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Serão conhecidos hoje os resultados do FestBrasília

Serão conhecidos hoje os resultados do FestBrasília Brasília Na bolsa de apostas sobre os que sairão hoje à noite, do palco do cine Brasília, carregando o troféu Candango e cheques de premiações que variam de 10.000 a 1.000 BTNs, conforme a categoria, não há favoritos absolutos. Assim como as urnas trouxeram surpresas nas últimas eleições, só dois júris, das bitolas de 35 e 16mm, que se reuniram a partir de segunda-feira, também podem apresentar surpresas. Isto acontece em festivais do Brasil e Exterior e inúmeros aspectos contam para os melhores de uma mostra competitiva, como esta 23ª edição do Festival do Cinema de Brasília. Por ter recebido a Estrela do Mar como melhor filme do IV Festival do Cinema Brasileiro de Natal (16 a 22 de setembro), "Césio 137" não pode levar o Candango - e o cheque de 10 mil BTNs - como melhor filme do júri oficial, já que o regulamento prevê a não premiação na categoria principal dos filmes que tiveram os destaques principais em outros festivais. "Stelinha" de Miguel Faria Jr., e "Arabesques" de Eliana Café, grandes premiados em Gramado, ficaram assim fora de competição - e terão apenas exibições hors concours hoje à noite, antecedendo a festa de entrega dos premiados - como nas noites anteriores com discreta e eficiente atuação do ator e ex-cantor Eduardo Conde, como mestre-de-cerimônias. Mesmo impedido oficialmente de ter a premiação maior do Festival, "Césio 137" não sairá daqui sem novos troféus. Em Natal, conquistou sete: filme, roteiro, atriz (Joana Fomm), ator coadjuvante (Stephen Nercessian), atriz coadjuvante (Denise Milfont), filme e direção do júri da crítica. Ivan Cardoso, lá ganhou o prêmio de melhor direção por "O Escorpião Escarlate", gostosa comédia ambientada nos anos 50, cultuando quadrinhos e programas de rádio - paixões do diretor ("A Múmia", "As Sete Vampiras"). Agora, as coisas podem se inverter: Pires ficar com o Candango de melhor diretor e Ivan o de direção tendo também sua comédia chances junto ao júri popular. "O Beijo 2348/72", comédia com toques chaplinianos que Walter Rogério levou cinco anos para concluir (o que prejudicou seu resultado final), foi bem recebido pelo público na noite de domingo. Nos elencos com nomes conhecidos de "O Escorpião" [...] de atuação - Nelson Xavier, por "Césio 137" também possa ter esta premiação. "Barrela", do estreante Marco Antônio Cury, baseado na peça de Plínio Marcos - numa obra de impacto há 20 anos, proibida pela censura até a redemocratização, mas que chega envelhecida às telas - em Natal teve apenas um prêmio especial a Cláudio Mamberti e, exibido ontem à noite aqui, não está entre os favoritos. Nas premiações paralelas, podem surgir destaques a outros filmes: "Mais Que a Terra", do mineiro Elizeu Ewald, que aborda conflitos Internacional de Cinema, que valoriza filmes com mensagens humanistas e abordagem de temas sociais. "O Círculo de Fogo", de Geraldo de Moraes, gaúcho há 20 anos radicado em Brasília - e que chegou na noite de sábado, vindo de Chicago, onde seu filme abriu um festival (participará também do IV American Filmes Festival, A. F. I, Kennedy Center, Washington, 20/28 de outubro), rodado em Goiânia, no ano passado, com uma história em que mistura misticismo, questões de terras, sexo e violência tem poucas chances de premiação - e seu roteiro complexo impediu uma comunicação maior com o público. Se estivesse na competição de 35mm "Conterrâneos Velhos de Guerra" que o documentarista paraibano (radicado desde 1970 em Brasília) realizou com imagens feitas ao longo de duas décadas, seria o grande vencedor. Uma obra exemplar do cinema