. Os impronunciados mudaram-se para outras colônias onde, anos depois, foram trucidados pela população local. xxx No momento em que a revolta dos Muckers interessa a cineastas - há um filme a respeito em fase de planejamento, inclusive com a participação do cineasta Antonio de Jesus Pfeil, bastante relacionado em Curitiba - o livro da professora Janaína Amado torna-se dos mais oportunos. Pois ela não fica apenas na descrição histórica dos fatos - já abordada em 3 outras obras, mas parte para a interpretação sociológica, analisando o processo de rejeição dos imigrantes alemães, conflitos econômicos e as causas que levaram ao incidente messiânico. Enquanto teses como "A Revolta dos Mucker", aparecem por editoras de outros Estados, no Departamento de História da UFP adormecem dezenas de teses de alto valor, que mereciam também serem editadas, chegando a milhares de leitores. A professora Cecília Maria Westphalen, diretora do Setor de Ciências Humanas, Letras e Artes da UFP, tem quebrado lanças para transformar em realidade a Editora Universitária. Infelizmente, até agora só há planos, e a dispendiosa Imprensa Universitária limita-se a publicar material de expediente ou, vez por outra, livros de valor muito discutível. O professor Ocyrom Cunha, homem que tem mais de 20 anos de experiência editorial, conhecendo como poucos o setor, chegando agora ao cargo de Reitor da UFP, onde deverá permanecer por todo um período, tem a obrigação de quebrar o tabu e mostrar que a UFP também pode ter uma grande e atuante Editora.
Texto de Aramis Millarch, publicado originalmente em:
Estado do Paraná
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23/02/1978
Porque o Clube social mais importante de Sapiranga, centenário, mudou seu nome na década de 60 ou 70 de Sociedade de Canto para Clube 19 de julho ? Tem algo a ver com o Episódio dos Muckers ?
A revolta dos Mucker ocorreu no Morro Ferrabraz em Sapiranga e não em São Leopoldo, como consta no artigo.
O MORRO FERRABRAZ, HOJE SITUA-SE EM SAPIRANGA/RS, MAS NA ÉPOCA DO CONFLITO "JACOBINA", ESTAS TERRAS ERAM DENOMINADAS DE PADRE ETERNO CFE. A HISTORIADORA DÓRIS FERNANDES, DE SAPIRANGA, ESCREVE HOJE NO JORNAL NH, EM EDIÇÃO ESPECIAL PELO ANIVERSÁRIO DA CIDADE DAS ROSAS.

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