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Se Lerner renunciar, Zelia ou Nelly podem chegar a prefeita

A possibilidade do prefeito Jaime Lerner disputar a prefeitura do Rio de Janeiro - em decorrência do domicílio eleitoral ficar reduzido em 100 dias - provocou, naturalmente, um vendaval de boatos e especulações neste período em que os partidos começam a definir seus candidatos. Ontem, pela manhã, um aspecto novo na questão - naturalmente sujeito a múltiplas interpretações - era analisado por vários experts em política: no caso de Lerner renunciar a prefeitura em junho para concorrer à sucessão do prefeito Marcelo Alencar, com todo apoio da máquina brizolista, quem o sucederá na prefeitura? Embora o deputado Algacy Túlio, vice-prefeito e vice-presidente da Assembléia, tenha declarado que cumpriria o mandato até o final, há muitos que acreditam que poderá mudar de idéia, já que dentro do PDT é o único político, de expressão, credibilidade e competência, para disputar um mandato regular de 4 anos. Até há algumas semanas, assessores diretos de Algacy afirmavam que não abriria mão do legítimo direito de concorrer à sucessão de Lerner e no caso de sofrer uma marginalização que viesse a prejudicá-lo na convenção estaria disposto a ingressar em outro partido. Dono de imensa popularidade - por mais de 20 anos de atuação no rádio e jornalismo, bom político e, especialmente, com penetração nas classes populares (ao contrário do politiqueiro Greca de Macedo, cuja rejeição é cada vez maior), Túlio tem todo o direito de aspirar um mandato pleno. Afinal, só graças à sua generosidade, em renunciar a cabeça da chapa do PDT em 1988 é que se tornou possível viabilizar a vitória de Lerner na meteórica "campanha dos 10 dias". Assim, no caso de Túlio sair candidato - seja pelo PDT ou por outro partido (e na política tudo pode acontecer), a prefeitura teria que ser ocupada, de acordo com a legislação pelo presidente em exercício da Câmara Municipal. Acontece que praticamente todos os vereadores estão dispostos a tentar a reeleição e assim também se tornem incompatíveis para ocupar funções executivas. Os membros da comissão executiva - presidente Horácio Rodrigues (PL, em licença para tratamento de saúde), o 1º vice, Mário Celso (PMDB, na presidência até 15 de fevereiro), 2º vice, Rosa Maria Chiamulera (PTB), o 1º secretário João Claudino Derosso (PL), o 2º secretário, Ailton Cardoso Araújo (PMDB) e o 3º secretário, Ademar João Manfrom (PMDB) até o momento não abrem mão de suas condições de candidatos natos à reeleição. Na ordem de sucessão, caberia então ao vereador mais idoso assumir a prefeitura - o que no caso beneficiaria o veterano José Gorski, 58 anos, que, aliás, há 2 anos, numa situação semelhante, chegou a substituir Lerner numa de suas viagens internacionais. Entretanto, embora venha anunciado há anos que pretende deixar a vida pública, Derosso também deve concorrer novamente - já que num trabalho discreto mas eficiente tem eleitorado dos mais fiéis que há 4 legislaturas lhe garante expressivas votações. xxx Surge, então, a possibilidade, de numa recomposição da mesa executiva do Legislativo Municipal - para substituição dos ocupantes que estão impedidos de ocuparem cargos executivos - ascenderem as duas únicas vereadoras que, até o momento, não se dispõem a disputar a reeleição. A professora Zélia Passos (PT), que assumiu como suplente na vaga deixada quando da eleição do deputado Florisvaldo Fier (Dr. Rosinha), apesar da excelente atuação que vem tendo, há meses insiste em se negar a disputar a reeleição. Já Nelly Almeida (PSDB), que em dois mandatos se revelou uma digna e competente vereadora, embora a princípio, tem se mostrado reticente. A perda de seu marido, o estimadíssimo médico e professor Félix Rêgo Almeida, em dezembro último, a atingiu bastante e o fato de um de seus sobrinhos, Marcelo do Rêgo Almeida, 26 anos, filho do empreiteiro Cecílio, estar disposto, a todo custo a disputar uma vaga na Câmara, também pode influir em sua renúncia à vida política. Elegantemente, por razões familiares, Nelly evitou até agora comentar o desejo de seu sobrinho em entrar na política - o que, naturalmente dividirá o seu eleitorado. A conclusão é lógica: tendo ainda um mandato final a cumprir, não estando atualmente na comissão executiva, Nelly - pelo respeito e temperamento equilibrado que a faz uma das presenças mais notáveis na Câmara - poderia, numa procura de consenso, ser eleita pelos seus pares para uma função - talvez mesmo a presidência. São perspectivas longínquas ainda, sujeitas a chuvas e trovoadas, mas na instabilidade política, com mudanças de última hora, afinal tudo pode acontecer e tornam-se válidos prognósticos e exercícios de futurologia. Afinal, Jaime Lerner - atualmente na Alemanha (consta que retorna domingo), com todo o marketing nacional que criou para projetá-lo como o melhor administrador do país, pode optar pela prefeitura do Rio de Janeiro - o que o levaria (se conseguir lá repetir a boa performance administrativa conseguida em Curitiba nesta terceira gestão) à presidência (ou vice) da República, é hoje um coringa que conta muito no jogo eleitoral. Amigos mais íntimos, não escondem que, em conversas muito reservadas, já há 3 anos, Jaime sonhava com a possibilidade de formar uma dobradinha com seu maior guru político, o gaúcho Brizola, para a vice-presidência. Ontem, na Boca Maldita, a indagação era se aproveitando esta sua nova viagem ao Exterior, Lerner retornaria via Estados Unidos, para além de visitar sua filha, Andréa - que mora desde 1986 em Nova York - também ouvir a opinião de seu maior amigo americano, o arquiteto e professor Alan Jacobs, Lerner, após ter transformado Curitiba numa das 3 melhores cidades do mundo, o lugar certo para sua competência seria a prefeitura de Nova York. Pena que o velho imigrante Félix Lerner tenha escolhido Curitiba para viver - e não tendo feito o que milhares de outros judeus-poloneses optaram no início do século: ao invés do Brasil, os Estados Unidos. Se assim fosse, talvez - por que não imaginar isto - um dia Jaime poderia chegar à Casa Branca.
Texto de Aramis Millarch, publicado originalmente em:
Estado do Paraná
Almanaque
Tablóide
07/02/1992

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