Login do usuário

Aramis

Sublime Maravilha (I)

"Tonight, tonight The world is full of light With suns and moons all over the place" (Stephen Sondheim) xxx Um balé. Um musical. Um recital. Uma obra-prima: Todas as adjetivações se ajustam a "Amor, Sublime Amor" (Cine Lido, 3 sessões), que revisto 24 anos após sua adaptação para o cinema - e 28 após sua estréia nos palcos do Winter Garden Theatre, na mesma Nova Iorque em que se passa toda a ação, somente cresceu/rejuvenesceu. Raros espetáculos mantém tanta beleza e emoção quanto este musical de Leonard Bernstein, com canções de Stephen Sondheim e libreto de Arthur Laurents. Sua (re)visão traz a mesma empatia que provocava há quase 30 anos e para toda uma nova geração sensível a beleza da dança e música, por certo se constitui num momento especialíssimo. Não temos dúvidas em ver "West Side Story" como o último grande filmusical do cinema americano. Ao ser realizado, em 1961, praticamente encerrou um ciclo que pode ter, historicamente, suas origens no primeiro filmusical falado ("O Cantor de Jazz", 1927, de Alan Crossland) e que alcançou momentos da maior competência nas décadas de 40/50. Depois de "West Side Story", o próprio cinemusical se transformou e nenhuma outra produção - com base ou não em sucesso da Broadway - conseguiu trazer a mesma perfeição na integração dança/canto/drama. Hoje o cinemusical tem uma outra estrutura - mais elétrica, roqueira, que impossibilita comparações/citações e, naturalmente, se destina a uma geração com outro código de informações. Há 3 anos, quando entrevistamos Robert Wise, 71 anos, que co-dirigiu "West Side Story" com Jerome Robbins - coreógrafo e diretor da montagem na Broadway, procuramos esclarecer algumas dúvidas sobre este cult-movie, que cresce a cada vez que se revê. Por exemplo, a abertura com traços sugerindo imagens de Nova Iorque, fixas na tela por alguns segundos em variações cromáticas - antes da grande imagem em quase 180 graus mostrar uma esplêndida visão aérea de Manhattan, foi justificada por Wise "como se fosse a abertura de pano-de-boca do teatro". A experiência cinematográfica de Wise, que ao realizar "West Side Story" já tinha 18 anos de cinema e vários clássicos em sua filmografia, foi perfeita para complementar o esplêndido trabalho coreográfico de Robbins. Os primeiros 20 minutos do filme são de uma perfeição coreográfica jamais igualada pelo cinema e toda ação dramática se encaixa normalmente. xxx A idéia de fazer um musical contemporâneo inspirado em "Romeu e Julieta" foi de Jerome Robbins. Sua intenção original era chamá-la "East Side Story" e contar uma difícil relação entre um judeu e uma católica no Lower East Side nova-iorquino. Um amigo de Robbins, o libretista Arthur Laurents se interessou pelo projeto e lembrou Leonardo Bernstein, então com 31 anos (o ano era de 1949) para criar a música. O projeto entretanto esmoreceu e não foi levado adiante. Cinco anos depois, quando Bernstein estava em Hollywood escrevendo a trilha sonora de "Sindicato de Ladrões" (On the Waterfront, 1954, de Elia Kazan) reencontrou Arthur Laurents na piscina do Berverly Hills Hotel e voltaram a falar do musical. Na ocasião o "Times" havia publicado uma matéria sobre as brigas de ruas entre os porto-riquenhos e os "americanos" (filhos de poloneses, irlandeses, judeus etc.) e idéia de fazer uma colocação destas lutas, como cenário humano de uma estória de amor cresceu. O projeto foi retomado - transpondo as brigas dos Capuletos e Montéquios das ruas de Verona, na tragédia de William Shakespeare, para as ruas do West Side nova-iorquino. A violência dos bairros pobres, a juventude em busca de caminhos e o amor de Tony e Maria, numa criação absolutamente dinâmica e original, mas dentro da linguagem dos espetáculos concebidos para a Broadway. Já consagrado pianista, compositor e maestro, Leonard Bernstein começou a trabalhar nas letras e músicas, mas como na época estava também envolvido com outro musical ("The Wonderfull Town"), decidiu que seria necessário convocar um letrista. Laurents lhe sugeriu então um jovem de 25 anos, Stephen Sondheim, que até então não havia feito nenhum trabalho na Broadway. O casamento musical foi perfeito e, anos depois, Bernstein diria ao seu biógrafo Craig Zadan: "A contribuição de Sondheim foi enorme e a colaboração surgiu perfeitamente". Jerome Robbins, nova-iorquino, então com 36 anos, já tinha uma boa experiência como dançarino e coreógrafo - tendo, em 1946, montado um balé do mesmo Bernstein ("Fac-símile") e feito várias encenações bem sucedidas ("Billion Dollar Baby", "High Button Shoes", "Call Me Madam" etc.). Entretanto, "West Side Story" seria a sua grande oportunidade, por trazer uma proposta diferente: através do musical fazer uma denúncia social. A expectativa era grande e quando o musical estreou a 26 de setembro de 1957, o mais temido crítico americano, Walter Kerr, escreveu no "New York Herald Tribune": "A radioatividade que "West Side Story" fez descer na Broadway é imensa", referindo-se a beleza deste musical contando a trágica história de dois jovens amantes, separados pela estupidez de uma briga de fundo social-racial. E desde então, "West Side Story" não deixou mais de emocionar milhares de pessoas em todo o mundo - e transpondo os limites dos palcos chegar aos retângulos iluminados dos cinemas em sua premiadíssima transposição cinematográfica em 1961, com Natallie Wood, Richard Beymer, Russ Tamblyn, Rita Moreno e George Chakiris. Mas sobre isto falaremos na coluna de amanhã.
Texto de Aramis Millarch, publicado originalmente em:
Estado do Paraná
Almanaque
Tablóide
07/02/1985

Enviar novo comentário

O conteúdo deste campo é privado não será exibido publicamente.
CAPTCHA
Esta questão é para verificar se você é um humano e para prevenir dos spams automáticos.
Image CAPTCHA
Digite os caracteres que aparecem na imagem.
© 1996-2016. tabloide digital - 35 anos de jornalismo sob a ótica de Aramis Millarch - Todos os direitos reservados.
Desenvolvido por Altermedia.com.br