documentário, síntese de material com 56 horas no qual trabalhou por dois anos com o montador Eduardo Leone. Exibido na tarde de domingo na sala Alberto Nepomuceno do Teatro Nacional (96 lugares), antecedido de uma nordestina performance ao vivo do ator e bailarino Fábio Coelho, "Conterrâneos..." emocionou a todos pela força de suas imagens - da "outra" Brasília; dos nordestinos que a construíram e, marginalizados, vivem hoje em favelas; denunciando um massacre ocorrido no Carnaval de 1959 nos alojamentos da empreiteira Pacheco, Fernandes & Dantas (que construiu o Palácio da Alvorada, na qual dezenas de operários foram metralhados por terem protestado contra a comida estragada servida, um fato que até hoje não foi admitido na história oficial de Brasília); depoimentos de dezenas de pessoas - de anônimos operários aos arquitetos Oscar Niemeyer e Lúcio Costa, e, especialmente o lúcido senador Pompeu de Souza - tudo faz deste um filme-impacto, que transmite tanta emoção como "Terra para Rose" de Tetê de Moraes (1987) e "Que Bom te ver Viva", de Lúcia Murat (1989) trouxeram em edições passadas. "Conterrâneos" está entre os 11 filmes selecionados para representar o Brasil no próximo Festival de Cinema Livre de Havana e Wladimir quer ampliá-lo para 35mm, pois mesmo com uma metragem acima do normal, é tão forte, vigoroso e atual que, a exemplo de "Césio 137", flui normalmente. Se muitas das mediocridades em curtas (especialmente as realizadas por alunos da Escola de Comunicações de Arte/USP) aqui em competição em 16mm, com 8 ou 14 minutos parecem "durar" uma eternidade na tela, o documentário de quase três horas de Wladimir parece com uma metragem normal. É cinema da melhor qualidade, um documento para a história, um filme que deve ser visto por todos que se interessam em conhecer o outro lado da história oficial. O júri de 35mm (Lionel Luccini, Antônio Abujamra, Eduardo Escorel, Carlos Reichembach, Rodolfo Brandão e Suzana Shild, mais o secretário de cultura do DF, Márcio Cotrin) passará todo o dia de hoje, terça-feira para fazer as premiações nas 13 categorias de longa-metragem e 10 categorias em curtas-metragens. Nesta, há fortes candidatos. O gaúcho "Memória", de Roberto Henkin, a propósito da perda da memória nacional, estabelecer relações entre os discursos autoritários-demagógicos de Jânio Quadros e Fernando Collor e em seus 14 minutos, surge como o primeiro filme de protesto ao Brasil Novo. Há quem lembre "Ilha das Flores", de Jorge Goulart, para comparar a este corajoso e atual curta de Henkin. Outro forte candidato a levar os principais "Candangos" na categoria de curta-metragem, em 35mm é "Festa de Casamento", do também gaúcho Sérgio Silva, 45 anos, com imagens belíssimas de Norberto Lubisco e uma história baseada em fatos ocorridos em sua família, que fazem lembrar a tragédia de "Rodas de Sangue" de Garcia Lorca: no dia de seu casamento, a noiva foge com o amante - que deixa a esposa grávida. Há o confronto final. Admirável reconstituição de época, uma trilha sonora marcante de Léo Henkin, vigor marcante fazem de Sérgio Silva, professor universitário de Porto Alegre, ser considerado uma revelação deste Festival, pois seu longa "Heimweh Nostálgica" 90 minutos, co-dirigido com o crítico Tulio Becker ("Correio do povo"), também é um exemplo do melhor cinema, numa superprodução com 300 intérpretes, reconstituindo a vida de um imigrante alemão entre 1900/64 - candidato forte a levar premiações na categoria 16mm, patrocinado pela Kodak, que oferecerá filmes negativos aos melhores trabalhos em competição.
Texto de Aramis Millarch, publicado originalmente em:
Estado do Paraná
Almanaque
Tablóide
24
16/10/1990

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