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Aramis

Se não dá para ver ao vivo, console-se com as gravações

A cada ano, o conselho consultivo do Free Jazz, do qual fazem parte experts na área como Zuza Homem de Mello (em Cascavel neste fim de semana, integrando o júri do XVII Fercapo), programam criadores da mais alta voltagem, não só entre os já consagrados, como aqueles que estão aparecendo nos últimos anos com propostas novas. Isto explica a presença de um inovador como o saxofonista John Zorn, cujo primeiro elepê aqui lançado há poucos meses (pela WEA), surpreendeu mesmo aos ouvidos mais abertos. Cecil Taylor, uma nova-iorquina de 56 anos, da linha "avantgardie", apesar de estar na estrada desde os anos 60, é ainda desconhecida no Brasil (nenhum de seus álbuns foi editado entre nós), mas há tempos que Zuza, seu admirador, vinha insistindo para que fosse programado, o que acontece este ano, abrindo o festival no Hotel Nacional (Rio de Janeiro), em 22 de agosto - na mesma noite em que John Zorn e o mato-grossense Almir Sater estarão também no palco. Horace Silver, 60 anos, que em 1972 fez uma única apresentação no auditório da Reitoria (com menos da metade da casa com espectadores), volta ao Brasil para o Free Jazz-89, que terá também o quarteto do baterista Max Roach, guitarrista George Benson, Joe Willians, Count Basie Orchestra (a exemplo do que aconteceu com Glenn Miller, seus músicos decidiram manter a formação), John Lee Hooker, John Scofield e Brandford Marsalis, entre as atrações internacionais. Da área nacional, haverá desde o blues de André Cristovan ao virtuosismo dos guitarristas Alemão (que como integrante do conjunto de Breno Sauer, residiu em Curitiba entre 1961/63), e Sebastião Tapajós (em Cascavel, neste fim de semana), os sopros de Mauro Senise e a voz perfeita de Nana Caymmi, esta já na noite de abertura do Free Jazz em São Paulo. Para compensar os milhares de jazzmaníacos que não moram no Eixo Rio-São Paulo ou não dispõe de orçamento extra para, por uma semana, acompanhar o Free Jazz, o melhor das apresentações a serem apresentados na televisão é, em transmissão Nacional, acompanhar os "limelights" do evento. Espera-se que não haja cortes das (boas) atrações nacionais, afora os nomes mais novos que através de uma seleção democrática (Freesom), também foram incluídas para a mostra, como a excelente Aquarela Carioca (que está saindo com seu primeiro elepê independente), ou a surpresa de Flávio Venturini, ex-14 Bis, num festival de jazz, que na etapa carioca terá o guitarrista Victor Biglione e, em São Paulo, dois originalíssimos conjuntos - o Nouvelle Cuisine e o Zonasul. A exemplo do que aconteceu há 12 anos, quando do São Paulo-Montreaux Jazz Festival, o Free Jazz estimula os departamentos internacionais das gravadoras a reforçarem seus suplementos. Se a CBS normalmente já tem mantido bons pacotes em oferta, a EMI/Odeon, que há tempos andava meio paralisada no gênero, lança a coleção "The Best of...", com seis nomes da maior expressão (Dexter Gordon, Herbie Hancock, Lee Morgan, Wayne Shorter, Jimmy Smith e Horace Silver), além de reeditar a "Rarity", 10 volumes que, originalmente, quando Maurício Quadrio (hoje na CBS) dirigia o seu setor internacional, saiu em 1977, com outras capas mas o mesmo conteúdo. A WEA, que sempre teve um bom acervo jazzístico e monstros sagrados do jazz: "Ballads", "A Love Supreme", "Impressions" e "Blues for Coltrane" com o cerebral saxofonista John Coltrane (1926-1967) e cinco álbuns com sessões registradas pelo pianista, band leader e compositor Duke Ellington (1899-1974) entre 1956/70. Some-se a essas edições da maior qualidade, outras produções saindo por etiquetas menores (Imagem, Brasdisc), ou projetos que a CBS, RCA/Polygram ainda não colocaram nas lojas, para se ter uma série de opções das mais estimulantes a quem aprecia o jazz. Sem mesmo precisar ver ao vivo o Free Jazz. LEGENDA FOTO 1 - Pianista Horace Silver, atração do Free Jazz-89, há 17 anos tocou na Reitoria. Para poucos espectadores. LEGENDA FOTO 2 - Joe Willians, marco do jazz vocal, apresenta-se com os músicos da Count Basie Orchestra. LEGENDA FOTO 3 - O Free Jazz estimula edições do melhor jazz, com as séries dedicadas a Duke Ellington e John Coltrane.
Texto de Aramis Millarch, publicado originalmente em:
Estado do Paraná
Almanaque
Tablóide
3
29/03/1989

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