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Aramis

Sucesso de Borghettinho revalorizou o acordeon

Nos quatro painéis do Chamamento Cultural promovidos paralelamente à Seara da Canção, RS, um dos participantes mais ativos foi o acordeonista e compositor Honeyde Bertussí. Com 40 anos de carreira, este gaúcho de São Francisco de Paula (2/2/1923), formou duo com seu irmão, Adelar (S. Francisco de Paula, 15/2/1933) durante muitos anos, gravou mais de 20 LPs e é um dos mais requisitados acordeonistas gaúchos. Sozinho ou com seu grupo, Honeyde é um representante da chamada geração histórica dos acordeonistas da zona serrana. As intervenções de Honeyde Bertussi nos debates sobre colonialismo musical, valorização da música gaúcha e regionalismo foram oportunas e contribuiram para a elaboração do documento "Alerta do Chamamento", que nos próximos dias será entregue ao ministro Aloisio Pimenta, da Cultura. Bertussi é um profissional do acordeon, instrumento que tem mais de 6 mil executantes no Rio Grande do Sul e é dos mais integrados à música gaúcha. Marginalizado e visto preconceituosamente por anos, o acordeon passou a ter um novo status a partir da aceitação pela juventude do jovem Renato Borghetti, 22 anos, que com seu primeiro lp, lançado em 1984, vendeu nada menos do que 160 mil cópias - (foi assim o primeiro instrumento brasileiro a merecer um disco de ouro). Agora, com um segundo disco a caminho das 100 mil cópias (em um mês já vendeu 60 mil exemplares), Borghettinho, com seu estilo próprio - cabelos compridos, escondendo sempre o rosto por timidez - faz com que se voltem as atenções para os acordeonistas gaúchos, desde o Tio Bilia (Antonio de Oliveira), de Santo Ângelo, septuagenário e o mais antigo executante de gaita de ponto - aos virtuoses que têm aparecido em festivais como Gilberto Monteiro, de Santiago, por sinal uma cidade de bons gaiteiros. Tanto é que a figura mais popular da 5ª edição da Seara foi Eurides Nunes, 38 anos, co-autor (com Nilo Brum) de "Baile do Rengo", um contrapasso que ganhou os prêmios de canção mais popular e o troféu da categoria galponeira. O amplo campo da música gaúcha comporta inúmeros estudos - um deles sobre os acordeonistas, analisando-se desde as diversas ramificações do instrumental - de origem italiana na região serrana, e a alemã na pampa fronteiriça a Argentina e Uruguai, seus estilos e escolas diferentes. Instrumento harmônico, de popularidade imensa e indispensável nos bailes, o acordeon veio justamente ter uma revalorização com Borghettinho interpretanto sua gaita de ponto. Lançado por Ayrton do Anjos , produtor fonográfico de visão, Renato viu seu primeiro lp ficar entre os mais vendidos e lhe dar projeção nacional. Agora, em seu segundo disco (Sigla/RBS), Borghetti teve participação especial de Sivuca em duas faixas - " Café com Canela" (Antônio Tamago Ros) e "Encontro" (Borghetti/Sivuca), além de ótimos instrumentistas em todas as faixas, como os violinistas Oscar Soares e Lucio Yanel, e o Bandoneonista Chaloy Jara. O repertório é dinâmico e alegre, com músicas como "La Casa Del Chamame", a "Rancheira Para Don Carlos" (Rafael Walker), "Pialo de Sangue" (Raul Ellwanger) e a homenagem ao veterano Tio Bilia ("Mmissionero"). O próprio Borghetti, que no disco anterior só se arriscou numa faixa como autor, agora mostra seu lado de compositor: além do "Encontro" com Sivuca, são de "Mal Dormido" e "Coisa Nossa", nesta em parceria com o mais premiado flautista gaúcho da nova geração, Pedro Figueiredo. Um disco fascinante, alegre e que, merecidamente, deve valer a Borghettinho seu segundo disco de ouro. xxx Outro exemplo de acordeonista gaúcho é Raulito Barboza vindo de uma família tradicionalmente ligada à música nativista. Tanto é que, como conta Apparicio Silva Rillo, aos 5 anos ele já tocava este instrumento e, na opinião do autor de "Raspo de Tacho", "hoje, sem qualquer favor, é o maior executante do acordeão cromático". Já fez apresentações na europa e Japão (onde permaneceu seis meses) e tem participado de festivais internacionais, com músicas da maior força. Numa cuidadosa produção de Ayrton do Anjos, Raulito Barboza fez um belo disco para o selo Tropical/Polygran, na qual homenageia desde o município de Santa Rosa com sua chimarrita - até chegar a criações em que teve parceiros letristas - e contando nas interpretações com uma das mais belas vozes reveladas no Rio Grande do Sul, o jovem Victor Hugo: "Boliche de Lugareyo" e " Colono Missioneiro". Mas é basicamente como instrumentista que Raulito emociona e faz vibrar neste belo "Sin Fronteras", um dos mais importantes discos de acordeon lançados no Brasil nos últimos tempos.
Texto de Aramis Millarch, publicado originalmente em:
Estado do Paraná
Nenhum
Tablóide
8
08/12/1985

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