Login do usuário

Aramis

Sinatra e Caldas. Dois ótimos discos na praça.

Nunca a falta do cumprimento de uma palavra, de uma promessa foi tão benéfica quando as (in)decisões de Sílvio Caldas e Frank Sinatra, que apesar de anunciarem publicamente suas decisões de "aposentadoria" não resistiram aos chamados de seus milhões de admiradores e voltaram a gravar. Não é heresia musical comparar o Cabocrino querido ao The Voice, muito pelo contrário! Ambos - cada um em seu [país], em seu gênero, tem dignificado a [música] popular, dedicando-se integralmente ao entretrenimento musical - tornando, com suas vozes privilegiadas, o povo mais feliz, embalando romances e trazendo amor & felicidade há tantos e tantas pessoas. Os críticos mais radicais, exigentes, podem torcer o nariz perante os novos [álbuns] de Silvio Caldas (Continental, SLP - 10.157, Outubro/74), e Frank Sinatra ("Some Nice Things I've Missed", Reprise Records/Continental, RLLP-2.045, Outubro/74), colocados simultaneamente no Brasil pela mesma gravadora. Mas, ambos - o seresteiro brasileiro ou o vocalista norte-americano, estão excelentes, seguros, cantando melhor do que nunca. Silvio [Caldas], 66 anos (sujeito a discussões não é Maurício Fisbein?) há alguns meses fez um lp na CBS 104289, lançado em abril/74), mas cujos resultados o desagradaram sobremaneira - além de decepcionar o público. Por isto, o velho seresteiro não teve dúvidas: aceitou o convite da Continental, interessada cada vez mais em melhorar o seu elenco nacional e não deve estar arrependido. Para sua estréia, os produtores Sidney Morais e Julio Nagib deram condições de realização de um disco especial de Esmeraldino e seu regional e mais os suaves arranjos dos maestros Elcio Alvares e Luiz Arruda Paes para o escolhido repertório. Felizmente, ao contrário, do disco anterior, não há nenhuma concessão - como foi a gravação de "À Distância ..." (Roberto/Erasmo Carlos), mas, sim, uma [seleção] de seu extraordinário repertório - um dos maiores da MPB. Assim, Silvio abre o lp com uma [composição] própria - "Beco sem Saída", prosseguindo com um documental samba de Marino Pinto (1914-1965) e Wilson Baptista (1913-1968) - "Largo da Lapa", em homenagem ao mais famoso reduto de Sambistas (e malandros) de um Rio que hoje já não mais existe. "Você Voltou" (Nelson Souto/Antonio Carlos), "Longe dos Olhos (Cristovão de Alencar/Djalma Ferreira) e "Não me Pergunte" (José Maria de Abreu/Jair Amorin) são as faixas seguintes. Para encerrar o lado A, um clássico de Angelino de Oliveira "Tristezas do Jeca". No lado B, entretanto, é que está o repertório que vai entusiasmar mais os seresteiros abrindo com a mui apropriadamente intitulada "Serenata" de Silvio [Caldas]-Orestes Barbosa e seguida de "Minha Casa" (Joubert de Carvalho), "Velho Realejo" (Custódio Mesquita-Sady Cabral), "Deusa da Minha Rua" (Newton Teixeira-Jorge Faraj), "Alucinação" (Newton Teixeira-Macieira Nascimento) e "Não" (Newton Teixeira-Cristovão de Alencar). Sem dúvida, um lp de Silvio Caldas é importante. Ao longo de seus quase 50 anos de vida profissional já gravou em todas as grandes gravadoras - o que faz logo que existam mais de 20 lps em diversos catálogos, das mais diferentes fases - o que é sempre uma oportunidade aos jovens que descobrem a beleza de sua voz e de sua música. Mas, sem dúvida, é importante um registro de um trabalho recente, como este, agora colocado pela Continental nas lojas - e sem dúvida um dos mais importantes discos de MPB do ano. Se alguém tinha dúvidas a propósito da forma vocal de Francis Albert Sinatra, 57 anos, a sua extraordinária atuação no show do Madison Square Garden, Nova Iorque, há três semanas - transmitido ao vivo para o Brasil, pela Rede Globo de Televisão - deve ter sido suficiente para provar que The Voice continua a merecer esta adjetivação. Mas se restaram alguns dúvidas, "Some Nice Things I've Missed", que a Continental lançou na semana passada, aproveitando o impacto deixado pelo espetáculo ao vivo, deve calar mesmo os mais recalcitrantes críticos do notável vocalista. Desnecessário alinhavar elogios ou adjetivos a propósito do felling, da precisão vocal de Sinatra. Se em seu lp de 1973 - [tranqüilamente] [incluído] entre os 10 melhores do ano - lançou novas músicas, em especial de Joe Raposo, agora, nesta produção realizada nos Burban Studios, na [Califórnia], Sinatra prestigia outro jovem compositor - Floyd Huddleston, nas faixas "I'm Gonna Make It All The Way" e "Satisfy Me One More Time". Grato a Bert Kaempfert, autor de um dos seus maiores sucessos dos anos 60 - "Strangers in the Night", Sinatra abre o lp com uma nova composição de Bert Kaempfert (e mais três parceitos Herbert Rehbein, Kim Carnes e Dave Elligson). Como precisasse provar aos jovens (desligados) da geração pop, que na [música] nada se cria, tudo se transforma - e o que é bom permanece - Sinatra incluiu também músicas de compositores consumidos pela chamada nova geração. Assim de Neil Diamond, temos a sensível "Seet Caroline"; de David Gates e o [belíssimo] "If" e de Jim Croce, o Bad, Bad Leroy Brown", além de dar uma nova dimensão ao [conhecidíssimo] "You Are the Sonshine Of My Life?" de Stevie Wonder. De uma nova dupla, Larry Brown/Irwin Levine, e a interessante "Tic a Yellow Ribbon Round The Ole Oak Tree", que encerra o lado A. Mas, para quem curte Michel Legrand, as duas melhores faixas do lp são justamente duas obras-primas do maestro francês com letras do casal Marily/Alan Bergman, temas de dois dos melhores filmes dos últimos anos: "Whate Are You Doing The Rest of Your Life?", do filme "Tempo para Amar... Tempo para Viver" (The Happy Ending, 1968 de Richard Brook) e "The Summer Knows", de "Houve Uma Vez, Um Verão" (The Summer of 42), 71 de Rogert Mulligan. Dois maestros-amigos de Sinatra - Don Costa e Gordon Jenkins, se alternam nos arranjos das 10 faixas, produzida por Costa, Jimmy Bowen ("You Turned My Word Around") e Sonny Burke ("If" e "The Summer Knows"[).] É preciso acrescentar algo mais? Acho que não? xxx Visto com restrições junto aos críticos mais rigorosos durante alguns anos, Martinho da Vila consegue com "Canta, Canta Minha Gente" (RCA Victor, 103,0110, setembro/74) reallizar realmente um lp importante, consolidando um trabalho que já vinha tentando nos últimos dois anos, com uma significativa revalorização de pioneiros esquecidos como João da Baiana ("Batuque na Cozinha") e Donga ("[Raízes]"),. Por certo muito do mérito deste lp deve-se a Rildo Hora, sem dúvida um dos melhores record-man do Brasil e responsável pelos arranjos, [regência] e direção do coro, enquanto a direção musical geral esteve com Henrique Gastaldello. No lado A, Martinho comparece com cinco composições: "Canta Canta, Minha Gente", "disritmia", "Dente por Dente", "Tribos Carajas" e "Renascer das Cinzas", ao lado de um dos mais belos sambas de Freira Junior (Francisco José de Freire Junior, 1881/1956), "Malandrinha" - interpretada com sensibilidade por Martinho. No labo B, na abertura, uma jóia da MPB: "Patrão, Prenda seu Gado", composta por nada menos, que Donga, Pixinguinha e João da Baiana; "Visgo [de Jaca]", de Rildo Hora e Sergio Cabral, é outras das boas faixas do lado B. Adaptando um tema popular - "Festa de Umbanda", Martinho doou os direitos desta faixa aos [órfãos] do Lar de Santa Barbara e São Jorge. E mais [três] novas músicas de Martinho, completam o lp: "Nego, Vem Cantar", "Calango [Vascaíno]" e "Viajando". A contenção da percussão, os destaques aos setores de corda - Rosinha de Valença, Rildo Hora (que executa também gaita de boca), Valdir (banjo), Manoel de Conceição (violão), Mané do Cavaco (cavaquinho), excelentes instrumentistas do setor de sopro - Copinha (flautim), Celso(flauta baixo), Moacir (oboé), Formiga (piston), Zé Bodega (sax-tenor), Manoel Araújo (trombone), Geraldo ([barítono]), Flamarion (baixo/trombone), Toninho (Trompa) - além da inclusão de uma harpa (Maria Célia), um piano elétrico (José Roberto), um acordeon (Chiquinho), e mais uma apurada secção de ritmos, comprovam a seriedade com que este lp foi produzido. Enriquecido ainda com uma belíssima capa e poster criado por Elifas Andreato e uma sentida nota escrita por Ziraldo. Enfim, um importante disco na fonografia de Martinho da Vila.
Texto de Aramis Millarch, publicado originalmente em:
Estado do Paraná
Nenhum
Música Popular
4
27/10/1974

Enviar novo comentário

O conteúdo deste campo é privado não será exibido publicamente.
CAPTCHA
Esta questão é para verificar se você é um humano e para prevenir dos spams automáticos.
Image CAPTCHA
Digite os caracteres que aparecem na imagem.
© 1996-2016. tabloide digital - 35 anos de jornalismo sob a ótica de Aramis Millarch - Todos os direitos reservados.
Desenvolvido por Altermedia.com.br